Referendo libertaria Syriza das
promessas?
DIRECÇÃO EDITORIAL 11/05/2015 - PÚBLICO
Há quatro anos, a ideia de um referendo na Grécia assustava a Europa. Hoje,
nem por isso
Os ministros das
Finanças da zona euro estiveram reunidos em Bruxelas para, pela enésima vez,
tentar superar o impasse das negociações com a Grécia. Mesmo antes do início da
reunião, os dois lados tentaram esvaziar expectativas e moderar entusiasmos, já
que entre a resistência grega e a intransigência europeia ainda há um grande
caminho a percorrer. Perante soluções que não se antevêem como óbvias, são cada
vez mais as soluções pouco ortodoxas que vão surgindo no debate público
europeu.
Uma dessas ideias
é a possibilidade de os gregos poderem vir a ser chamados a participar num
referendo sobre as condições impostas pelos credores para a aprovação da
extensão do segundo resgate. No final de 2011, a palavra referendo
era uma palavra maldita e um tabu no vocabulário europeu. Quando George
Papandreou, no final de 2011, teve a ideia de consultar os gregos para que
estes pudessem pronunciar-se sobre as condições do segundo resgate, o
primeiro-ministro de então foi chamado de urgência à cimeira do G20, que se
realizava em Cannes. Merkel e Sarkozy sabiam que um referendo às medidas de
austeridade seria visto como um referendo encapotado à permanência do país na
zona euro, o que, no contexto que se vivia na altura na Europa, significava um
terramoto nos mercados.
Hoje, o risco de
contágio está mais contido e, por isso, não é de admirar as palavras de
Wolfgang Schäuble, que, confrontado com essa possibilidade, veio dizer que essa
consulta até poderia ser útil para deixar os gregos "decidir se estão dispostos
a aceitar o necessário, ou se querem algo diferente". Claro que aqui o
“algo diferente” significa o país poder sair da zona euro. Mas agora Schäuble
pode dizer estas palavras com uma tranquilidade que não podia em 2011.
O Governo de
Alexis Tsipras já fez tábua rasa de algumas promessas eleitorais, nomeadamente
em relação ao IVA e às privatizações, mas continua a não querer o corte nas
pensões ou nas reformas do mercado laboral para não perder o activo mais
precioso que tem nesta altura, que é o apoio do povo grego. O referendo, estará
a pensar Berlim, seria uma forma de libertar o Syriza das suas promessas
eleitorais mais radicais e fazer com que Tsipras, que foi mandatado para acabar
com a austeridade, pudesse ganhar legitimidade para prosseguir com essa mesma
austeridade. Para Tsipras, a nível interno, seria uma forma de neutralizar as
posições mais radicais dentro do Syriza.
O referendo até
podia ser uma solução para tentar ultrapassar o impasse nas negociações se
houvesse tempo. Mas tempo é hoje um bem escasso em Atenas. No fim de Maio, o
país provavelmente ficará sem dinheiro para pagar pensões e salários, um
calendário que não é compatível com o timing necessário para a realização de um
referendo. A não ser que o objectivo seja chamar os gregos para votar, tendo o
medo (o medo de não receber a pensão ou o salário) como a única variável
determinante no processo de tomada de decisão.
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