Poda "drástica" de
árvores na Av. Guerra Junqueiro gera contestação
INÊS BOAVENTURA
09/05/2015 – PÚBLICO
A falta de informação sobre a
intervenção em curso nos mais de 50 freixos desta avenida lisboeta, 22 dos
quais vão ser abatidos nos próximos meses, está a motivar queixas.
A “intervenção no
arvoredo” em curso na Avenida Guerra Junqueiro, em Lisboa, está a gerar grande
contestação entre moradores, comerciantes e outros cidadãos. O presidente da
Junta de Freguesia do Areeiro reconhece que se trata de “uma poda drástica”,
que nalgumas árvores “foi um bocado longe demais”, mas justifica a operação com
a necessidade de garantir a segurança de quem passa nesta artéria.
Foi no início da
semana que a junta de freguesia deu início a esta intervenção, que nas redes
sociais já se diz que transformou a avenida numa “serração” ou num “cemitério
de troncos”. Antes de a poda da cerca de meia centena de freixos existentes ter
tido início, a junta afixou nos seus troncos um papel no qual informava que o
estacionamento no local está condicionado porque “vão ser podadas árvores que
por motivos estruturais põem em causa a segurança de pessoas e bens”.
O presidente da
junta considera que essa informação “foi suficiente”, mas não é essa a
convicção generalizada. “Devia ter havido uma melhor informação e debate com a
população e com os comerciantes”, diz o empresário Carlos Moura-Carvalho, que
lamenta que se tenha desperdiçado uma oportunidade de contribuir para “uma
cultura democrática verdadeiramente participativa”.
“As pessoas
sentem-se um bocadinho traídas”, observa o proprietário da Mercearia Criativa. “Mais
do que o resultado” da intervenção em curso, que “não é o melhor, não é feliz”,
Carlos Moura-Carvalho critica que às pessoas interessadas não tenha sido dada a
hipótese “de serem informadas sobre o que está a acontecer à sua volta, de
conhecerem os fundamentos da decisão, de participarem e fazerem sugestões”.
Também João
Appleton, residente na Guerra Junqueiro, se queixa da “falta de transparência e
de informação”. “O que me faz imensa impressão é a falta de informação”, diz,
defendendo a importância de os moradores poderem ter “uma palavra a dizer”
quando estão em causa processos como este, que “afectam a sua vida”.
“Como não fomos
informados e não sabemos, ficamos a pensar se não haveria alternativa”, nota o
arquitecto, que considera que essa circunstância “abre caminho a que as pessoas
achem que podia ser de outra maneira”.
Sem querer falar
sobre questões técnicas que não domina, João Appleton admite que considera
“visualmente chocante” o resultado da poda em curso. “Alterou-se uma imagem de
60 anos em três dias, alterou-se todo o carácter da rua”, lamenta.
Já João Junqueira
confessa que ao ver ser feita uma poda “de tal maneira violeta” pensou que as
árvores iam ser abatidas. Agora que percebeu que isso não está previsto nesta
fase, o arquitecto paisagista acha “estranho” que se faça esta operação nesta
altura do ano.
Juntando essa
circunstância ao facto de se estarem a cortar troncos de grande dimensão, João
Junqueira considera que está em causa “uma mistura um bocadinho explosiva”, que
pode comprometer “a capacidade de cicatrização” destes freixos e torná-los mais
vulneráveis a doenças. “Não é normal. Actualmente já não se faz isto”, diz,
manifestando a convicção de que “se viessem agora dias muito quentes, era
provável que muitas árvores viessem a morrer”.
Ao início da
manhã desta sexta-feira, eram várias as pessoas paradas nos passeios da Guerra
Junqueiro, a acompanhar com um ar incrédulo os trabalhos em curso e a tirar
fotografias. Um a um, troncos de grande dimensão iam sendo cortados para a rua,
impedindo durante alguns minutos a circulação de automóveis. Em frente à
pastelaria Mexicana, no topo da avenida, erguem-se dois troncos nus, sem uma
única folha.
O presidente da
Junta de Freguesia do Areeiro diz que esses freixos “estão referenciados para
ser substituídos”, mas admite que se “foi um bocado longe demais” na poda
destes dois exemplares. “Aí espalharam-se um bocadinho, mas depois pusemos as
coisas a ser bem feitas”, diz Fernando Braamcamp.
Segundo o
autarca, são 53 os freixos existentes na Guerra Junqueiro. “Todos precisavam de
ser podados, para aliviar as cargas, para ficarem mais direitos, para reduzir
as copas e afastá-las nas janelas”, garante, justificando-se com a avaliação do
estado fitossanitário das árvores que foi feita pela Câmara de Lisboa.
É também com base
nessa avaliação que Fernando Braamcamp adianta que “no tempo oportuno”,
provavelmente “no final do Verão”, serão abatidos 22 dos freixos da avenida,
por estarem “podres”. “Foi tudo analisado árvore a árvore. Isto não é a olho”,
assegura, acrescentando que os trabalhos estão a ser coordenados por um
engenheiro agrónomo de uma empresa contrata para o efeito.
O autarca do PSD
admite que está a ser feita “uma poda drástica”, mas nota que estavam em causa
árvores que “não foram podadas ao longo de 30 anos”. Fernando Braamcamp
acrescenta que este ano já houve “cinco ou seis” carros atingidos por ramos de
árvores na Guerra Junqueiro e diz que foi sua preocupação actuar “antes que
acontecesse alguma desgraça”, como a do homem que morreu no início da semana em
Braga.
“Compreendo as
críticas, mas entre garantir a segurança das pessoas que circulam ali
diariamente e se calhar exceder-me um bocadinho no zelo da protecção, prefiro
isto”, remata.
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