EDITORIAL / PÚBLICO
À
terceira e com três será de vez?
DIRECÇÃO EDITORIAL
15/05/2015 - 21:34
Será desta que se
vai entregar as chaves dos aviões da TAP a privados? Não é certo
que seja.
Há mais de 15 anos
foi dado o pontapé de partida para a privatização da TAP, num
processo com muita turbulência, com altos e baixos, e que ainda está
longe de chegar ao fim. Na altura João Cravinho tentou alienar 49%
da empresa à Swissair, mas os suíços acabariam por entrar num
processo de ruptura financeira e a venda foi abortada. Em 2012,
depois de assumir o compromisso com a troika, e já com o actual
Governo, há uma nova tentativa de privatizar a empresa, mas Germán
Efromovich foi o único a dizer presente. O brasileiro/colombiano
ofereceu 35 milhões pela empresa, e comprometeu-se a injectar 166
milhões no imediato e outros 150 milhões num prazo de 18 meses,
tendo igualmente assumido o compromisso de ficar com a dívida de
1034 milhões. O negócio acabou por não se concretizar supostamente
porque Efromovich não apresentou a garantia bancária devida.
Agora, à terceira
tentativa poderá ser de vez, já que a concurso apresentaram-se três
candidatos: além do habitué Germán Efromovich, também o americano
David Neeleman e o empresário português Miguel Pais do Amaral. A
probabilidade desta vez de o negócio não avançar é mais reduzida,
já que há por onde escolher, embora ainda não se conheça o mérito
e a bondade de cada uma das propostas.
Os três candidatos
têm um currículo de sucesso empresarial e uma carteira de negócios
onde assenta bem uma empresa com o perfil da TAP. Mas também têm
fragilidades. Efromovich ficou com a imagem beliscada depois da falsa
partida em 2012. Como é possível não apresentar uma garantia de 25
milhões num negócio que envolve muitos mais milhões de euros?
Neeleman não tem passaporte comunitário e terá de se socorrer de
um parceiro nacional para tentar contornar a limitação de Bruxelas
que impede não-europeus de controlar companhias aéreas da região.
E Pais do Amaral não se lhe conhece nenhuma experiência na aviação,
devendo colmatar tal lacuna também com uma parceria com alguém que
conhece o sector.
Um deles deverá
chegar ao final deste mês com um acordo fechado com o Governo, mas o
comprador só entrega o cheque ao Governo e só receberá as chaves
da TAP depois de ter todas as autorizações legais, o que significa
que a operação só deverá ficar formalmente concluída depois das
eleições. E aqui coloca-se um outro grande ponto de interrogação
neste processo de privatização. Se António Costa ganhar as
eleições vai abortar a venda da companhia, como já deu a entender?
O secretário-geral do PS já se mostrou contra a venda de mais de
metade do capital e a resolução do conselho de ministros que
aprovou o caderno de encargos dá margem ao próximo governo para,
invocando o interesse público, cancelar a operação. Seria inédito,
mas é mais uma incógnita com que a TAP terá de viver nos próximos
meses.
Pais
do Amaral apresentou proposta para comprar a TAP
RAQUEL ALMEIDA
CORREIA 15/05/2015 - 16:32 (actualizado às 16:53)/ PÚBLICO
Empresário
português junta-se a Efromovich e a Neeleman na corrida pela
companhia portuguesa.
Miguel Pais do
Amaral avançou com uma proposta de compra da TAP, em nome da Quifel
Holdings, a sua holding pessoal. Junta-se, assim, a Germán
Efromovich, que controla o grupo sul-americano Avianca e que regressa
depois de uma primeira tentativa ter fracassado em 2012, e a David
Neeleman, dono da Azul e da Jetblue, que integra no seu consórcio o
empresário português Humberto Pedrosa, presidente da Barraqueiro.
Haver três ofertas
de compra era o melhor cenário esperado pelo Governo, já que, como
sempre sublinhou, o sucesso desta privatização depende muito do
grau de competição entre investidores. Aguarda-se, neste momento, a
confirmação se que não há mais nenhuma proposta pela TAP.
Nas próximas
semanas, o executivo decidirá quem será o vencedor, também com
base nos pareceres da administração da transportadora aérea, da
Parpública (holding do Estado que controla a companhia) e da
comissão de acompanhamento da venda, liderada por João Cantiga
Esteves.
A intenção do
Governo, que convocou os jornalistas para uma conferência de
imprensa nesta sexta-feira, pelas 20h, onde fará um balanço das
propostas apresentadas, é escolher o vencedor e fechar o contrato
até ao final de Junho. No entanto, a transferência das acções só
acontecerá nos meses seguintes, já que serão necessárias as
autorizações dos reguladores.
Este calendário
apertado gerou fortes preocupações junto dos investidores, já que
as eleições legislativas acontecerão no Outono e o
secretário-geral do PS já deixou o aviso de que tudo fará para
reverter o negócio se chegar ao poder. Uma cláusula inscrita no
caderno de encargos dá-lhe, aliás, esse poder, ao prever a
suspensão da venda até que a compra seja formalizada, se estiver em
causa o interesse público.
Este foi um dos
temas das reuniões que o Governo manteve na quarta-feira, com
representantes de Germán Efromovich, e na quinta-feira, com David
Neeleman. Nesses encontros, que decorreram no Ministério das
Finanças, o executivo tentou passar a mensagem de que muito
dificilmente o PS passaria a "ameaça" à prática.
Outro motivo de
preocupações foi a instabilidade laboral que a TAP vive, tendo
saído recentemente de uma greve de dez dias convocada pelo sindicato
dos pilotos. A reduzida adesão aos protestos foi o argumento que o
Governo utilizou para convencer os potenciais candidatos de que não
existem grandes riscos a este nível.
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