Paulo Morais e Henrique Neto.
Como é que correm e com que dinheiro.
Ainda mal Sampaio da Nóvoa tinha
calçado os ténis e já Henrique Neto e Paulo Morais corriam para Belém. Nos
primeiros dias, traçam regras para o financiamento e correm país para se dar a
conhecer.
MIGUEL SANTOS
1/5/2015, OBSERVADOR
A corrida para
Belém começou esta quarta-feira para Sampaio da Nóvoa, mas, antes dele, já
outros candidatos se tinham feito à estrada. Ao Observador, Henrique Neto e
Paulo Morais falaram dos primeiros dias de pré-campanha eleitoral, dos apoios e
dificuldades, sem nunca esquecer um detalhe fundamental: como esperam conseguir
financiamento para chegarem até à Presidência.
Os três
apresentam-se nestas eleições como candidatos independentes – um trilho antes
percorrido, por exemplo, por Maria de Lurdes Pintassilgo, Manuel Alegre ou
Fernando Nobre. Este último, em declarações ao Observador, já tinha denunciado
aquilo que acredita ser um sistema “minado” que acaba por “triturar” qualquer
candidatura independente, descrevendo mesmo como uma “tarefa quase impossível”
que alguém consiga conduzir uma campanha vencedora “com menos de 1 milhão de
euros” – uma meta inalcançável para quem não tem apoio partidário, sentenciou.
Ora, e como
pensam Henrique Neto e Paulo Morais contrariar as probabilidades? O ex-deputado
do PS já pôs em marcha uma “campanha de recolha de fundos” usando como veículo
a associação que criou para o efeito, “Faz o Futuro Connosco”. Através da
associação, os interessados vão poder contribuir com um “mínimo de 10 e num
valor máximo de 100 euros” de quota mensal até dezembro. No final da campanha
eleitoral, os sócios “decidirão se terminam com a associação” ou se a mantêm,
explicou ao Observador o candidato.
Já Paulo de
Morais, professor universitário e ex-vice-presidente da Câmara do Porto,
admitiu que a sua campanha “será modesta” – estima gastar apenas “200 mil
euros” – até porque, ao contrário das outras campanhas, a sua “não terá
atividades circenses”. “Teremos duas sedes, uma no Porto outra em Lisboa.
Quando estiverem marcadas as eleições será apresentada uma campanha de recolha
de fundos, mas só serão aceites contributos de pessoas até 100 euros”, contou
ao Observador.
O
ex-vice-presidente do TIAC – Transparência e Integridade, Associação Cívica
explicou, ainda, que não aceitará “qualquer apoio de empresas privadas ou
outras entidades”. E porquê? “Por duas razões”, começou por explicar Paulo
Morais, “primeiro, quero que uma das marcas da minha campanha seja a
participação cívica e que todos possam contribuir com o que quiserem; e,
depois, porque na minha campanha ninguém será um financiador distinguido – aqui
jamais haverá bancos ou corporações”, concluiu.
Henrique Neto:
Abril, apoios mil – e agenda cheia
“Enquanto os
outros candidatos têm dinheiro, pessoas e um partido a apoiá-los, nós não temos
uma grande estrutura. Por isso, têm sido dias muito trabalhosos, de tentar
todos os dias fazer o melhor com os poucos recursos que temos”, começou por
contar Henrique Neto sobre os primeiros dias on the road.
Ainda assim,
ânimo é o que não falta ao antigo empresário. “Temos recebido muito apoio e nas
circunstâncias mais variadas. Ainda no outro dia, quando fomos a pé à sede do
PSD” – Henrique Neto reuniu-se esta semana com Marco António Costa, José Matos
Correia e José Matos Rosa – “houve várias pessoas que nos pararam na rua para
desejarem sorte e dizer que iam votar em mim”, relatou.
Sem conseguir
disfarçar algum orgulho, Henrique Neto contou também que a “maioria das pessoas
que o contactam”, por email ou por carta, “dizem: ‘eu já não voto há 10 anos,
mas em si eu vou votar'”, o que só reforça a convicção de um homem que sempre
se mostrou muito crítico perante aquilo que acredita serem os interesses instalados
nas máquinas partidárias e que faz disso a principal bandeira da sua campanha.
