sábado, 16 de maio de 2015

Farage já não consegue calar críticos que o querem afastar da liderança do Ukip


Farage já não consegue calar críticos que o querem afastar da liderança do Ukip
RITA SIZA 16/05/2015 - PÚBLICO

Ambiente de divisão e hostilidade no partido eurocéptico britânico. Sob pressão, líder do partido exige lealdade e promete expulsar quem falar nas suas costas.

Numa medida drástica para pôr fim às críticas internas e reafirmar a sua autoridade, Nigel Farage, o líder do Partido da Independência do Reino Unido (Ukip) que voltou atrás com a sua demissão por causa dos maus resultados nas eleições legislativas, afastou o gestor da campanha e porta-voz para as questões económicas, Patrick O’Flynn, que o descreveu como “um resmungão, susceptível e agressivo” – e prometeu fazer o mesmo aos restantes dirigentes que não lhe jurarem a sua lealdade. “Quem quer que seja apanhado a falar pelas minhas costas será expulso”, avisou.

Isto depois de uma semana em que foi duramente atacado pela forma “autocrática” como dirige o partido. A desilusão com a prestação eleitoral do Ukip, que recolheu quatro milhões de votos mas só elegeu um deputado, levou vários críticos a atribuir a culpa à “mensagem negativa” e ao “tom furioso” de Farage. As vicissitudes da campanha e a própria personalidade do líder contribuem para alimentar o ambiente de hostilidade, divisão e contestação, com uma sucessão de notícias a dar conta de uma suposta guerra interna e surda – este sábado, o Financial Times repetia que “alguns membros exigem um referendo à presidência de Nigel Farage”, sem os nomear.

“Alguém no Ukip anda a agitar”, reconheceu o próprio, dando cobertura à tese de “golpe” em curso contra a sua liderança veiculada pelos jornais. Instado a identificar o “agitador” e seu suposto adversário, manteve o tom conspiratório: “Seja lá quem for, ou tem a coragem de sair dos bastidores, ou pára com a brincadeira”.

Para a imprensa britânica, Farage refere-se a Douglas Carswell, o único membro do Ukip eleito para a Câmara dos Comuns, que num artigo publicado no Times defendeu que o partido precisava de “reflectir cuidadosamente sobre o futuro” e que “Nigel precisava de fazer um intervalo”. No seu texto, Carswell criticou alguns “comentários infelizes” do líder, mas também confessou a sua “admiração” por Farage. E num parágrafo em que se excluía da suposta luta pela liderança, explicava que “seria impossível ser simultaneamente o líder do partido, a sua única voz no parlamento, o representante dos constituintes de Clacton, pai e marido, tudo ao mesmo tempo”.

Além de Carswell, o único a defender publicamente a substituição de Nigel Farage foi Patrick O’Flynn, o ex-jornalista do tablóide Daily Express que entrou na política e é um dos deputados europeus eleitos pelo Ukip. Na sua opinião, o partido perdeu com a progressiva transformação de Nigel Farage, outrora um homem “alegre, empolgante e atrevido”, num político niquento, desagradável e impertinente, que trata o Ukip como uma “monarquia absoluta” ou um “culto da personalidade”.

As críticas valeram-lhe a imediata retirada de confiança política. Segundo fontes do partido, a página do Ukip, e a caixa do correio electrónico, foram inundadas de mensagens que exigiam “a mais forte acção disciplinar possível” contra o “golpista”, e Farage não se fez rogado. Mas além de afastar Patrick O’Flynn, também demitiu dois dos seus colaboradores mais próximos, que tinham sido visados nas suas críticas: Matthew Richardson, um advogado que servia de conselheiro político, e o chefe de gabinete Raheem Kassam, que não encarou muito bem a destituição. “Se o Patrick O’Flynn acha que a táctica foi demasiado agressiva, ele que se prepare”, alertou.


A próxima “vítima” da operação de limpeza poderá ser Suzanne Evans, a vice-presidente do partido que foi a autora do manifesto eleitoral, especulava o Telegraph, que também revelou que afinal Nigel Farage nunca terá chegado a formalizar a sua demissão por carta, depois de ter confirmado em conferência de imprensa que abandonaria a liderança do Ukip. Durante a campanha, o presidente do partido prometeu sair se não fosse eleito para o parlamento. Mas acabou por reconsiderar a sua decisão, e aceitar um pedido do comité executivo do partido para permanecer no cargo.

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