Portugueses estão mais
preocupados com o ambiente, mas falta-lhes informação
Poluição do ar e da água está no
topo da lista de preocupações, segundo a análise dos inquéritos do Eurobarómetro
O estudo desenvolvido pelo
Observa permite também concluir que os portugueses valorizam cada vez mais a
“sustentabilidade local” e o comércio de proximidade. Segundo um estudo
promovido pelo IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação),
60% dos consumidores tentam comprar produtos portugueses sempre que estejam ao
seu alcance.
Marisa Soares /
6-5-2015 / PÚBLICO
Os portugueses
estão cada vez mais preocupados com o ambiente, mas debatem-se com a falta de
informação. Por exemplo, apesar de a maioria da população eleger a poluição do
ar como principal preocupação, as entidades oficiais não divulgam dados actualizados
sobre este indicador, que “não está a ser fiscalizado como deve ser pelo
Ministério do Ambiente”, critica Luísa Schmidt, especialista em sociologia do
ambiente.
Esta é uma das
conclusões do estudo Ambiente, Alterações Climáticas, Alimentação e Energia — A
Opinião dos Portugueses, desenvolvido pelo Observa — Observatório de Ambiente e
Sociedade do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa. O
estudo, apresentado ontem na conferência Consumo Sustentável — Uma atitude
verde, promovida pelo Green Project Awards, em Lisboa, assenta na análise dos
resultados dos últimos 20 anos do Eurobarómetro, inquérito que mede a opinião
dos europeus sobre vários assuntos, entre eles o ambiente.
Segundo Luísa
Schmidt, coordenadora do estudo, 51% dos inquiridos consideravam o tema “muito
importante” em 2011, uma percentagem que aumentou para 54% no ano passado,
números muito próximos da média da União Europeia. “É curioso, sobretudo porque
o ambiente não está na agenda política nem mediática neste momento”, comenta,
acrescentando que “cada vez mais os cidadãos associam o ambiente à qualidade de
vida e a uma base impulsionadora da economia”.
No entanto, a
avaliação que os portugueses fazem do estado do ambiente é “dramática”: 51%
consideram que é “mau” ou “muito mau”. A poluição do ar é a principal
preocupação para 66% dos inquiridos no Eurobarómetro de 2014 — realizado em
Maio, antes do surto de Legionella em Vila Franca de Xira, observa Luísa Schmidt.
Mas “muitas das estações de medição da qualidade do ar estão desactivadas,
porque não há dinheiro para a manutenção, e por isso a informação não é
divulgada”, critica. Defende que este indicador devia constar dos boletins
meteorológicos diários.
Em segundo lugar
na lista de preocupações está a poluição da água, que antes estava no topo. “As
pessoas vêem que a qualidade da água melhorou”, justifica.
“A maioria das
pessoas sente que pode ter um papel activo na protecção do ambiente, só não
sabe como”, afirma a investigadora, que advoga um reforço da aposta na formação
escolar. Por outro lado, Luísa Schmidt considera que deve ser dada mais voz aos
cientistas, actores em que a população mais confia no que toca às questões
ambientais. “Os mais jovens preferem que sejam os investigadores a tomarem
decisões, em vez dos políticos”, sublinha.
Para a socióloga,
os portugueses começam a afastar-se de uma vida ligada ao consumo para
valorizar mais a qualificação ambiental. “Esta passa pelo uso gratuito de
espaços públicos, como jardins, mas também pelo fenómeno das hortas urbanas ou
dos mercados de bairro”, observa. Defende que as gerações mais jovens, mais
conscientes no que toca a problemas como as alterações climáticas ou as
energias renováveis, precisam de “espaços de respiração para poderem inovar”.
O estudo
desenvolvido pelo Observa permite também concluir que os portugueses valorizam
cada vez mais a “sustentabilidade local” e o comércio de proximidade. Segundo
um estudo promovido pelo IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias
Empresas e à Inovação), 60% dos consumidores tentam comprar produtos
portugueses sempre que estejam ao seu alcance.
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