Os apoios
estendem-se também para lá da sociedade civil. Aquele que mais o surpreendeu,
confessa, foi o de Tomás de Oliveira Dias, um dos fundadores do PPD, “um homem
que não é propriamente de esquerda”, com fez questão de lembrar. Mas há mais:
por exemplo, Carlos Sá Furtado, professor da Universidade de Coimbra e antigo
secretário de Estado de Maria Pintassilgo, e Norberto Canha, antigo docente
universitário em Coimbra e ex-presidente da Administração dos Hospitais da
Universidade de Coimbra.
“Tenho recebido incentivo de
muitos médicos, muitos quadros de empresas e de muitos professores
universitários”, revelou um surpreendido Henrique Neto.
Entre reuniões
com partidos e sindicatos, debates na Câmara de Comércio e Indústria
Luso-Francesa e na Sociedade de Geografia de Lisboa, encontros com associações
de produtores do vinho do Douro e a publicação de comunicados e artigos de
opinião sobre os mais diversos temas, Henrique Neto está disposto a aparecer na
discussão pública do país.
Até se estreou
nos programas de entretenimento, quando aceitou o convite do apresentador José
Pedro Vasconcelos para ir ao programa da RTP “5 para a meia-noite”. A
experiência, diz, foi muito positiva e valeu-lhe, inclusivamente, um elogio
inesperado: “Quando fui ao meu médico ele disse-me: ‘Olhe, o meu filho viu-o
ontem na televisão e disse logo que o apoiava'”.
Henrique Neto
considera que há uma onda crescente de popularidade: “Isto acontece talvez por
ser muito percetível aquilo que eu digo. Eu não faço tiradas heróicas nem uso
aquela retórica toda como alguns candidatos fazem. As pessoas reconhecem que
aquilo que eu tenho dito está certo, ao contrário do que acontece com a
concorrência, que, quando fala da economia, não sabe do que está a falar. Falam
do que vem nos livros, mas nem tudo que vem nos livros está certo”, defendeu.
Paulo Morais:
Entre a universidade e o bullying jurídico
O antigo
vice-presidente da Câmara Municipal do Porto está empenhado em provar que
merece a confiança dos portugueses e, desde que começou a pré-campanha, tem-se
desdobrado em encontros com “personalidades” em várias universidades do país
(Aveiro, Lisboa e Porto, por exemplo), em reuniões com apoiantes em Portimão, encontros
com sindicatos na capital, seminários em Mirandela, uma conferência na
Gulbenkian ou conversas com os confrades da Pedra de Vila Nova de Gaia. As
viagens por todo o país, essas, paga-as do seu bolso, como fez questão de
referir.
No meio da correria
em que se transformou a vida de Paulo Morais, só há uma coisa que não abdica:
as aulas na Universidade Portucalense, no Porto. “Os meus alunos têm direito a
aprender e, por isso, nunca vou deixar que os meus outros compromissos
prejudiquem essa parte da minha vida”.
Além das
iniciativas de pré-campanha em que tem participado um pouco por todo o país e a
carreira universitária, Paulo Morais tem ainda de arranjar espaço na agenda
para as constantes idas ao tribunal. “Sofro de bullying jurídico”, confessou
entre risos, depois de revelar que nos próximos dias terá de ir novamente a
tribunal para responder a um processo por difamação colocado por Luís Filipe
Menezes, antigo presidente da Câmara de Gaia.
“Entre aulas, artigos
científicos, idas a tribunais, viagens de Portimão a Montalegre, a minha vida
não é autónoma, de certeza“, reconheceu Paulo Morais. “Felizmente, Portugal é
um país relativamente pequeno”.
O
ex-vice-presidente do TIAC está a apostar também nas redes sociais para
convencer os eleitores mais jovens. O Facebook tem sido a grande plataforma de
lançamento da campanha – foi lá que celebrou o 25 de abril, onde respondeu às
perguntas dos vários seguidores. Mas, se as redes sociais têm óbvias vantagens
em termos de alcance, também lhe têm valido alguns momentos agridoces,
confessa.
“Recebo, felizmente, muito
incentivo e apoios muitos firmes. Mas também insultos, claro. Quem tem um
discurso que eu tenho tem tendência a posições extremadas. De facto, não é
simpático, mas nenhum comentário é apagado. Sou um defensor total da liberdade
de expressão”, garantiu Paulo Morais.
O sucessor do
atual Presidente da República vai a votos em janeiro de 2016, “são nove meses,
como os da gestação de um bebé”, como disse esta semana Cavaco Silva.
Sem comentários:
Enviar um comentário