quarta-feira, 10 de junho de 2015

O Reino Unido pretende reformar a UE para beneficio de todos


O Reino Unido pretende reformar a UE para beneficio de todos
PHILIP HAMMOND 11/06/2015 - PÚBLICO

Temos de trabalhar com os nossos parceiros europeus para acordar um pacote de reformas que garanta que a UE esteja preparada para o século XXI.

Nos últimos anos, um pouco por toda a Europa assistimos ao crescimento de partidos anti-União Europeia - em eleições locais, nacionais e europeias. Temos que dar resposta a este fenómeno tornando a UE mais democrática e muito mais bem equipada para garantir o crescimento e o emprego que os seus cidadãos esperam.

Desde que o Reino Unido entrou, a UE transformou-se radicalmente. A queda da Cortina de Ferro conduziu à expansão da UE com a entrada de 16 novos Estados-Membros; criou-se o Euro e as regras comunitárias regulam agora várias áreas, desde o ambiente às políticas sociais. Não há dúvida que a adesão trouxe benefícios evidentes ao Reino Unido em algumas áreas. Mas noutras conduziu a uma perda de soberania nacional e a um aumento da carga burocrática sobre as empresas que fez com que o apoio do povo britânico à permanência do país na UE diminuísse drasticamente.
Mas o que pretende então o Governo Britânico com esta negociação? Para restabelecer a confiança do povo britânico na UE temos de trabalhar com os nossos parceiros europeus para acordar um pacote de reformas que garanta que a UE esteja preparada para o século XXI; reformas que beneficiem não só o Reino Unido, mas todos os 28 Estados-Membros.
Em primeiro lugar, em matéria de crescimento e emprego, a verdade inconveniente é que a taxa de crescimento na UE é muito inferior à necessária para reduzir o desemprego para níveis aceitáveis e para responder aos desafios não só da Ásia, mas também dos Estados Unidos. Se quisermos preservar os níveis de vida europeus, temos que dar condições às nossas empresas para competirem mais eficazmente no mundo, através do aprofundamento do mercado único, especialmente nas áreas dos serviços, do digital e da energia. Temos que estar abertos ao comércio mundial e concluir os acordos comerciais com os EUA, o Japão e outras economias desenvolvidas, e também com as economias em rápido crescimento na Ásia e na América do Sul. E temos que criar um quadro regulamentar que apoie, em vez de dificultar, a actividade das empresas com vista a gerar o crescimento e o emprego de que precisamos.
Em segundo lugar, queremos reformas que permitam que os países que pretendem maior integração possam avançar nesse sentido, respeitando os interesses daqueles que a não querem. Isto aplica-se mais claramente na zona euro, onde o Reino Unido não pretende evitar maior “Euro-integração” - na realidade apoia-a. No entanto, precisamos de garantias de que os interesses daqueles que não estão no Euro sejam protegidos. Este conceito de uma Europa a dois pilares, com uma relação bem definida entre os países dentro e fora da zona euro, no seio de um mercado único e partilhando as mesmas instituições, fundamenta-se na arquitectura já existente para Schengen e para a União Bancária, e é bom para todos. Permite que se avance na integração da zona euro, respeitando os interesses dos outros Estados-Membros. E reconhece que o conceito de “ever closer Union” (cada vez maior integração) é apelativo para alguns Estados-Membros, mas certamente não para todos.
Em terceiro lugar, consideramos que os parlamentos nacionais devem ter um papel maior, tanto em estabelecer a ligação entre os cidadãos e as decisões comunitárias, como na aplicação correcta do conceito de subsidiariedade - a ideia de que as decisões devem ser tomadas tão próximo quanto possível dos cidadãos por elas afectados. Com demasiada frequência a UE tem exercido o poder em áreas onde a tomada de decisão poderia ter sido a nível nacional, regional ou local, sem interferir com o funcionamento do mercado único ou com o funcionamento eficaz da UE. Queremos reforçar o papel dos parlamentos nacionais permitindo que no futuro possam, em grupo, bloquear regulamentação comunitária. A UE deve respeitar os níveis de governo que estão mais próximo dos cidadãos e que são mais directamente responsabilizados por eles. Estamos de acordo com o Governo Holandês: "Europa quando necessário, nacional sempre que possível".
Em quarto lugar, enquanto que aceitamos a livre circulação de pessoas para trabalhar como uma das quatro liberdades fundamentais da UE - e esta negociação não pretende restringir essa liberdade -, queremos, no entanto, proteger o nosso sistema de protecção social contra abusos e reduzir os incentivos que encorajam trabalhadores altamente qualificados a virem para o Reino Unido trabalhar em empregos de baixa especialização. Este fenómeno compromete o crescimento económico nos seus países de origem e faz com os cidadãos dos paises de destino deixem de considerar justo o princípio da livre circulação. É necessário também desenvolver outras liberdades, em particular a livre circulação de serviços e de capitais, para assegurar que não seja apenas a livre circulação de pessoas a contribuir para a convergência dos padrões de vida na Europa.
Avançamos para esta negociação de forma positiva e empenhada, ouvindo os nossos parceiros e com a intenção de chegar a acordo em reformas que ajudem todos os Estados-Membros a prosperar no século XXI.
Vamos negociar um pacote de reformas e depois daremos a palavra ao povo britânico, perguntando de forma simples e directa, se quer ficar ou sair da UE, num referendo antes do final de 2017, ou mais cedo se for possível.
Está muita coisa em jogo: o Reino Unido é uma economia grande e aberta com uma longa história e um papel importante no plano mundial, que pode contribuir enormemente para o sucesso da Europa. Se conseguirmos resolver as questões que têm preocupado o povo britânico e se conseguirmos a vitória do “Sim” no referendo, teremos acautelado a questão do lugar do Reino Unido na Europa e capacitado o nosso país para desempenhar um papel totalmente empenhado numa UE mais competitiva, mais próspera, mais voltada para o exterior e mais confiante no futuro.
É esse o resultado que realmente melhor defenderá os interesses dos cidadãos europeus de ambos os lados do Canal da Mancha.


Ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico

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