Grécia com a economia em quebra e
um acordo outra vez adiado
SÉRGIO ANÍBAL e
MARIA JOÃO GUIMARÃES 05/05/2015 – PÚBLICO
Pouca
esperança para um acordo no Eurogrupo de segunda-feira, quando a Grécia diz que
a liquidez é uma questão premente.
Após uns dias de
moderado optimismo, há mais um prazo adiado nas negociações entre a Grécia e os
seus parceiros europeus – a reunião do Eurogrupo da próxima segunda-feira já
não parece ser vista como aquela em que os membros da zona euro anunciam
finalmente um acordo para o pagamento da última tranche do empréstimo à Grécia.
De Bruxelas vem o aviso: a economia grega está em queda.
Mesmo partindo do
princípio de que vai haver acordo antes de a Grécia entrar em incumprimento do
pagamento de alguma das prestações que deve, Bruxelas reviu em baixa a sua
projecção de crescimento para o país, para apenas 0,5%, um valor que não só
será inferior aos 0,8% registados em 2014, como fica muito abaixo dos 2,5% que
eram previstos pela Comissão Europeia há apenas três meses.
O executivo
liderado por Jean-Claude Juncker justifica este corte radical nas previsões de
crescimento com “a incerteza que se verifica desde o anúncio de eleições
antecipadas em Dezembro”. Bruxelas diz que “a falta de clareza nas políticas do
Governo, em comparação com os compromissos assumidos pelo país nos acordos com
a UE e o FMI, aumenta ainda mais a incerteza”, deteriorando os níveis de
confiança dos consumidores e das empresas.
Outro factor
importante é o aumento das taxas de juro exigidas ao Estado grego pela sua
dívida, o que significa que as condições de financiamento da economia se
tornaram agora muito mais difíceis.
O crescimento
muito mais lento previsto pela Comissão tem também reflexos nas projecções para
o desemprego. Em vez de cair para 22% até ao final de 2016, como era previsto
em Fevereiro, ficará agora em 23,2%, continuando acima dos 25% este ano.
Nas contas
públicas, as previsões tornaram-se também muito mais pessimistas. Em Fevereiro,
Juncker e os seus pares acreditavam que a Grécia ia registar um excedente
orçamental de 1,1% em 2015, o que lhe permitiria baixar a dívida pública de
176,3% do PIB em 2014 para 170,2% este ano. Agora, já aponta para um novo
défice de 2,1% e para uma dívida pública que ultrapassa pela primeira vez a
barreira dos 180% do PIB no final deste ano.
A Comissão
Europeia faz questão de salientar que as previsões agora apresentadas – e que
apontam para um crescimento de 2,9% em 2016 – são feitas confiando num cenário
em que o Governo grego chega a acordo com os seus parceiros da zona euro e com
o FMI para a libertação das últimas tranches do empréstimo da troika, o que
permitiria ao país evitar uma ruptura na sua capacidade para se financiar.
Pagamentos ao FMI
A Grécia tem de
pagar ao FMI 200 milhões de euros esta quarta-feira (dia 6 de Maio) e 750
milhões de euros na próxima terça-feira (dia 12). O Eurogrupo reúne-se na
segunda-feira, 11, e esta era a data apontada para um possível acordo. Especialmente
depois de um porta-voz do Governo de Alexis Tsipras, Gabriel Sakellaridis, ter
dito que o executivo planeava pagar todas as suas dívidas, mas que “a liquidez
é uma questão premente” e que Atenas “não vai ficar à espera até ao final de
Maio para uma injecção de liquidez”.
O ministro alemão
das Finanças, Wolfgang Schäuble, elogiou esta terça-feira o que classificou
como a nova postura “construtiva” de Atenas, mas disse estar “céptico” de que
os avanços pudessem ser tão rápidos que viessem a tempo de um acordo na
segunda-feira.
