sábado, 30 de maio de 2015

Coches, corporações e má política / LUÍS RAPOSO / Foi você que pediu uma garagem para coches antigos? / António Sérgio Rosa de Carvalho./ Le Corbusier plus facho que fada / Benoît PEETERS


Luís Raposo volta a analisar de forma pertinente o ilustrativo “casus” do Novo Museu dos Coches.
Em nota de rodapé, será também pertinente relembrar que neste momento em França um dos livros mais lidos no que respeita a História da Arquitectura é : “Le Corbusier: Un Fascisme Français”,( Ver em baixo ) onde o autor Xavier de Jarcy, confirma definitivamente através de sólida argumentação histórica, que a disponibilidade de Le Corbusier em servir o Governo de Vichy não era apenas baseada em puro oportunismo mas, em convicção ideológica “Petainista”. ( Aliás tal como Giuseppe Terragni em Itália com Mussolini / A “Casa del Fascio” em Como, está lá para o comprovar e ilustra a ambígua relação entre o Modernismo Vanguardista e o Fascismo nesta época ).
Estes constituirão factos incontestáveis mas difíceis de aceitar para toda a geração de Arquitectos como Nuno Teotónio Pereira ( a que Raposo se refere ).
Mas, aqui trata-se de Le Corbusier como hábil auto-mistificador e criador de a imagem do Arquitecto como Visionário semidivino e Ser Superior que impõe a sua Obra, indiferente aos efeitos e consequências das suas intervenções nos contextos Humanos e Naturais .
Neste sentido, Le Corbusier foi o inventor do Star System na Arquitectura.
verificamos mais uma vez que a Crítica de Arquitectura é inexistente em Portugal e constitui únicamente um simulacro / extensão dos interesses corporativos da Classe / Lobby Arquitecta, que dominam também o Mundo Académico.
A autora que se intitula “crítica de Arquitectura”, produz apenas um panfleto acrítico e mistificador, de descarado apoio.
Isto só comparável à irreponsável apologia da elevação / “pilotis” neo – corbusiana, precisamente, uma das principais características entre outras, que tornam ( além da grave irresponsabilidade financeira e vazio museológico ) este elefante branco num atentado descontextualizado da envolvente e um insulto ao Povo Português na presente crise.
O lema deste projecto poderá ser reduzido à máxima formulada por Rem Koolhaas, outro
demiurgo do Star System, que num momento de suprema arrogância, abertamente afirmou : “FUCK the CONTEXT” ou seja “Que se lixe o Contexto”
Volto a publicar um artigo da minha autoria já publicado a 27/08/2011 no Público.: “ Foi você que pediu uma garagem para coches antigos?”/ http://www.publico.pt/local-lisboa/jornal/foi-voce-que-pediu-uma-garagem-para-coches-antigos-22022842
António Sérgio Rosa de Carvalho
Historiador de Arquitectura
30-5-2015 / OVOODOCORVO

Coches, corporações e má política
LUÍS RAPOSO 30/05/2015 - PÚBLICO

O novo Museu dos Coches aí está, celebrado por cortesãos, um pouco à laia de órfão enjeitado.

“Decididamente, nesta cidade embalada em lendas, tudo é fábula de museu.” José Cardoso Pires, A República dos Corvos.

Consummatum est. O novo Museu dos Coches aí está, celebrado por cortesãos, um pouco à laia de órfão enjeitado, num ambiente de lenda ou fábula que faria as delícias de um qualquer corvo taberneiro, segundo a narrativa em que José Cardoso Pires dá conta de alguma da mais castiça atmosfera lisboeta. Raquel Henriques da Silva (R.H.S.), em oportuno texto de opinião neste jornal no dia mesmo da inauguração (22.5.2015), disse praticamente tudo o que importava assinalar naquela data. Observou nomeadamente como nesta ocorrência se junta o pior da política com o pior das corporações, sobrelevando aqui a dos arquitectos, sempre dispostos a usar metáforas eloquentes, a falar em construção de cidade e cidadania, mas afinal sobretudo precisados de clientes e por isso solícitos de todos os poderes. Nem todos os arquitectos, é certo, mas neste caso alguns dos mais celebrados pelo centrão dos interesses, incluindo responsáveis da respectiva Ordem profissional, pelo menos na fase inicial do processo.

