Um
activo tóxico chamado José Sócrates
Ana Kotowicz
ana.kotowicz@ionline.pt
12/06/2015
Quando em 2007
começámos a ouvir falar da crise do subprime, José Sócrates era
primeiro-ministro. O nosso vocabulário nunca mais seria o mesmo e
quem não sabia aprendeu à força o que era o subprime, o que eram
activos tóxicos e que Fannie Mae e Freddie Mac não eram nomes de
personagens de sitcoms americanas. Depois foi tudo muito rápido.
Lehman Brothers, Merrill Lynch, AIG... A crise financeira tornou-se
sistémica e espalhou-se pela economia como um vírus. Por cá,
Sócrates via-se a braços com a polémica da sua licenciatura, que
hoje sabemos ser a ponta de um icebergue de escândalos.
Ao mesmo tempo que a
crise crescia, a sombra sobre Sócrates tornava-se mais escura. #E
percebia-se que os créditos que trouxera para o PS – como a
primeira maioria absoluta da história dos socialistas – não eram
tão seguros como se pensava. As polémicas acumulavam-se e o seu
nome aparecia associado aos casos Freeport e Face Oculta. A economia
portuguesa degradava-se e o nosso vocabulário aumentava: dívida
soberana, ratings, outlooks negativos. À velocidade com que tudo
sucedia, era normal (seria?) que também os PEC fossem I, II, III.
Não chegaram ao IV – Sócrates demitia-se, isolava-se em Paris e o
PS suspirava de alívio. Podia descolar-se de uma imagem gasta e de
um activo sobrevalorizado.
Mas o destino traiu
os socialistas e principalmente António Costa. O novo líder
socialista tinha tudo a seu favor para vencer a próxima corrida
eleitoral. Até Sócrates acabar detido em Évora. Assim como os
activos tóxicos transmitiram a crise do imobiliário americano ao
sistema financeiro mundial, uma parte do PS tem estado encarcerada
com o recluso 44.
E Sócrates não
parece preocupado com essa contaminação. Se estivesse, não teria
esperado pelo fim da convenção socialista para anunciar que nunca
aceitaria ir para casa com pulseira electrónica, decisão que estava
tomada desde a véspera. Mas o pior ainda está para vir, quando o
juiz tiver de reavaliar a manutenção da prisão preventiva, daqui a
três meses, em plena campanha eleitoral. Ou quando a acusação for
conhecida e a roupa suja estiver espalhada por toda a comunicação
social. Nessa altura, as manchetes voltarão a ser sobre José
Sócrates e, por muito que Costa queira, não conseguirá
“despoluir”, como ele próprio disse, a campanha. A coligação
PSD/CDS nem vai ter de sujar as mãos e levar o nome do antigo PM
para as caravanas eleitorais. Ele próprio fará isso. E se isso
custar uma derrota eleitoral ao PS, paciência. O escorpião não
muda de natureza.
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