Céptico estará
também o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, que fez descer a
importância do encontro. “Vamos certamente ter uma discussão frutuosa, que irá
confirmar o grande progresso conseguido e será mais um passo na direcção de um
acordo final”, declarou, após uma reunião com o comissário da Economia, Pierre
Moscovici, em Bruxelas. Moscovici usou a palavra “útil” para descrever a
reunião de segunda-feira.
Nos últimos dias,
as conversações continuaram no chamado grupo de Bruxelas (ex-troika), e
responsáveis gregos multiplicam-se em visitas: Varoufakis em Bruxelas, para uma
reunião com Moscovici, e em Paris, para se encontrar com o seu homólogo
francês, Michel Sapin (Varoufakis estará hoje em Roma e na sexta-feira em
Espanha), e o número dois de Tsipras, Yannis Dragasakis, acompanhado do
responsável pelas negociações Euclid Tsakalotos, foi a Frankfurt reunir-se com
o presidente do BCE, Mario Draghi, um dia antes de este fazer a sua revisão do
financiamento de emergência aos bancos (do qual não eram antecipadas
alterações).
Fontes dizem que
o Governo de Tsipras cedeu nas privatizações e se prepara para ceder a
exploração de aeroportos regionais e partes do porto do Pireu. Segundo o diário
grego Kathimerini, Atenas está pronta para finalizar um acordo de 1,2 mil
milhões de euros com a operadora alemã Fraport para os aeroportos regionais e
reabrir o concurso de parte do porto do Pireu.
Mas isso não
parece ser suficiente para os outros países da zona euro, nem para o FMI. Para
além da dificuldade em se chegar a um acordo entre Atenas e os outros governos
da zona euro, as negociações estão a enfrentar outro tipo de complicações. De
acordo com notícias publicadas pelo diário britânico Financial Times e pelo
diário alemão Die Welt, existem também divergências entre o FMI e as
autoridades europeias sobre aquilo que é preciso para que o desembolso das
últimas tranches do empréstimo à Grécia seja feito.
O Fundo tem
regras internas que o proíbem explicitamente de emprestar dinheiro a um país
cuja dívida pública não seja considerada como sustentável. De acordo com o
Financial Times, Poul Thomsen, o chefe da missão do FMI na Grécia, terá
transmitido aos seus colegas da UE que os últimos desenvolvimentos económicos e
orçamentais apontam para que a dívida grega esteja a seguir um rumo
insustentável.
Por isso, para
que possa libertar as últimas tranches do seu empréstimo (que representam cerca
de metade dos 7200 milhões de euros que a Grécia espera receber da troika),
exige que das duas uma: ou a Grécia adopta medidas de austeridade e reformas
estruturais ainda mais drásticas para registar rapidamente excedentes
orçamentais ou terá de ser concedido um perdão de dívida à Grécia por parte dos
seus credores.
Como a dívida
grega está agora, na sua quase totalidade, nas mãos dos países da zona euro, do
FMI e do BCE, e os dois últimos recusam-se a aceitar um perdão, uma
reestruturação teria de passar necessariamente pelos parceiros europeus da
Grécia. Contudo, este cenário é visto como muito difícil de se concretizar nas
actuais circunstâncias, já que os Governos dos diversos países teriam muita
dificuldade em “vender” às suas populações a necessidade de perdoar dívida à
Grécia.
Numa altura em
que a Grécia tenta convencer os outros países do euro a suavizar as metas
orçamentais e as reformas estruturais exigidas, o facto de o FMI estar agora a
exercer mais pressão pelo outro lado pode tornar ainda mais complexa a obtenção
de um acordo.
Apesar deste
impasse (que já tem uma palavra para o definir, Grimbo, ou o limbo grego), o
principal partido do Governo tem uma popularidade acima da oposição – 15 pontos
percentuais de diferença para a Nova Democracia, segundo as últimas sondagens
(36,9% contra 21,7%).
Se a permanência
da Grécia no euro fosse a referendo – uma hipótese já mencionada por Tsipras –,
66,5% dos gregos preferem manter-se na moeda única e 55% mantêm esta opção
mesmo que tenha de haver um novo memorando para um empréstimo.
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