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António Costa, o sms e os
jornalistas
JOÃO MIGUEL
TAVARES 07/05/2015 - público
Chegámos a um ponto em que
demasiados jornalistas recebem demasiados sms, e em que a proximidade excessiva
às fontes compromete ambas as partes.
João Vieira
Pereira escreveu no Expresso de dia 25 de Abril um artigo crítico sobre o
relatório Uma Década para Portugal, patrocinado pelo PS, onde acusava os
socialistas de “falta de coragem” e de “ausência de pensamento político
consistente”. António Costa reagiu nesse mesmo dia através de um bizarro sms
nocturno, sugerindo que João Vieira Pereira era desqualificado, que degradava a
sua profissão, que recorria ao insulto reles e cobarde, e insinuando que haveria
no seu artigo matéria para um processo judicial.
Que António
Costa, apesar de ser filho e irmão de jornalistas, tem pouca paciência para a
comunicação social e para as suas perguntas é coisa que já se sabe há muito —
basta recordarmos a Quadratura do Círculo e os raspanetes que Carlos Andrade
levava de cada vez que tentava introduzir uma tímida pergunta a meio das
demoradas elucubrações de Costa. Mas sendo desta vez difícil de argumentar que
o artigo de Vieira Pereira lhe saiu inesperadamente detrás de um carro na zona
do Parque das Nações, o sms de António Costa é duplamente chocante: chocante
como político, e chocante como irmão.
Chocante como
político, porque é de um confrangedor amadorismo. Costa nada tinha a ganhar com
aquele sms, para além de um momentâneo alívio biliar, e se o seu conteúdo fosse
revelado publicamente — como foi — trar-lhe-ia evidentes prejuízos. Não só a
sua reacção é completamente desproporcionada tendo em conta o teor do artigo de
João Vieira Pereira, como o modo de procedimento é escandalosamente próximo do
do “animal feroz”, do qual António Costa, se quer ser primeiro-ministro,
deveria fugir a sete pés. Não é o que tem feito: alguns dos seus assessores de
comunicação são herdados do socratismo, e esta cópia do seu estilo não augura
nada de bom. Só um ingénuo ou um sonso pode olhar para aquele sms e
considerá-lo uma banal manifestação de liberdade de expressão, como se a era
socrática e as suas tentativas de condicionamento da informação não tivessem
existido.
Mas se o sms seria
sempre inaceitável vindo de qualquer candidato a primeiro-ministro, ele é ainda
mais chocante por António Costa ser irmão de Ricardo Costa, director do
Expresso e superior hierárquico de João Vieira Pereira. Quando, há um ano,
António Costa anunciou a sua intenção de se candidatar a secretário-geral do
PS, Ricardo Costa colocou de imediato o lugar à disposição, num gesto de grande
dignidade profissional. É uma pena António Costa não partilhar os seus pruridos
— como é óbvio, um sms deste calibre produz estilhaços que atingem o irmão. Pior:
produziria esses estilhaços mesmo que o sms nunca tivesse vindo a público,
porque fragilizaria a posição interna de Ricardo Costa. Aprecio pouco essa
falta de sensibilidade num candidato a São Bento.
Tal como não
aprecio a falta de sensibilidade jornalística perante este caso. Paulo Rangel
já aqui chamou a atenção para isso, e bem: António Costa falou aos jornalistas
no último fim-de-semana e nenhum o confrontou com o conteúdo do sms. A sua
divulgação até pode ser discutível, mas a partir do momento que ele foi
publicado não compete aos jornalistas ignorarem-no. Infelizmente, chegámos a um
ponto em que demasiados jornalistas recebem demasiados sms, e em que a
proximidade excessiva às fontes compromete ambas as partes. E no entanto, se
alguma coisa aprendemos nos últimos anos é que há certas distâncias e certos
formalismos que convém proteger com muito cuidado.
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Costa classifica como “não
assunto” polémica sobre SMS que enviou a jornalista
6/5/2015,
OBSERVADOR / LUSA
O secretário-geral do PS
classificou como "não assunto" a controvérsia sobre o SMS que enviou
ao diretor adjunto do Expresso e defendeu que a liberdade de imprensa não
exclui o direito ao protesto.
O
secretário-geral do PS classificou hoje como “não assunto” a controvérsia
relativa ao SMS que enviou ao diretor adjunto do jornal Expresso e defendeu que
a liberdade de imprensa não exclui o direito ao protesto.
António Costa
falava aos jornalistas à entrada para um colóquio no ISEG, em Lisboa, depois de
confrontado com o teor do SMS (mensagem escrita de telemóvel) que enviou ao
diretor adjunto do jornal Expresso João Vieira Pereira na noite de 25 de abril,
mensagem que foi condenada e considerada intimidatória e contra a liberdade de
imprensa pelo líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro.
“Francamente,
acho que isso é um não assunto. Assuntos reais que deveriam preocupar o líder
parlamentar do PSD é mais uma subida do desemprego. Esse é que é um assunto
sério”, contrapôs o líder socialista.
António Costa
disse depois que a liberdade de expressão “felizmente existe” em Portugal,
sendo uma das “grandes conquistas” da democracia.
Porém, salientou
o secretário-geral do PS, a liberdade de expressão “não exclui a liberdade de
quem se sente ofendido poder protestar”.
“É evidente para
todas as pessoas que, quem se sente ofendido, tem o direito de protestar e que
nenhum jornalista se sente ameaçado. Tenho a certeza que o próprio [João Vieira
Pereira] também não se sentiu [ofendido] pela forma aliás muito atenciosa como
me respondeu também por sms”, respondeu o secretário-geral do PS.
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