O
FMI é o mau da fita?
Jorge Almeida
Fernandes / 25-6-2015 / PÚBLICO
As divergências
entre o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Eurogrupo são um
factor de perturbação nas negociações sobre a Grécia e reflectem
lógicas diferentes. O FMI só empresta dinheiro a um país cuja
dívida seja considerada viável, obedecendo a considerações
orçamentais. O Eurogrupo exige reformas económicas a Atenas mas as
suas prioridades são políticas: defender a moeda única e evitar
uma crise estratégica no Sueste europeu. Para o FMI, a manutenção
da Grécia no euro não faz parte da sua missão.
As divergências não
são lineares. Enquanto Berlim resiste a uma segunda reestruturação
da dívida grega antes de ver as reformas aprovadas em Atenas, o
Fundo considera urgente a redução da dívida de forma a torná-la
“viável”.
Foi a Alemanha quem,
em 2010, exigiu a participação do FMI, contra a opinião da França
e do Banco Central Europeu, então dirigido por Jean-Claude Trichet,
que defendiam a resolução da questão grega num quadro europeu. Uma
das razões de Merkel terá sido utilizar a severidade das regras do
FMI para forçar Atenas a fazer reformas. Outra teria sido diluir a
contribuição financeira dos europeus aos olhos dos eleitores.
Esta “parceria”
levantou problemas ao FMI porque a Grécia, fazendo parte da União
Monetária, não podia desvalorizar a moeda. O Fundo, então dirigido
por Dominique Strauss-Kahn, abriu “uma isenção sistémica” para
intervir e evitar o contágio a outros países do euro. Além de se
preocupar com o euro e com a Europa, Strauss-Kahn era um virtual
candidato à presidência francesa.
Os críticos de
Christine Lagarde, a actual directora-geral, frisam que o seu mandato
expira em 2016 e ela quer ser reeleita. Está sob vivas pressões dos
países emergentes no Conselho de Governadores, que criticam as
condições concedidas à Grécia, um país que, se comparado com
muitos outros, pode ser considerado rico. “O estatuto de favor dado
à Grécia alimenta a frustração dos países emergentes que o
consideram injusto”, diz Desmond Lachman, antigo quadro do Fundo na
Europa.
Atenas contra o
Fundo
O FMI teme também
os riscos de um fiasco grego para a sua credibilidade. De resto,
conhece a sua fama de “polícia mau” e não aprecia que Alexis
Tsipras denuncie a “responsabilidade criminosa” do FMI.
A lógica do Fundo
foi explicada pelo seu economista-chefe, Olivier Blanchard.
Insistindo na redução da dívida grega, é intransigente nas
reformas. Escreveu: “Pelo jogo democrático, os cidadãos gregos
fizeram saber que não queriam certas reformas. Nós pensamos que
elas são necessárias e que sem elas a Grécia não conseguirá
assegurar um crescimento duradouro, arriscando-se a endividar-se
mais.”
Por que insiste nas
pensões, uma das “linhas vermelhas” de Tsipras? “[Pensões] e
salários representam cerca de 75% das despesas primárias; as
restantes 25% já foram reduzidas à ínfima expressão. As pensões
representam mais de 16% do PIB e as transferências do orçamento
para o sistema de pensões estão próximas de 10% do PIB.” Propõe
salvaguardas “para os reformados mais vulneráveis”. E insiste
numa reforma fiscal e no aumento do IVA.
Sendo o FMI o
defensor de uma das medidas mais reclamadas pela Grécia - a redução
da dívida - por que é que o Governo grego quer encontrar “uma
solução sem a participação do FMI” que, segundo o ministro de
Estado Nikos Pappas, “tem uma agenda unilateral e de nenhuma forma
europeia”? Responde o jornalista italiano Vittorio Da Rold: Tsipras
quer fazer passar o seu plano no Parlamento grego e, sobretudo, quer
preservar a base eleitoral do Syriza - funcionários públicos,
assalariados do privado e pensionistas.
Voltando à mesa das
negociações. Vai manter-se o braço-de-ferro entre europeus e FMI?
Diz à AFP um antigo director executivo do FMI: “A instituição
tem poucas escolhas, a dias do fim do prazo para Atenas reembolsar o
Fundo. O FMI quer intensificar a pressão sobre os europeus.
Aproxima-se o fim do jogo e cada um está a queimar os últimos
cartuchos.”
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