Câmara
de Lisboa embargou obras ilegais na pastelaria Mexicana
JOSÉ ANTÓNIO
CEREJO 15/05/2015 - PÚBLICO
Autarquia
diz que o licenciamento municipal das obras não foi requerido pelo
proprietário. A lei exige essa licença por se tratar de um
Monumento de Interesse Público.
Os trabalhos que
desde há algumas semanas estavam em curso no interior da conhecida
pastelaria Mexicana, na Av. Guerra Junqueiro, junto à Praça de
Londres, foram interrompidos esta quinta-feira por falta de
licenciamento municipal.
De acordo com uma
resposta escrita da Câmara de Lisboa ao PÚBLICO “não existe [nos
seus serviços] registo de processo de licenciamento”. O embargo
dos trabalhos, explica a autarquia, deve-se ao facto de a intervenção
carecer de licenciamento, uma vez que “a Pastelaria Mexicana está
classificada como Monumento de Interesse Público”.
O estabelecimento,
cujo processo de classificação patrimonial tinha sido iniciado em
1994, foi declarado Monumento de Interesse Público em Abril do ano
passado por despacho do secretário de Estado da Cultura. Inaugurado
em 1946, o espaço foi remodelado no início dos anos 60, de acordo
com um projecto do arquitecto modernista Jorge Ribeiro Ferreira
Chaves. Nos termos do despacho de classificação trata-se de “um
notável testemunho das tendências expressionistas do movimento da
arquitectura moderna em Portugal”.
A classificação
incide sobre o “património integrado” da pastelaria, com
destaque para um painel cerâmico intitulado Sol Mexicano, da autoria
de Querubim Lapa. Segundo a Secretaria de Estado da Cultura, os
interiores do imóvel são marcados pela “fluidez da modulação
espacial e pela coerência estética que resultam do nivelamento dos
pisos, do tratamento das paredes, dos elementos decorativos e do
sistema de iluminação de origem”.
Nesta sexta-feira à
tarde, através de um ou outro espaço deixado livre entre as folhas
de papel que tapam a montra, o que se via era uma parede de tijolo
acabada de construir e não rebocada à entrada da sala principal, um
troço de parede em tosco, do qual tinha sido arrancado o
revestimento original, uma betoneira e ferramentas encostadas às
paredes. No chão havia pilhas de tijolos novos, caixas de azulejos
fechadas, sacos de cimento, um monte de areia e outros materiais de
construção.
De acordo com alguns
vizinhos, as obras foram interrompidas na quinta-feira depois de ali
terem estado agentes da Polícia Municipal.
No início desta
semana, em resposta ao Diário de Notícias, o actual proprietário
da Mexicana, também dono da pastelaria Carcassone, na Av. da Igreja,
havia afirmado que as obras tinham tido luz verde da Direcção-Geral
do Património Cultural (DGPC). “Não era possível iniciar
qualquer obra sem a aprovação desse organismo”, salientou.
Questionada pelo PÚBLICO na terça-feira sobre a existência dessa
alegada autorização, a DGCP ainda não respondeu.
O PÚBLICO tentou
falar com Rogério Pereira, o gerente da Carcassone, mas não foi
possível estabelecer o contacto.
Notícia corrigida
às 19h32 depois da a Câmara informar que tinha sido ela própria a
embargar as obras
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