Governo
defende venda da TAP com risco de desconfiança dos investidores
Resolução
apresentada ao tribunal como resposta à providência cautelar alerta
para perigo de suspender privatização num momento crítico.
Efromovich e Neeleman têm de apresentar hoje as suas propostas
Raquel Almeida
Correia / 5-6-2015 / PÚBLICO
A resposta que o
Governo ontem fez chegar ao Supremo Tribunal Administrativo para
travar a suspensão da venda da TAP, desencadeada pela providência
cautelar da Associação Peço a Palavra, está sustentada, em grande
parte, no risco de quebra de confiança dos investidores. Na
resolução aprovada em Conselho de Ministros, alerta-se para os
perigos de parar o processo agora, quando hoje termina o prazo para a
entrega de propostas finais de compra pela companhia de aviação.
O PÚBLICO sabe que
a resolução fundamentada invocando interesse público, a segunda
apresentada pelo Governo no período de 15 dias para prosseguir com
esta privatização, argumenta que a suspensão da venda neste
momento seria crítica, destruindo a confiança depositada pelos
investidores e demovendo-os de fazer novas propostas pela TAP no
futuro, se o processo tivesse de ser relançado.
O executivo defende,
por isso, que se mantenha o calendário delineado, e que conhece hoje
mais uma etapa importante, pedindo que seja levantada a proibição
de exercer actos administrativos tendentes à alienação da empresa.
Esta proibição foi
consumada na quarta-feira, quando o Supremo Tribunal Administrativo
decidiu aceitar a providência cautelar movida pela Associação Peço
a Palavra, ligada ao movimento Não TAP os Olhos. Esta providência
cautelar, a segunda movida pela associação, alega que o diploma da
privatização da TAP é ilegal, já que não houve concurso público
para escolher os consultores que fizeram a avaliação financeira da
empresa.
Já em Maio, perante
a aceitação da primeira providência, o Governo tinha aprovado em
Conselho de Ministros uma resolução fundamentada para entregar aos
juízes e, com isso, levantar a suspensão do processo. Desta vez, os
argumentos usados condizem com o timing do negócio.
Germán Efromovich,
que controla o grupo sul-americano Avianca, e David Neeleman, dono da
Azul e parceiro do empresário português Humberto Pedrosa, têm
estado em negociações com o executivo nas últimas duas semanas e
terão de entregar hoje, até às 17h, novas propostas pela TAP. A
intenção é escolher o vencedor no Conselho de Ministros de 11 de
Junho, embora ainda haja sempre a possibilidade de suspender a venda,
o que obrigará a uma reestruturação profunda da transportadora
aérea.
Além dos riscos ao
nível da confiança dos investidores, a resolução que o Governo
entregou ontem ao tribunal também defende que, sem privatização, o
futuro da companhia vai ficar em risco, existindo uma necessidade
urgente de reforçar a capacidade económico-financeira do grupo.
O executivo também
reitera um argumento que tem vindo a usar desde que decidiu lançar a
venda da TAP em 2012: o facto de o Estado estar impedido de injectar
dinheiro na empresa, a não ser à custa de um plano de
reestruturação que poderá ter consequências ao nível social e
económico, à semelhança de outros processos deste tipo que têm
sido autorizados pela Comissão Europeia.
As fragilidades da
empresa
O Governo chega
mesmo a dizer que, se a venda não prosseguir, pode não só
tornar-se obrigatória uma reestruturação, como a insolvência da
transportadora aérea, explicando que esta se encontra numa situação
de ruptura financeira, que considera ter sido agravada pela
instabilidade laboral que a TAP tem vivido nos últimos meses. Para o
provar, são enumeradas algumas das fragilidades da empresa,
nomeadamente os capitais próprios, que estão negativos em mais de
500 milhões de euros, e a dívida acumulada (com destaque para as
necessidades de refinanciamento no curto prazo).
A resolução expõe
ainda algumas das características da TAP e a sua importância para o
país, nomeadamente para sectores como o turismo. E salienta o facto
de a sua venda ter sido inscrita no programa do Governo e também no
memorando de entendimento assinado com a
troika.
Para o executivo, o
facto de o programa de ajustamento já ter terminado não significa
que alguns dos compromissos que nele constavam desapareçam, porque
vão além do período temporal do acordo feito com os credores
internacionais em 2011.
Apesar de o Governo
ter invocado, junto do Supremo Tribunal Administrativo, o interesse
público da venda da companhia para prosseguir com a operação, a
Associação Peço a Palavra também já veio dizer que não está
disposta a desistir. O seu promotor, o cineasta António-Pedro
Vasconcelos, explicou na quarta-feira que já estava a ser preparada
a oposição à resolução que o Conselho de Ministros viria a
aprovar ontem.
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