Reinventar Belém como se fosse
1940
KATHLEEN GOMES
23/06/2015 - PÚBLICO
Gestor de uma nova missão que
visa potenciar o turismo em Belém, António Lamas apresentou a sua primeira
acção: uma exposição sobre a requalificação urbana daquela zona de Lisboa
levada a cabo pelo Estado Novo.
O presidente do
Centro Cultural de Belém (CCB), António Lamas, não perdeu tempo em assumir as
suas novas funções de gestor de uma rede cultural e turística que integrará
cerca de 25 monumentos, museus e jardins da zona de Belém. Apenas seis dias
depois de o Conselho de Ministros ter aprovado a criação de uma entidade
destinada a potenciar aquela área de Lisboa como destino turístico – designada
por Estrutura de Missão da Estratégia Integrada de Belém – e ainda antes de
Lamas e a sua equipa terem proposto o seu plano de acção, a imprensa foi
chamada ao CCB, nesta terça-feira à tarde, para a apresentação de uma
exposição, a inaugurar no Outono, sobre um projecto político que reinventou
Belém – precisamente, o que Lamas quer fazer.
A Exposição do
Mundo Português de 1940 pode ter sido uma obra de propaganda do Estado Novo mas
é ela que “redignifica os Jerónimos e esta zona toda”, disse António Lamas aos
jornalistas. Houve fotografias para servir de prova: casas à frente do Mosteiro
dos Jerónimos em 1939, uma fumegante fábrica de gás à beira da Torre de Belém,
searas nas traseiras dos Jerónimos. “Até 1940, nem os Jerónimos conseguiram dar
dignidade à zona, que estava bastante degradada”, disse Lamas. “Toda esta zona,
que é o maior pólo cultural e turístico português”, disse, “só é compreensível
se percebermos que foi a Exposição do Mundo Português que transformou a zona de
Belém”.
Vai chamar-se
Exposição do Mundo Português – Explicação de Um Lugar, e destina-se, “em primeiro
lugar, a todos os que têm instituições aqui”, uma referência aos equipamentos
culturais de Belém, com diferentes tutelas, que passarão a estar articulados
sob a gestão conjunta de António Lamas. O presidente do CCB gostava que a
exposição tivesse lugar no Museu de Arte Popular, um dos edifícios que
subsistem da Exposição do Mundo Português, “mas isso ainda não está garantido”.
A apresentação
foi feita numa data simbólica: 75 anos após a abertura da Exposição do Mundo
Português, a 23 de Junho de 1940. E tanto Lamas como a co-comissária da
exposição, Margarida Magalhães Ramalho, apontaram a Exposição de 1940 como uma
intervenção urbanística positiva. “A preparação da Exposição do Mundo Português
começou em 1938, cerca de ano e meio antes da inauguração. Sem computadores,
sem telemóveis – é uma coisa extraordinária. Só com muito amor à camisola”,
disse Margarida Magalhães Ramalho. Questionada sobre se a exposição iria
“glorificar o Estado Novo”, a comissária respondeu que “está na altura de olhar
para a frente e não ver só preto e branco”. Margarida Magalhães Ramalho
rejeitou a ideia de que a Exposição do Mundo Português “é para abater porque é
uma obra do Estado Novo”. “Senão, não podemos olhar a baixa pombalina porque o
Marquês de Pombal trucidou a família Távora”, concluiu.
Lamas acrescentou
que a exposição não pretende “enquadrar a ideologia que fomentou” a Exposição
do Mundo Português, mas tem “um olhar urbanístico”.
O plano de Lamas
à frente da Estrutura de Missão da Estratégia Integrada de Belém é “resolver os
problemas dos equipamentos culturais e da própria zona, em termos globais”. Questionado
sobre como vai funcionar na prática a gestão conjunta dos vários equipamentos,
pediu mais tempo: “Esperem um pouco”. Tem um prazo de 60 dias para apresentar o
seu plano estratégico ao Governo. Com eleições à porta, em Outubro, que
garantia tem de poder executá-lo, perguntaram. “Não tenho garantia nenhuma.
Tenho é de garantir aquilo a que me comprometi.”
Na terça-feira
foi também apresentado um novo site informativo e interactivo para turistas,
www.visitbelem.pt, que põe em prática o novo modelo de integração da zona de
Belém. O site, que já está em funcionamento, propõe diferentes percursos
temáticos, de acordo com o tipo de equipamento cultural e disponibilidade
temporal do visitante – Jardins de Belém, Belém Real, Belém dos Descobrimentos,
Belém Moderna. As línguas disponíveis são português e inglês, mas também irá
funcionar em espanhol. Um novo mapa infográfico e desdobrável com 18
instituições de Belém será também distribuído nesses locais.
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