quarta-feira, 6 de maio de 2015

Costa classifica como “não assunto” polémica sobre SMS que enviou a jornalista / António Costa, o sms e os jornalistas / JOÃO MIGUEL TAVARES

António Costa, o sms e os jornalistas

JOÃO MIGUEL TAVARES 07/05/2015 - público

Chegámos a um ponto em que demasiados jornalistas recebem demasiados sms, e em que a proximidade excessiva às fontes compromete ambas as partes.

João Vieira Pereira escreveu no Expresso de dia 25 de Abril um artigo crítico sobre o relatório Uma Década para Portugal, patrocinado pelo PS, onde acusava os socialistas de “falta de coragem” e de “ausência de pensamento político consistente”. António Costa reagiu nesse mesmo dia através de um bizarro sms nocturno, sugerindo que João Vieira Pereira era desqualificado, que degradava a sua profissão, que recorria ao insulto reles e cobarde, e insinuando que haveria no seu artigo matéria para um processo judicial.

Que António Costa, apesar de ser filho e irmão de jornalistas, tem pouca paciência para a comunicação social e para as suas perguntas é coisa que já se sabe há muito — basta recordarmos a Quadratura do Círculo e os raspanetes que Carlos Andrade levava de cada vez que tentava introduzir uma tímida pergunta a meio das demoradas elucubrações de Costa. Mas sendo desta vez difícil de argumentar que o artigo de Vieira Pereira lhe saiu inesperadamente detrás de um carro na zona do Parque das Nações, o sms de António Costa é duplamente chocante: chocante como político, e chocante como irmão.

Chocante como político, porque é de um confrangedor amadorismo. Costa nada tinha a ganhar com aquele sms, para além de um momentâneo alívio biliar, e se o seu conteúdo fosse revelado publicamente — como foi — trar-lhe-ia evidentes prejuízos. Não só a sua reacção é completamente desproporcionada tendo em conta o teor do artigo de João Vieira Pereira, como o modo de procedimento é escandalosamente próximo do do “animal feroz”, do qual António Costa, se quer ser primeiro-ministro, deveria fugir a sete pés. Não é o que tem feito: alguns dos seus assessores de comunicação são herdados do socratismo, e esta cópia do seu estilo não augura nada de bom. Só um ingénuo ou um sonso pode olhar para aquele sms e considerá-lo uma banal manifestação de liberdade de expressão, como se a era socrática e as suas tentativas de condicionamento da informação não tivessem existido.

Mas se o sms seria sempre inaceitável vindo de qualquer candidato a primeiro-ministro, ele é ainda mais chocante por António Costa ser irmão de Ricardo Costa, director do Expresso e superior hierárquico de João Vieira Pereira. Quando, há um ano, António Costa anunciou a sua intenção de se candidatar a secretário-geral do PS, Ricardo Costa colocou de imediato o lugar à disposição, num gesto de grande dignidade profissional. É uma pena António Costa não partilhar os seus pruridos — como é óbvio, um sms deste calibre produz estilhaços que atingem o irmão. Pior: produziria esses estilhaços mesmo que o sms nunca tivesse vindo a público, porque fragilizaria a posição interna de Ricardo Costa. Aprecio pouco essa falta de sensibilidade num candidato a São Bento.

Tal como não aprecio a falta de sensibilidade jornalística perante este caso. Paulo Rangel já aqui chamou a atenção para isso, e bem: António Costa falou aos jornalistas no último fim-de-semana e nenhum o confrontou com o conteúdo do sms. A sua divulgação até pode ser discutível, mas a partir do momento que ele foi publicado não compete aos jornalistas ignorarem-no. Infelizmente, chegámos a um ponto em que demasiados jornalistas recebem demasiados sms, e em que a proximidade excessiva às fontes compromete ambas as partes. E no entanto, se alguma coisa aprendemos nos últimos anos é que há certas distâncias e certos formalismos que convém proteger com muito cuidado.

Costa classifica como “não assunto” polémica sobre SMS que enviou a jornalista

6/5/2015, OBSERVADOR / LUSA

O secretário-geral do PS classificou como "não assunto" a controvérsia sobre o SMS que enviou ao diretor adjunto do Expresso e defendeu que a liberdade de imprensa não exclui o direito ao protesto.

O secretário-geral do PS classificou hoje como “não assunto” a controvérsia relativa ao SMS que enviou ao diretor adjunto do jornal Expresso e defendeu que a liberdade de imprensa não exclui o direito ao protesto.

António Costa falava aos jornalistas à entrada para um colóquio no ISEG, em Lisboa, depois de confrontado com o teor do SMS (mensagem escrita de telemóvel) que enviou ao diretor adjunto do jornal Expresso João Vieira Pereira na noite de 25 de abril, mensagem que foi condenada e considerada intimidatória e contra a liberdade de imprensa pelo líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro.

“Francamente, acho que isso é um não assunto. Assuntos reais que deveriam preocupar o líder parlamentar do PSD é mais uma subida do desemprego. Esse é que é um assunto sério”, contrapôs o líder socialista.

António Costa disse depois que a liberdade de expressão “felizmente existe” em Portugal, sendo uma das “grandes conquistas” da democracia.

Porém, salientou o secretário-geral do PS, a liberdade de expressão “não exclui a liberdade de quem se sente ofendido poder protestar”.


“É evidente para todas as pessoas que, quem se sente ofendido, tem o direito de protestar e que nenhum jornalista se sente ameaçado. Tenho a certeza que o próprio [João Vieira Pereira] também não se sentiu [ofendido] pela forma aliás muito atenciosa como me respondeu também por sms”, respondeu o secretário-geral do PS.

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