terça-feira, 19 de maio de 2015

EDITORIAL / PÚBLICO: Do calafrio nacional à indiferença total / Pires de Lima: “Não está nas minhas prioridades ler os relatórios do FMI”


EDITORIAL / PÚBLICO
Do calafrio nacional à indiferença total
DIRECÇÃO EDITORIAL 18/05/2015 -

Os partidos políticos discutem a descida da taxa social única (TSU). O FMI vem dizer suba-se a TSU
Durante o período de resgate da troika, cada relatório do FMI provocava uma espécie de calafrio nacional. Eram relatórios com um sem número de recomendações de reformas e de austeridade que, por sermos devedores do Fundo, tínhamos de seguir quase à risca. Terminado o resgate, passamos do calafrio nacional à indiferença total. As recomendações que vêm de Washington continuam a não ser simpáticas, mas a diferença agora é que o FMI manda muito pouco. E até é com alguma arrogância que ouvimos Pires de Lima, quando confrontado com o relatório publicado esta segunda-feira, a dizer: “Não está nas minhas prioridades ler os relatórios do FMI.” Houve tempos em que o relatório do FMI deve ter chegado a ser o seu livro de cabeceira. Mas o país hoje, felizmente, recuperou a soberania orçamental, e as recomendações do Fundo têm um peso relativo.


Há algum exagero e alguma dramatização e até algumas acusações injustas no relatório do Fundo. Mas isso não quer dizer que não existam reflexões, sobretudo no capítulo das reformas estruturais, que mereçam a nossa atenção. Por exemplo, numa altura em que os maiores partidos reconhecem haver um problema de sustentabilidade da Segurança Social, são os próprios que propõem, como fazendo parte dos seus programas eleitorais, a descida da TSU (uns para as empresas, outros para as empresas e trabalhadores). Ora o FMI, que não se candidata a eleições, vem dizer precisamente o contrário: suba-se a TSU dos funcionários públicos para ajudar a financiar a Caixa Geral de Aposentações. E diz mais: voltem a congelar as reformas antecipadas e faça-se a indexação das pensões a indicadores económicos. A solução está longe de ser a ideal, mas o FMI está a alertar para um problema para o qual os maiores partidos têm olhado com indiferença, mas que mais tarde ou mais cedo nos vai dar grandes calafrios.


Pires de Lima: “Não está nas minhas prioridades ler os relatórios do FMI”
JORNAL I
18/05/2015

Pires de Lima afirmou que os tempos actuais são tempos de “esperança”.

O ministro da Economia, António Pires de Lima, afirmou esta segunda-feira que os relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI) não estão nas suas prioridades.

“Não tive oportunidade [de ler o relatório] e confesso que não está nas minhas prioridades ler os relatórios do FMI. Não tenho que ter isso como prioridade, como sabe”, disse o ministro aos jornalistas, questionado sobre o mais recente documento, depois de intervir na conferência sobre “Desregulação tarifária: Oportunidades e desafios” do ciclo “Engenharia em Movimento” do Instituto Superior de Engenharia do Porto.

Na sua intervenção, Pires de Lima, que durante o dia visitou várias empresas da região Norte, afirmou que os tempos actuais, a meses do final da legislatura, são tempos de “esperança” que derivam de se sentir que “Portugal está em gradual e humilde recuperação económica”.

No documento do FMI divulgado esta segunda-feira relativo aos trabalhos da missão técnica a Portugal ao abrigo do Artigo IV, realizada em Março, o FMI considerou que “deve ser dada prioridade a uma maior redução do número de funcionários [públicos] através de uma maior saída natural de trabalhadores [pela não renovação de contratos] e de cortes direccionados para áreas com pessoal a mais”.

O FMI defendeu ainda que a atribuição de um crédito fiscal para famílias com baixos rendimentos é mais eficaz na redução da pobreza do que o aumento do salário mínimo, que, considera, pode prejudicar a criação de emprego.

Adicionalmente, a instituição com sede em Washington afirmou que as reformas estruturais implementadas pelo Governo ainda não produziram os efeitos desejados e avisou que, com este progresso limitado, a economia portuguesa não deverá crescer mais do que 1,25% no médio prazo.

O denominado Artigo IV do FMI prevê que sejam feitas análises às economias dos membros do Fundo, geralmente todos os anos. A missão da equipa técnica do FMI esteve em Lisboa em Março.


Lusa

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