Orbán está a construir uma
“democracia não liberal” na Hungria
CLARA BARATA
30/04/2015 - 17:06
A União Europeia não tem
conseguido fazer o primeiro-ministro húngaro arrepiar caminho. Corrupção,
crescimento da extrema-direita e lutas internas no partido talvez o façam.
Há cinco anos que
o primeiro-ministro Viktor Orbán chegou ao poder na Hungria, com uma maioria de
dois terços que lhe permitiu reescrever a Constituição e muitas outras leis,
transformando a paisagem política e social húngara. Diz que podem existir
“democracias não liberais” e é por esse caminho que tem feito seguir o seu
país.
O Fidesz, o
partido de Orbán, chegou ao poder em 2010, um ano depois de o Governo
socialista se ter visto obrigado a pedir um empréstimo ao Fundo Monetário
Internacional (FMI). Se durante a campanha nunca falou em alterar a
Constituição, rapidamente aprovou uma nova Carta Fundamental graças à sua
maioria parlamentar de dois terços, apesar das críticas internacionais, em
especial dos Estados Unidos.
A lista de
atropelos a liberdades fundamentais na União Europeia é extensa. Com a nova
Constituição, que entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2012, e outras leis
associadas, a independência do Banco Central e dos tribunais foi posta em casa,
bem como a dos media, e os sem-abrigo foram ilegalizados. A nova lei eleitoral
reconfigurou os círculos eleitorais de forma a favorecer o Fidesz, só para
citar algumas mudanças.
Em alguns casos,
a Comissão Europeia obrigou Budapeste a fazer alterações, com a ameaça da
interrupção dos fundos estruturais. O FMI também pressionou, sobretudo por
causa da independência do Banco Central. Mas, no geral, as reformas de Orbán
mantiveram-se, impostas pela maioria de dois terços — repetida nas eleições de
2014, graças à nova lei eleitoral, e à fragmentação da oposição. E também a uma
enorme abstenção e desconfiança dos húngaros em relação aos políticos.
A Hungria tem
sido um embaraço para a UE. Em 2013, o eurodeputado português Rui Tavares
elaborou um relatório crítico sobre a Constituição húngara. Não recomendava a
suspensão do direito de voto da Hungria nas instituições europeias ou sanções
económicas. Em vez disso, fez uma série de recomendações sobre como os
organismos europeus devem agir no futuro se um Estado-membro puser em causa a
democracia e o Estado de direito.
A economia
recuperou — o PIB cresceu 3,3% em 2014 e a UE prevê que cresça 2,5% este ano. Mas
o Governo continua ter a um nível de endividamento externo inseguro, lê-se na
análise de Fevereiro sobre a Hungria da Comissão Europeia, que assinala ainda
que a “instabilidade do quadro de regulação” e “a falta de transparência nos
processos de tomada de decisões” afectam
o “clima de negócios”.
Orbán deixou
entretanto de ser tão popular, e tem o partido de extrema-direita Jobbik no seu
encalço: uma sondagem Ipsos de Março dava 21% ao Fidesz, e 18% ao Jobbik . E o
Fidesz perdeu a maioria de três terços, com a conquista de um deputado pelo
Jobbik nas eleições antecipadas de Tapolca, em meados de Abril.
Orbán teve uma
série de tropeções — como a tentativa de impor uma taxa sobre a Internet —,
escândalos de corrupção de empresas e políticos ligados ao seu partido, e a
notícia de que os EUA proibiram a entrada no país de alguns altos responsáveis
húngaros, por suspeitas sérias de corrupção, entre os quais a directora-geral
dos Impostos.
Outro problema
para Orbán foi a zanga com o oligarca Lajos Simicska. Ex-tesoureiro do Fidesz,
controla um império de media que foi fundamental para fazer a propaganda do
Fidesz, primeiro, e depois do Governo. Simicska ameaçou
destruir Orbán.
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