A publicação de um livro um tanto emproado, juntando arquitectos e políticos de turno, sem esquecer o empreiteiro da obra, confirma o universo ficcional em que tudo se move neste processo (cf. Museu Nacional dos Coches. Lugar, projeto e obra, ed. Uzina Books). Não se comete aqui o erro de encher quase uma centena e meia de páginas com fotografias mais ou menos impactantes, belas por vezes, mas dedicadas apenas a formas exteriores e espaços interiores vazios — como acontece regularmente em revistas prestigiadas (cf. Arquitectura Ibérica, n.º 31, que consagra um extenso dossiê temático aos museus… sem incluir uma única imagem de espaços preenchidos por colecções). Não, aqui faz-se algum uso de coches e até de quem lhes confere cuidados de última hora — cosméticos apenas, claro, porque o estado de conservação deplorável de parte importante da colecção, esse bem pode ficar à espera… Mas, percorridos textos e imagens, o que mais ressalta é essa sensação profunda de que o conteúdo possui dimensão meramente decorativa e, no fundo, se mantém a estranha esquizofrenia de uma arquitectura que se compraz em evidenciar volumes, procurando depois justificações funcionais pseudo-elegantes… Na ocorrência, a ideia genial de que a frieza da garagem dialoga com as colecções… pela ausência de diálogo, ou seja, pela invocação do contraste — o que é particularmente sublinhado pela falta de projecto de comunicação, senão de projecto de museografia (de facto, a directora esteve quase que ausente de todo este enredo e quando surgiu foi para assinalar que também tinha sido mobilizada para ajudar a cobrar bilhetes… cf. Diário de Notícias de 24.5.2015, sob o título Lindíssimo mamarracho. O Museu dos Coches já abriu).

O foco posto anteriormente na corporação dos arquitectos não deve confundir-se nem com o apreço pelo ofício, nem muito menos com a admiração por muitos dos seus oficiais. Como em todas as profissões, existem pessoas que não apenas falam muito de, como efectivamente praticam a cidadania. Foi o caso de Nuno Teotónio Pereira, que desde a primeira hora se juntou aos opositores da opção política da construção de um novo Museu dos Coches e, até, aos que denunciaram o processo de convite sem concurso publico e criticaram o projecto adoptado. Não nos deixemos, pois, submergir em guerras corporativas intestinas, perpetuando relações de amor-ódio que, todavia, sempre existiram e existirão, podendo ser saudáveis, se assumidas às claras.

Não, o cerne da questão não está no projecto de arquitectura. Está em tudo o que o precedeu, acompanhou e continuará depois da sua consumação. R.H.S. contribuiu no seu texto com mais alguns dados sobre esta autêntica saga, esclarecendo como se passou da ideia da ocupação do espaço pela Escola da Arte Equestre, com pequena extensão do Museu dos Coches, para a avassalante situação actual. Depois foi uma sucessão de autismos, e mesmo autoritarismos, por parte de políticos seduzidos pelos fumos dos capitais europeus e sedentos de grandes obras públicas — daquelas de que ninguém sentia a falta, a começar, no caso vertente, pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa e actual líder do Partido Socialista. Começou por dar-se de barato a inevitabilidade da destruição das preexistências do local, onde, em respeito da história, chegou a ser proposta a instalação de uma secção de viaturas mecanizadas da antiga Casa Real, gerida pelo Museu dos Coches, ocupando o restante espaço com uma nova centralidade de movida da arte urbana lisboeta. Ao longo de anos, não se atendeu ao grito unânime e imenso de associações e especialistas que disseram e dizem existirem outras prioridades na política museológica nacional. E haver, mesmo em Belém, outras necessidades, como as da gestão integrada e proactiva do riquíssimo parque patrimonial da zona ou, querendo fazer-se obra nova, a criação do Museu da Viagem (bem diferente de Museu dos Descobrimentos, sublinhe-se), que faz realmente falta. A tudo os políticos de turno fizeram orelhas moucas e agora têm, e temos todos, um verdadeiro elefante branco entre os braços. Mais de 3 milhões de euros anuais para manter portas abertas (ou 2,7 milhões como com curioso alívio pretende o actual secretário de Estado da Cultura), numa situação em que não surpreenderia continuar a haver mais visitantes às velhas instalações, porque em mais de 4/5 são turistas, orientados pelo critério da visita rápida em espaços encantatórios.

