terça-feira, 5 de maio de 2015

Abate de árvores no Jardim Cesário Verde em Lisboa motiva protestos

No jardim, foram sinalizados cinco lódãos para abate e mais 16 para poda

Abate de árvores no Jardim Cesário Verde em Lisboa motiva protestos

Presidente da junta garante que árvores “doentes” vão ser substituídas e lembra que este ano já plantou 70 novas árvores

Marisa Soares / 5-5-2015 / PÚBLICO

As operações de desbaste, limpeza e abate de lódãos no Jardim Cesário Verde, em Lisboa, iniciadas na semana passada a pedido da Junta de Freguesia de Arroios, estão a motivar protestos. Alguns moradores e outros cidadãos contestam sobretudo o abate “inesperado” de cinco árvores e criticam a adjudicação destas intervenções à mesma empresa que fez a avaliação do estado fitossanitário.
A junta presidida por Margarida Martins, eleita pelo PS, adjudicou por 25 mil euros (mais IVA) à empresa Sequóia Verde a prestação de serviços de arboricultura. A empresa ficou responsável pela análise do estado fitossanitário das árvores nas ruas e jardins da freguesia e, segundo a autarquia, num universo de 452 exemplares já inspeccionados, foram detectados 43 com “defeitos considerados críticos”, como podridão ou instabilidade das copas, apontando o abate como única solução.
Só no Jardim Cesário Verde, na Estefânia, foram identificados cinco lódãos para abate e mais 16 para poda e limpeza. As operações começaram na semana passada para surpresa de alguns moradores e de outros cidadãos indignados com o processo. “É obrigatório avisar a população 15 dias antes e explicar os motivos da intervenção, mas não foi colocado nenhum aviso sobre o abate”, garante Luís Marques da Silva, morador na zona e membro do Fórum Cidadania Lisboa.
“Os moradores acreditam que há interesses económicos por detrás”, acrescenta António Pinto Soares, da Associação Lisboa Verde, que pediu a suspensão dos trabalhos e esteve ontem no jardim a tentar parar os últimos dois abates programados. Os contestatários têm “dúvidas” sobre o rigor da avaliação feita pelos técnicos da Sequóia Verde, uma vez que esta é a mesma empresa encarregada do tratamento e abate das árvores.
Além disso, Luís Marques da Silva lembra que no jardim existe uma árvore classificada, um cedro-de-atlas, para a qual está definido um perímetro de protecção de 50 metros. “Estive a medir, e todas as árvores abatidas estão a menos do que 50 metros. Estarão a ser cumpridos todos os procedimentos de segurança?”, questiona.
A presidente da junta refuta todas as críticas. Margarida Martins garante que foram colocados cartazes antecipadamente e que a empresa contratada é “idónea”. “Já tivemos árvores a cair sobre carros, não estamos a fazer isto de ânimo leve”, argumenta, sublinhando que o relatório da inspecção ao arvoredo está acessível no site da junta e que mesmo as árvores com “copas frondosas e vigorosas” escondem por vezes “riscos de ruptura elevados”.
A autarquia esclarece, num comunicado, que a empresa aplicou o “Protocolo VTA ( Visual Tree Assessment)”, para avaliar o estado das árvores, e usou o “método Risk Rating System2” para determinar a “probabilidade e gravidade de um eventual acidente” causado pela queda total ou parcial.
Sublinhando que “nenhuma das árvores abatidas é centenária”, Margarida Martins garante que o objectivo é substituir os lódãos “doentes” por novos exemplares, a cargo da junta. “Plantámos 70 árvores novas nos primeiros três meses deste ano e temos estado a podar e a requalificar os jardins”, afirma, dando como exemplo o jardim da Praça José Fontana e o do Campo dos Mártires da Pátria, onde nos últimos meses caíram três árvores apodrecidas.
Para Teresa Sampaio e para a Associação Lisboa Verde, o problema está a montante, na reorganização administrativa de Lisboa, que transferiu para as freguesias a manutenção da maioria dos espaços verdes. Esta tarefa “deve ser estruturante, ou seja, deve haver uma orientação única a decidir o que é melhor para a cidade”, defende a associação.


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