A Política SMS
: O poder é LOL (Louco Ou Lerdo)
RUI CARDOSO
MARTINS / 10 / 5/2015 / PÚBLICO
Um “não assunto” tem a característica
esquizofrénica de ser um bom assunto. Basta um político ser obrigado a dizer
publicamente que o é. Aliás, que o não é. António Costa diz que não é assunto,
ou melhor, que é “um não assunto” o facto ter enviado a um director adjunto do
jornal Expresso, por mensagem privada de telemóvel, o seguinte assunto, ai, o
não assunto (decidam-se, raios):
“Senhor João
Vieira Pereira. Saberá que, em tempos, o jornalismo foi uma profissão de gente
séria, informada, que informava, culta, que comentava. Hoje, a coberto da
confusão entre liberdade de opinar e a imunidade de insultar, essa profissão
respeitável é degradada por desqualificados, incapazes de terem uma opinião e
discutirem as dos outros, que têm de recorrer ao insulto reles e cobarde para
preencher as colunas que lhes estão reservadas. Quem se julga para se arrogar a
legitimidade de julgar o carácter de quem nem conhece? Como não vale a pena
processá-lo, envio-lhe este sms para que não tenha a ilusão que lhe admito
julgamentos de carácter, nem tenha dúvidas sobre o que penso a seu respeito. António
Costa.”
É este o longo
assunto do não assunto do adjunto directivo.
No entanto, até
um bêbedo a dormir percebe que Costa ficou fulo com o jornalista e que lhe
passou uma coisinha má pelo carácter dos olhos.
Tudo motivado por
um texto no Expresso de João Vieira Pereira, datado do 25 de Abril (data que
ainda vai mantendo o seu assunto). Nele, acusava o PS de “falta de coragem” e
de “ausência de pensamento político consistente”, por causa das propostas do grupo
de economistas independentes. Uma semana depois, o sms (short message service),
a mensagem curta de telemóvel, apareceu impressa no jornal do dia 1 de Maio
(que é ainda, já agora, assunto vasto).
E depois disso
tem-se passado esta coisa de — pouco a pouco — toda a gente falar do assunto,
uns porque estão indignados por ser assunto, outros por ter sido não assunto no
princípio, e outros porque…
… Atenção
leitores, não fujam já desta seca que o assunto vai mudar! Para ir direito ao
não assunto, a mensagem sms é a nova rainha da política portuguesa. Os longos
meses antes das eleições vão decidir-se em mensagens curtas. E já apanhámos
alguns exemplos, sms apanhados com as antenas especiais da imaginação.
Sms de preso 44
para secretário-geral:
“To Costa dsclp
tar a escrever num tlm velho s touch s acentos mas aqui em evora tive de comprar um na candonga veio nas botas
gostei tua sova jornalista de m… armado mete nojo devias ter partido os cornos
ao gajo eu tb me passava c as mentiras do freepor e da univ independente se
queres fala com o zeinal bava da pt q ele faz contrato para partir um tlm por
semana contra parede qd um gajo se passa c esses reles cobardes q mentem e nos
fazem perseguicoes bom tou vigiado vem um guarda boa sorte tchau do teu ze que
foi teu 1 ministro hoje preso politico
do regime.”
Sms do
secretário-geral para preso 44:
“Caro amigo Zé
(sem qualquer outra conotação que não essa, a da simples amizade). Agradeço a
atenção ao não assunto. Ser candidato a primeiro-ministro é uma profissão
respeitável, só às vezes degradada por desqualificados, incapazes de ter uma
opinião e discutir as dos outros, que têm de recorrer ao insulto reles e
cobarde para preencher as eleições que lhes estão reservadas. Dito isto, sem
pôr em causa o teu carácter, peço-te que tenhas em conta que comparações dessas
não são agora bem-vindas (isso é o que o PSD e CDS estão a fazer comigo e certa
pessoa). Na verdade, eu é que me sinto uma espécie de ‘preso político’,
aprisionado no silêncio, sempre que sai na imprensa uma carta tua com mais
explicações tão plausíveis sobre amizades e dinheiro.”
Sms de spin
doctor do PS para secretário-geral:
“Assunto do não
assunto. Caro dr. António: não leve a mal, não me chame desqualificado, não me
processe, ouça apenas o que lhe peço: stop aos sms! Devem ser usados só em
demissões irrevogáveis do Paulo Portas, bufadas por Passos Coelho. Este começou
a construir a imagem de jovem paizinho da pátria, e o líder do PS faz papel de
filho adolescente que corta relações com a namorada por sms. Sugiro derradeira
sms ao Expresso: ‘Senhor João Vieira Pereira. Saberá que, em tempos, o
jornalismo foi uma profissão de gente séria, informada, que informava, culta,
que comentava. E olhe, ainda bem que assim continua.’ Sei que lhe isto lhe
custa, mas pode ser?”
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