EDITORIAL / PÚBLICO
Sondagens e prudência
10/05/2015 – PÚBLICO
A fragmentação do
sistema partidário e a crise ajudam à incerteza dos resultados eleitorais
Os resultados
surpreendentes no Reino Unido estão a pôr de tal forma em causa a qualidade dos
estudos eleitorais que o Conselho de Sondagens Britânico já anunciou que iria
ser lançado um inquérito para se conseguir apurar porque é que aconteceu este
falhanço monumental. Como já vários especialistas referiram, as causas serão
muitas e as sondagens “parecem estar a ficar piores à medida que se torna mais
complicado contactar uma amostra representativa de eleitores”, como diz Nate
Silver, um guru norte-americano das estatísticas. Outra razão para justificar
esta enorme discrepância, também pode ter a ver com o sistema eleitoral
britânico, que não se rege pelo método proporcional. Só assim se explica que,
por exemplo, mais 0,5 de percentagem tenha permitido aos conservadores obterem
mais 26 lugares em Westminster relativamente a 2010, enquanto os trabalhistas,
que subiram 1,5 no total de votos, acabassem por perder 25 deputados. Outro
resultado expressivo é o do UKIP, o partido de direita antieuropeu, que
conseguiu quatro milhões de votos, mas apenas um deputado. O que estes
resultados parecem indicar, é que, neste tipo de sistema eleitoral, a
correspondência entre a vontade expressa do eleitor e a respectiva tradução em
representantes eleitos, seja cada vez mais distorcida à medida que aumenta a fragmentação
do sistema partidário. Aliás, a dificuldade cada vez maior que os especialistas
de sondagens têm em estabelecer, com fiabilidade, o corpo da amostra sobre o
qual devem trabalhar para obterem resultados o mais aproximados possíveis da
realidade, deve-se em grande parte quer ao aparecimento de novos partidos, quer
ao inesperado crescimento da expressão eleitoral de formações políticas mais
pequenas. Foi o que aconteceu agora com o Partido Nacionalista Escocês que
deveu grande parte do seu êxito a Nicola Sturgeon, líder e primeira-ministra da
Escócia, cujo desempenho e propostas eclipsaram Ed Miliband e o seu Partido
Trabalhista.
Há, portanto, uma
série de razões para se ser muito prudente com as sondagens nos tempos que
correm. Sobretudo a meses de eleições. Independentemente das circunstâncias
específicas do Reino Unido, ninguém esperaria que, depois da austeridade
imposta por David Cameron, o eleitorado britânico lhe tivesse dado mais votos
do que há quatro anos. Também em Espanha, se está a passar um fenómeno
semelhante com o Partido Popular. Depois da emergência de partidos de protesto
cuja pujança parecia a certa altura uma ameaça imparável aos partidos bem
instalados do sistema, eis que o aproximar de actos eleitorais importantes - as
regionais, este mês, e as legislativas, em Novembro, - estão a inverter a
tendência. A pujança da economia britânica e o
crescimento em força da do país vizinho podem explicar esta mudança de
humor dos cidadãos dos dois países. Por cá, Passos Coelho foi cuidadoso sobre a
vitória de Cameron e fez bem. Seis meses é uma
eternidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário