Pedidos
de Sócrates: 10 mil euros não chegavam para dois dias
Entregas
de dinheiro a Sócrates ocorriam a um ritmo de três vezes ao mês.
Às vezes, 10 mil euros não chegavam para dois dias. Detalhes
constam do livro de Fernando Esteves, lançado hoje.
LUSA / OBSERVADOR /
Rita Dinis /
14-5-2015
Num ritmo médio de
três vezes por mês, José Sócrates recebeu 40 fatias de dinheiro
das mãos do empresário e amigo de infância Carlos Santos Silva,
durante o ano em que o processo foi vigiado pelo Ministério Público.
Havia dias em que pedia 10 mil euros e, dois dias depois, voltava a
pedir outros 10 mil. Não a pedir, a ordenar, mais precisamente. Os
detalhes das transferências, citados pelo Expresso, constam do mais
recente livro sobre os bastidores da vida política de José
Sócrates, lançado hoje.
Cercado – Os dias
fatais de José Sócrates, da autoria do jornalista da revista
Sábado, Fernando Esteves, é lançado esta quinta-feira e revela
detalhes até agora desconhecidos do público sobre um total de 40
entregas de dinheiro feitas, direta ou indiretamente, pelo empresário
Carlos Santos Silva a José Sócrates ao longo de um ano a um ritmo
médio de três vezes ao mês. Conta, por exemplo, que, a 2 de abril
de 2014 é feita uma entrega, pessoalmente, de 10 mil euros, que
Sócrates dizia precisar para pagar à sua secretária, para pagar as
contas na sua agência de viagens e para cobrir as despesas com a
renda da casa que mantinha em Paris. Dois dias depois, a 4 de abril,
Sócrates é escutado a dizer que a quantia não tinha chegado e
pedia nova remessa de 10 mil.
Ou melhor, ordenava
nova remessa. Na verdade, segundo escreve Fernando Esteves, “o
Ministério Público sublinha que, nos telefonemas em que solicitava
o envio de quantias monetárias, o ex-primeiro-ministro não pedia –
ordenava”. É também por isso, continua o autor do livro, que os
investigadores “acreditam que o dinheiro, na verdade, lhe
pertencia”, ainda que no decurso dos interrogatórios ligados à
Operação Marquês, o alegado testa de ferro tenha sempre
justificado o tom como “normal”, dada a amizade e proximidade
entre os dois que não requer tons “cerimoniosos”.
As descrições das
entregas são pormenorizadas, descrevendo inclusive como Sócrates
ficava sistematicamente sem plafond no cartão de crédito e tinha de
voltar a telefonar ao amigo para pedir mais “livros” ou
“fotocópias”. Segundo se lê nos excertos do livro divulgados
pelo Expresso, esse dinheiro servia basicamente para tudo: “pagar
roupa, salários, rendas, condomínios, viagens”. Santos Silva terá
admitido ao MP ter entregado um total de 550 mil euros em dinheiro a
Sócrates.
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