Poder-se-ia dizer, como com sentido de humor observou Marcelo Rebelo de Sousa num dos seus habituais comentários semanais, que tudo neste processo é exemplar de como em Portugal se geram projectos que reúnem o centrão político (desde Cavaco Silva primeiro-ministro até Cavaco Silva Presidente da República, com intenso contributo de José Sócrates pelo meio), sem que verdadeiramente ninguém lhes sinta a falta. Ninguém, não. Prova disso foi o interessante texto de opinião de Luís Patrão, secretário nacional do PS e companheiro de estrada de José Sócrates desde a juventude na Covilhã, que no rescaldo da inauguração saudava efusivamente este novo museu (PÚBLICO, 24.5.2015) e afirmava ser a oposição ao mesmo fruto de uma “ideologia da modéstia”. Ora, como foi observado em redes sociais dos museus, qualquer procura em dicionário revelará qual o contrário de modéstia: pretensão, pavonada, opulência, impostura, inchação, pomposidade, aparato, extravagância, excesso, indecência, imoralidade, desfaçatez, impudicícia, etc. Será esta a ideologia favorecida por Luís Patrão, mesmo depois de tudo o que hoje se sabe sobre o consulado socratista?

Enfim, tal como R.H.S., nós próprios já tínhamos em Janeiro antecipado os contornos eleitoralistas desta inauguração (cf. PÚBLICO, 23.1.2015) e tudo leva a crer que novos episódios sucederão nos próximos tempos, alguns já antecipados pelo actual secretário de Estado da Cultura, ao reduzir seraficamente a “somente” cerca de 500 mil euros o custo efectivo do novo museu, assim retirando premência à proposta salvífica que sabe estar a ser preparada para os lados do CCB. Relativizemos, pois, estes fogachos e aguardemos pelo novo ciclo político. Até lá, continuaremos a viver virtualmente por mais algum tempo. Para já e em latim, tal como começámos, é caso para dizer ite, missa est.


Arqueólogo


Foi você que pediu uma garagem para coches antigos?
A Opinião de António Sérgio Rosa de Carvalho.
27/08/2011 in Público.


Belém, espaço simbólico da lusitanidade, é caracterizado de forma única pela luminosidade do Tejo-Oceano, pelo tom pastel do seu edificado vernáculo e erudito e pelo simbolismo da sua vegetação arquetipamente mediterrânica.
Este espaço de identidade foi criado por várias gerações, num processo acumulativo, baseado num consenso de leitura, apreciação e reconhecimento da sua importância. Na Praça Afonso de Albuquerque, a elegância apropriada do estilo "Seize" do Picadeiro Real e a erudição neoclássica dos seus interiores constituem o contexto perfeito para a apreciação da internacionalmente reconhecida colecção de coches.
O êxito do museu ilustra um produto cultural consolidado, com desafios de conservação, mas perfeito no seu conjunto.
Num processo apressado, sem concurso público, decidido por um ministro pouco económico (mais do que três dezenas de milhões) determinado a deixar marca de regime através da afirmação pelo contraste e ruptura, este projecto deixa-nos preocupados.
Acima de tudo porque é um símbolo de um despesismo inconsciente e irresponsável, destruidor de um equilíbrio perfeito já existente e criador de novas despesas num futuro muito incerto de penúria e crise no universo do património cultural e museus.
Além disso, ao o compararmos na mesma zona com o Centro Cultural de Belém, concluimos que o projecto do mesmo revelava preocupações de contextualização arquitectónica com a envolvente, esta já determinada na Exposição do Mundo Português em 1940. Volumetrias sintonizadas com a massa dos Jerónimos, jardins suspensos para usufruto tanto do horizonte natural como simbólico, contextualização cuidada dos materiais, linguagem arquitectónica intemporal, monumentalidade apropriada à gravitas e "tectónica" da zona. Além disso, apresentava um programa de funções e de apropriação do espaço de usufruto quotidiano muito claro na sua relação com a arquitectura.
Ora o novo Museu dos Coches, apesar das suas promessas de valorização urbana e pretendidas garantias de vivência turística (elevação do solo); apesar da sua pretensão de monumentalidade minimalista, capaz de valorizar através da imensidão abstracta e branca a exposição de objectos de "ourivesaria" movíveis (coches), deixa-nos muito apreensivos. Porque, apesar de todos os argumentos, é um projecto formalista, dirigido fundamentalmente à forma e estilo do objecto arquitectónico, ao qual a função tem que se adaptar, afirmando-se este objecto pela ruptura, tanto em forma como em materiais.
Enfim, receita apropriada e aliciante para políticos que desejam deixar marca dinástica de regime, mas altamente preocupante quando falamos do Genius Loci de Belém e das suas características cuidadosamente consolidadas.
O projecto lembra-nos um modelo de garagem com rampas, saído de uma miniatura do nosso quarto de brincadeiras, ou um espaço caricatural de um filme de Jacques Tati.
A imensidão branca e clínica dos seus espaços interiores (salas ou hangares [?] com 130 metros por 20 e oito de altura) vai obrigar ao restauro exaustivo de todos os objectos, expostos agora a um escrutínio detalhado e implacável. Os seus espaços ("praça" e rampas) exteriores correm o risco de confirmarem a sua vocação de "garagem", ou no place vazio, inóspito e sujeito às correntes de ar - enquanto a elegância perfeita e erudita do picadeiro fica condenada à subavaliação e subutilização.
Um projecto desnecessário, como até António Costa reconheceu publicamente. No entanto, a Associação de Arquitectos, tal como no Largo do Rato, veio apoiar publicamente com 200 assinaturas este projecto, apesar de ausência de qualquer concurso.
Continua a ser a associação, tal como os seus estatutos o afirmam, uma instituição de utilidade pública, ou transformou-se descaradamente num clube de interesses corporativos?

