Câmara
de Lisboa acusada de “desvirtuar” vencedor do Orçamento
Participativo
Em
causa estão obras na Estrada de Benfica, que atravessa duas
freguesias, quando o projecto aprovado só falava numa
Inês Boaventura /
19-5-2015 / PÚBLICO
A presidente da
Junta de Freguesia de Benfica diz que o projecto Mobilidade para
Todos em Benfica, que foi um dos vencedores do Orçamento
Participativo de 2013, está a ser “substancialmente desvirtuado e
desconsiderado” pela Câmara de Lisboa e apela a Fernando Medina
para que intervenha no sentido de se evitar “tão grave atropelo e
injustiça”.
Numa carta dirigida
ao autarca, Inês Drummond diz ter recebido com “total
perplexidade” a informação de que a câmara se prepara para
avançar com uma “intervenção em mais de 100 passagens de peões,
sendo 2/3 na freguesia de Benfica e 1/3 na freguesia de São Domingos
de Benfica”. Para a autarca socialista, concretizar a obra nesses
termos significa que o projecto Mobilidade para Todos em Benfica “é
substancialmente desvirtuado e desconsiderado pela CML [Câmara
Municipal de Lisboa]”.
Inês Drummond
sublinha que com esse projecto, que com 1375 votos foi um dos mais
votados na edição de 2013, se pretendia “tornar Benfica na
primeira freguesia do país com todas as suas passadeiras acessíveis
e com pavimento táctil”. O investimento é de 500 mil euros.
Ora, a autarca acusa
a câmara de se preparar para gastar em Benfica apenas dois terços
dessa verba, canalizando o restante para a freguesia vizinha de São
Domingos de Benfica, algo que considera “inexplicável”. Além
disso, Inês Drummond contesta as contas do município: a eleita do
PS diz que de acordo com a sua experiência o rebaixamento de uma
passadeira com colocação de piso táctil “tem o custo médio de
1292,8 euros”, valor que fica longe dos cerca de cinco mil euros
que a vereação se propõe gastar em cada uma.
Na carta à qual o
PÚBLICO teve acesso, a presidente da Junta de Freguesia de Benfica
considera que está a ser posta em causa “a exigência do devido e
merecido respeito pelos cidadãos que intervieram na elaboração,
concepção e aprovação do projecto eleito, bem como a observância
dos princípios que enformam e caracterizam a Carta de Princípios do
OP [Orçamento Participativo”. Confrontado com estas críticas, o
vereador dos Direitos Sociais diz que Inês Drummond “faz muito bem
em defender os interesses dos seus fregueses”, mas acrescenta que a
câmara não partilha do “ponto de vista” da autarca.
Para João Afonso,
que tem a tutela do Plano de Acessibilidade Pedonal, “corresponde
ao interesse da cidade” que os 500 mil euros que se decidiu
consagrar ao rebaixamento de passadeiras sejam investidos na Estrada
de Benfica (que atravessa as duas freguesias já mencionadas), que “é
um eixo estruturante de circulação pedonal, com graves problemas”.
Além disso, o vereador diz que aquilo em que as pessoas votam no
orçamento participativo “é a formulação dos serviços”, e
“não o que o cidadão A ou B pôs na sua ficha”, acrescentando
que a noção que se tem de Benfica em termos de “senso comum”
vai além dos limites administrativos.
Se se fizer uma
pesquisa no portal Lisboa Participa das propostas apresentadas no OP
de 2013, a proposta em causa aparece com a descrição “rebaixar as
passadeiras de Benfica, para permitir melhor mobilidade e mais
acessibilidades para todas as pessoas” e com a indicação
“freguesia de Benfica”. Num quadro com os resultados da votação
também se fala apenas nessa freguesia. Em lado algum há referência
à freguesia de São Domingos de Benfica.
Entretanto foram já
recolhidas mais de 500 assinaturas numa petição em que se apela à
câmara e à junta “a imediata execução” do projecto Mobilidade
para Todos em Benfica.
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