Tsipras
cedeu um pouco: a tragédia grega segue dentro de momentos
Sorrisos
prenunciavam progressos no encontro entre Alexis Tspiras, Angela
Merkel e François Hollande em Bruxelas
Primeiro-ministro
grego reuniu-se em Bruxelas com François Hollande e Angela Merkel,
que acredita que o compromisso é possível. “Quando há vontade as
soluções aparecem”, garantiu a chanceler alemã
Rita Siza /
11-6-2015 / PÚBLICO
O primeiro-ministro
da Grécia, Alexis Tsipras, apareceu na reunião com a chanceler
alemã Angela Merkel, e o Presidente francês, François Hollande,
com um ramo de oliveira na mão, depois de ter rejeitado como
inaceitáveis as exigências da troika em troca do derradeiro
pagamento do programa de resgate financeiro (e que é indispensável
para o país honrar os seus compromissos internacionais). Para provar
que não vai arriscar a bancarrota ou a saída do país do euro,
confirmou que estava preparado para aceitar um excedente orçamental
primário de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, como pedem
os credores, “sob determinadas condições”.
As metas orçamentais
eram um dos mais fortes pontos de contenda entre as instituições
credoras (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e
Comissão Europeia) e o Governo de Atenas. A Grécia pretendia fixar
o superávit primário, ou seja, o balanço das receitas e das
despesas sem o pagamento de juros, nos 0,6% do PIB, mas Alexis
Tsipras sabia que esses eram os termos onde a sua margem de manobra
negocial era mais “elástica”. Ao fim do dia, fontes do Governo
grego confirmavam a disponibilidade para aceitar a meta definida pela
troika — e mais do que os reflexos financeiros desse acerto, os
observadoras destacavam a importância do gesto.
Os três líderes
europeus reuniramse ao início da noite em Bruxelas: foi preciso
esperar pelo fim do jantar oficial que encerrou os trabalhos da
cimeira entre a União Europeia e os países da Comunidade de Estados
Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), que concentrou as atenções
durante o dia. Mas as movimentações já se tinham intensificado
antes do ansiado encontro em pessoa desta nova espécie de troika
negocial: a conta-gotas, foram-se sucedendo sinais de “abertura”,
“flexibilização”, “cedências” e “concessões” de uma e
outra parte, que indicavam uma “aproximação de posições”.
“A mensagem que
quero deixar é esta: nenhuma solução será má para a Grécia,
para a União Europeia ou para a zona euro”, sublinhou François
Hollande, elevando as expectativas de um desfecho positivo do
processo, que se arrasta há cinco meses. “Quando há vontade, as
soluções aparecem”, vaticinou Angela Merkel. Mas segundo o
porta-voz do Governo alemão, a solução não passará por
negociações ad-hoc, ou o “relaxamento” das regras do programa:
informações avançadas pela Bloomberg, sobre a suposta
disponibilidade da chanceler em facilitar o pagamento da última
tranche de 7,2 mil milhões de euros à Grécia, mediante a aprovação
imediata de pelo menos uma das reformas defendidas pelos credores,
foram desmentidas como “uma pura invenção” pelo assessor de
Merkel.
Deixando para trás
a tensão da última semana, o presidente da Comissão Europeia e
anfitrião da cimeira, Jean-Claude Juncker, recebeu efusivamente
Tsipras, com beijos e abraços e um sorriso aberto. “Os dois
trocaram ideias, numa conversa detalhada e um clima muito
construtivo, e concordaram em voltar a ver-se amanhã [hoje]”,
informaram os assessores gregos. Um encontro com o presidente do
Conselho Europeu, Donald Tusk, também estava a ser combinado.
A Grécia não
conseguiu convencer os credores com a sua contraproposta avançada no
início da semana, que foi considerada “insuficiente” informou um
porta-voz da Comissão Europeia. Ainda assim, o BCE acedeu a um
aumento de 2,3 mil milhões de euros dos fundos disponíveis para a
banca grega através do programa de Assistência de Liquidez de
Emergência, que passou para os 83 mil milhões de euros. A medida
não impediu, porém, que a agência de notação financeira Standard
and Poor’s rebaixasse a nota da Grécia para “CCC” (apenas dois
pontos acima do default), por entender que, sem um acordo, o país
não terá condições para pagar a dívida a partir de Setembro.
O prolongamento do
impasse deixa tanto o primeiro-ministro grego como a chanceler alemã
à mercê das críticas dos seus apoiantes, que não querem
cedências. Na Alemanha, os conservadores exigem firmeza quanto ao
cumprimento do programa dos credores. “Ou então já não estamos a
falar de um programa de ajuda, mas antes do sustento de um sistema
que simplesmente não funciona”, criticou Michael Frieser, do
partido social cristão da Bavária (CSU).
Do lado grego, os
sinais de descontentamento também se multiplicam, e aumenta a
pressão sobre o Governo para rejeitar qualquer compromisso que
implique novas medidas de austeridade. Os comunistas prometeram
trazer os seus militantes para a rua em protesto contra as políticas
económicas de Tspiras, e falaram numa “frente de resistência
combativa” ao que designam como o quarto memorando de entendimento
de Atenas.
Em declarações em
Estrasburgo, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz,
criticou a abordagem das instituições durante as negociações com
a Grécia, que na sua opinião se concentrou em ganhos de curto prazo
que dificilmente conseguirão ser sustentados. . “Temos de ser
honestos e reconhecer que, o que quer que seja que venha a ser
decidido nesta semana ou na próxima, não vai resolver os problemas
da Grécia”, disse. Para Schulz, a solução passa por uma
“estratégia de longo prazo” que garanta o retorno ao
crescimento, e não medidas como a subida do IVA ou o corte das
pensões, com as quais não concorda.
Bagão
Félix. “As autoridades europeias querem livrar-se da Grécia”
CLÁUDIA SOBRAL
11/06/2015 00:03:00
/ Jornal i online
Economista
disse no seu espaço de comentário que lhe parece que "estão
todos a fazer figura de presença apenas" nas negociações.
Foram palavras
fortes as que Bagão Félix usou para descrever o impasse nas
negociações entre Atenas e os parceiros europeus enquanto decorria
uma reunião do primeiro-ministro Alexis Tsipras com Angela Merkel e
François Hollande à margem de uma cimeira entre a UE e os países
da América Latina e das Caraíbas.
“Eu vou ser muito
honesto: já não consigo perceber a situação na Grécia”,
começou por dizer o economista quando questionado sobre o problema
grego no seu habitual espaço de comentário na SIC Notícias. “A
campanha eleitoral começou por uma espécie de trapezismo, como se
fosse possível tudo e mais alguma coisa, estes últimos quatro meses
têm sido meses de relativo malabarismo, entre as instituições da
União Europeia e a Grécia, e finalmente, depois do trapezismo e do
malabarismo, a Grécia está a ser sujeita ao contorcionismo.”
E foi mais longe o
ministro das Finanças do governo de Santana Lopes: “A minha
intuição é que as autoridades europeias querem livrar-se da
Grécia.” Para o economista, “só ainda não se livraram porque
não têm a certeza dos riscos” que podem advir dessa decisão.
Bagão Félix
reconhece que “a situação grega é muito difícil” mas alerta
por outro lado para o facto de a Grécia ser “praticamente o único
país” da União Europeia que no primeiro trimestre deste ano
voltou à recessão. Por isso mesmo, rematou, “devia haver menos
ilusão por parte das autoridades” gregas.
No seu entender, a
reunião desta quarta-feira não dará, mais uma vez, em nada, e
concretizou: “Dá-me a sensação que estão todos a fazer figura
de presença apenas.”
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