Historiador de Arquitectura

Le Corbusier plus facho que fada
Benoît PEETERS / 18 mars 2015 / LIBÉRATION / LIVRES

Cinquante ans après la mort de l’architecte, deux ouvrages évoquent son compagnonnage avec le fascisme.
Les spécialistes le savaient, même s’ils tentaient parfois de le minimiser : la guerre de Le Corbusier n’avait pas été exemplaire. Cinquante ans après sa disparition, voici que les informations sur son parcours politique se multiplient. Les deux livres publiés ces jours-ci, Un Corbusier, de François Chaslin, et Le Corbusier, un fascisme français, de Xavier de Jarcy révèlent l’ampleur de sa part d’ombre.
L’homme de la Cité radieuse avait été l’un des modèles d’Eugen Robick, l’«urbatecte» de la Fièvre d’Urbicande, l’un de mes premiers albums avec François Schuiten. Dès cette époque, j’avais peu de sympathie pour le doctrinaire. Mais je n’imaginais pas l’ampleur de ses engagements et de ses compromissions. La tentation fasciste ne fut pas pour Le Corbusier une simple marque d’opportunisme : ses relations avec les idéologues de la droite nationaliste ont duré des décennies et marqué en profondeur sa pensée urbanistique. On pourrait dire que Le Corbusier fut à l’architecture ce que Martin Heidegger, son contemporain presque exact, fut à la philosophie : un géant fourvoyé.
Mépris. Né en Suisse, à la Chaux-de-Fonds, le 6 octobre 1887, il s’installe à Paris dès 1917, rêvant de jouer un rôle actif dans la reconstruction. Il devra attendre une guerre de plus. En attendant, il bâtit quelques remarquables villas, tout en multipliant les projets radicaux. L’Esprit nouveau qu’il promeut n’est pas loin de l’Ordre nouveau. Le Dr Pierre Winter, leader du Parti fasciste révolutionnaire, l’avocat Philippe Lamour, rédacteur en chef de la revue Plans, et l’ingénieur François de Pierrefeu, passionné d’occultisme, sont ses amis les plus proches. Tous appartiennent à la frange la plus dure de la droite française, celle qui descend dans les rues de Paris le 6 février 1934. Un jour qui, selon Le Corbusier, marque «le réveil de la propreté».
Classement, hiérarchie, dignité sont pour lui les valeurs suprêmes. Inspirées par les vues aériennes, les perspectives qu’il trace réduisent les hommes à des silhouettes interchangeables. Champion de l’ordre, il affirme que «l’animal humain est comme l’abeille, un constructeur de cellules géométriques». La standardisation qu’il prône a d’abord une valeur morale, que vient souligner l’emploi systématique du blanc : «On fait propre chez soi. Puis on fait propre en soi.»
Le Corbusier cache d’autant moins son mépris de la démocratie parlementaire qu’elle ne donne aucune suite à ses projets. Et c’est donc aux régimes autoritaires qu’il propose ses services : eux seuls pourraient agir à l’échelle qu’il souhaite. Mais Staline ne veut pas de lui à Moscou. Et Mussolini ne répond pas à ses appels. L’architecte, pourtant, ne ménage pas ses éloges : «Le spectacle offert actuellement par l’Italie, l’état de ses capacités spirituelles, annonce l’aube imminente de l’esprit moderne.»
Impétuosités. Le pire est à venir. La débâcle de juin 1940 apparaît à Le Corbusier comme «la miraculeuse victoire française. Si nous avions vaincu par les armes, la pourriture triomphait, plus rien de propre n’aurait jamais plus pu prétendre à vivre», écrit-il à sa mère. Quelques semaines plus tard, il se réjouit du grand «nettoyage» qui se prépare : «L’argent, les Juifs (en partie responsables), la franc-maçonnerie, tout subira la loi juste. Ces forteresses honteuses seront démantelées. Elles dominaient tout.» Le ton de certaines lettres est plus nauséabond encore : «Nous sommes entre les mains d’un vainqueur et son attitude pourrait être écrasante. Si le marché est sincère, Hitler peut couronner sa vie par une œuvre grandiose : l’aménagement de l’Europe.»
