Governo diz que vai prosseguir
com “determinação” a venda da TAP
RAQUEL ALMEIDA
CORREIA 07/05/2015 - PÚBLICO
Secretário de Estado nega
reuniões com Efromovich. Fernando Pinto envia carta aos trabalhadores a reconhecer
esforço durante a greve.
Apesar da greve e
das críticas da oposição, o Governo diz estar determinado em concluir a
privatização da TAP, que dá na próxima semana um passo importante com a
apresentação de propostas de compra por parte dos potenciais investidores.
No briefing que
se seguiu ao Conselho de Ministros desta quinta-feira, o secretário de Estado
dos Transportes reagiu às afirmações feitas pelo secretário-geral do PS, numa
entrevista à TVI. Na quarta-feira, António Costa disse que, se for eleito
primeiro-ministro nas eleições legislativas agendadas para o Outono, “tudo fará
para evitar a perda de controlo” da transportadora aérea.
Para Sérgio
Monteiro, “o mais importante” a extrair destas declarações é o facto de o
principal partido da oposição “ver com bons olhos uma privatização”, embora
defenda um modelo completamente diferente, com a dispersão de uma minoria do
capital em bolsa.
Tal como já fez
anteriormente, o secretário de Estado veio criticar este caminho, defendendo
que não é possível vender em bolsa uma empresa com capitais próprios negativos
e que uma operação desse tipo “não gera recursos suficientes”, já que o Governo
estima que a TAP necessita de 300 milhões de euros no curto prazo.
Apesar do apelo
do secretário-geral do PS para que “até às eleições não seja tomada nenhuma decisão
que se torne irreversível”, Sérgio Monteiro frisou que o Governo prosseguirá
“com determinação” o objectivo de privatizar a TAP. “Faremos o que nos compete.
Criaremos condições para que a empresa possa concorrer no mercado com as mesmas
armas de todos os seus concorrentes”, acrescentou.
Já o ministro dos
Assuntos Parlamentares criticou o PS pelo facto de “ter opiniões diferentes
sobre a TAP quando está no poder e quanto está na oposição”. Recorde-se que
foram os socialistas que incluíram, no memorando de entendimento assinado com a
troika em 2011, a
venda da companhia de aviação, embora defendam que o propósito sempre foi uma
privatização parcial. Ora, o actual Governo decidiu desfazer-se já de uma
participação de 66%, com o objectivo de que o Estado saia totalmente do capital
no médio prazo.
Questionado sobre
o facto de a SIC ter noticiado que Gérman Efromovich estava em Portugal para
reuniões com o Governo, o secretário de Estado dos Transportes negou a
existência desses encontros. “Não sabia que estava em Lisboa”, respondeu,
assegurando que o empresário, cuja oferta foi rejeitada na primeira tentativa
de venda da TAP em 2012, “nunca manifestou vontade ou interesse em reunir-se
com qualquer outro membro do Governo”.
Sérgio Monteiro
esclareceu que “as reuniões obedecem a regras muito estritas”, já que “são
dados momentos no tempo” para este tipo de encontros. “Veremos no dia 15 de
Maio” se Efromovich apresenta uma proposta, concluiu.
A verdade é que o
empresário, dono do grupo sul-americano Avianca, ainda não tomou uma decisão
sobre se irá entrar na corrida à TAP. E só mesmo no dia 15 de saberá que
escolha fez, embora, ao que o PÚBLICO apurou, haja poucas expectativas de que
avance.
"Conversa
surda" com os pilotos
Sobre a greve de
dez dias convocada pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, que teve início
a 1 de Maio e prolonga-se até ao próximo domingo, o secretário de Estado não
quis antecipar se irá ter consequências negativas no processo de privatização. “Saberemos
o impacto já daqui a pouco tempo, seja no número de candidatos, seja no valor”
oferecido, disse, referindo-se ao facto de os potenciais investidores terem até
15 de Maio para apresentar uma proposta final de compra pela TAP.
Quanto às
negociações com os pilotos, que parecem ter caído definitivamente por terra,
Sérgio Monteiro disse que o tema é uma “conversa surda” porque estão em cima da
mesa exigências impossíveis de satisfazer, como a cedência de uma participação
entre 10% a 20% no capital da TAP.
O governante fez
questão de sublinhar que “no início, a direcção do sindicato antevia que ao
sétimo dia não haveria pilotos suficientes para que os serviços mínimos fossem
cumpridos”, mas nesta quinta-feira a TAP está a realizar “85% dos voos”. Uma
fasquia superior à que tem sido assegurada desde que a paralisação começou, na
ordem dos 70%.
Marques Guedes
voltou a apelar “à responsabilidade dos pilotos”, considerando que o sindicato
teve uma “atitude pouco responsável, no mínimo”. Para o ministro, a ameaça de
um novo período de greves “revela um profundo desrespeito para com os
portugueses, o país e a empresa”.
Presidente da TAP
assume necessidade de reestruturação
Já o presidente
da TAP, que se multiplicou em entrevistas e reuniões com pilotos para evitar a
greve, enviou na quarta-feira uma carta aos trabalhadores em que agradece “o
enorme esforço e profissionalismo demonstrados ao longo destes dias, tanto
pelos pilotos que têm viabilizado diariamente a maior parte da nossa operação,
como por todo o pessoal envolvido nas
diversas actividades”.
Para Fernando
Pinto, este esforço evitará “que maiores perdas e prejuízos sejam acarretados
para a TAP”, embora os prejuízos dos primeiros cinco dias de paralisação já
tenham, de acordo com estimativas do Governo, atingido os 17 milhões de euros.
O gestor fala de
“alguma esperança de que os danos causados na imagem e credibilidade da
companhia possam ser contidos, de modo a podermos restabelecer, com razoável
rapidez, a normalidade das nossas operações, e, pouco a pouco, reconquistarmos a confiança dos nossos
clientes”.
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