L’architecte se persuade que son heure est venue. «Il s’est fait un vrai miracle avec Pétain. Tout aurait pu s’écrouler, s’anéantir dans l’anarchie. Tout est sauvé et l’action est dans le pays.» Cela fait tant d’années qu’il voudrait construire autre chose que de belles villas, tant d’années qu’il rêve de villes édifiées ex nihilo. Alors, pourquoi ne pas faire confiance au Maréchal, même si rien dans le parcours du vieil homme ne le prédispose à accueillir ses impétuosités modernistes ?
Le Corbusier rejoint Vichy dès la fin de l’an 40. Bientôt nommé conseiller pour l’urbanisme auprès du gouvernement, il dispose d’un bureau à l’hôtel Carlton et commence à écrire l’Urbanisme de la Révolution nationale. Le 27 mars 1941, il rencontre Pétain, «celui qui a les pleins pouvoirs pour mettre en œuvre le domaine bâti de la France». Les publications se multiplient : Sur les quatre routes, Destin de Paris, la Maison des hommes et la Charte d’Athènes. Malgré les nombreuses relations que Le Corbusier compte à Vichy, les choses ne tardent pas à s’enliser. En juin 1942, son plan d’urbanisme pour Alger est rejeté. Début juillet, il fait ses adieux «au cher merdeux Vichy». Rentré à Paris, il devient conseiller technique à la fondation du docteur Alexis Carrel, le théoricien de l’eugénisme. Il n’en démissionne que le 20 avril 1944, «l’esprit régnant là ne me convenant pas», découvre-t-il soudain.
Amnésie. Après la guerre, la reconversion est instantanée : «La page tourne et il faut se décider à l’admettre !» Il n’est même pas question d’amnistie, mais d’une pure et simple amnésie. Le Corbusier toilette habilement sa biographie. Non content de gommer les traces de son long séjour à Vichy, il se fait passer pour une victime des pétainistes. Mais il restera fidèle jusqu’au bout à quelques-unes de ses amitiés les plus douteuses, et ne reviendra ni sur son taylorisme ni sur son mépris des «populations parasitaires» et des «habitants stériles».
Soutenu par Claudius-Petit, ministre de la Reconstruction et de l’Urbanisme, admiré par Malraux qui voit en lui le plus grand architecte du siècle, Le Corbusier peut enfin construire les tours et les barres qu’il dessine depuis les années 20. Le fasciste d’hier est désormais le «fada», tandis que la Charte d’Athènes devient la bible des urbanistes. Le mythe Le Corbusier se solidifie. Le 1er septembre 1965, quelques jours après sa noyade à Roquebrune, Malraux salue son «vieux maître» et son «vieil ami», faisant du bâtisseur de la Cité radieuse l’une des incarnations de la France gaulliste…
S’ils se recoupent sur bien des points, les deux livres qui paraissent aujourd’hui procèdent de manière très différente. Nombreux documents à l’appui, Xavier de Jarcy instruit avec rigueur le procès d’un «personnage aux rêves totalitaires, au cynisme en béton armé». Dans son ample Un Corbusier, débordant d’informations mais quelque peu chaotique, François Chaslin propose de son côté un portrait sans complaisance, doublé d’une évocation mélancolique du destin des Cités radieuses.
On ne pourra plus passer sous silence les engagements de Le Corbusier. On débaptisera sans doute quelques rues, on effacera son image de quelques billets de banque. Mais on n’est pas près d’en finir avec lui.
Paraît également «Le Corbusier, une froide vision du monde», de Marc Perelman (Michalon, 256 pp., 19 €).

Benoît PEETERS
François Chaslin Un Corbusier Seuil, 524 pp., 24 €.
Xavier de Jarcy Le Corbusier, un fascisme français Albin Michel, 288 pp., 20 € (en librairie le 9 avril).

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