Oposição
critica concessão de pavilhões com um “golfinho” a ligá-los
O
CDS defende que a mudança de concessionário não devia ter sido
feita sem um concurso público e critica que a renda se vá manter,
apesar de a superfície de pavimento dos restaurantes ir quase
duplicar
Inês Boaventura /
18-6-2015 / PÚBLICO
Foram tantas as
dúvidas levantadas pela oposição na Câmara de Lisboa
relativamente à intervenção prevista para os antigos BBC e Piazza
di Mare, na zona ribeirinha de Belém, que a proposta acabou por ser
adiada. Para lá da ligação que vai ser feita entre os dois
pavilhões, através de uma escultura em forma de golfinho, os
vereadores questionam o processo de entrega dos imóveis aos actuais
concessionários.
“É uma coisa
absolutamente inacreditável. Fiquei de cabelos em pé com isto”,
admite o vereador do CDS, referindo-se à forma como a Associação
de Turismo de Lisboa (ATL) atribuiu os pavilhões, que antes estavam
concessionados à empresa Espaço Poente, ao grupo Azinor. João
Gonçalves Pereira sublinha que está em causa uma cedência de
posição contratual a uma nova entidade, que foi feita “sem
concurso” e que “mantém a renda que estava”, algo que o
vereador não considera aceitável, atendendo a que nessa cedência
houve dois pressupostos que se alteraram relativamente àquilo que
estava antes em vigor: o prazo da concessão aumentou de 35 para 50
anos e “o objecto é diferente”. Isto porque, no seu entender, os
pedidos de licenciamento para obras de ampliação dos pavilhões que
estão agora em discussão permitirão “um ganho efectivo em termos
de área de exploração”, “sem que isso se repercuta na renda”.
O autarca centrista
considera que a ATL, à qual o município atribuiu, em 2012, a gestão
de um conjunto de espaços e edifícios ribeirinhos que antes
pertenciam ao Porto de Lisboa, devia ter promovido um concurso
público. “Em defesa do interesse público e da transparência”,
diz Gonçalves Pereira, que condena também a “conivência da
câmara” com os procedimentos adoptados pela associação presidida
por Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa.
Já Carlos Moura, do
PCP, diz que o seu partido tem “uma posição muito crítica”
relativamente a esta matéria. Entre outros aspectos, o vereador
lamenta que o período de concessão tenha sido estendido por 15 anos
“sem que se perceba como”. “É uma situação que urge
esclarecer”, afirma, defendendo que a prorrogação de prazo
“deveria ter sido alvo de discussão”.
Outra questão que
Carlos Moura quer ver esclarecida tem a ver com a criação prevista
de uma ligação, através de “um elemento escultórico em forma de
golfinho”, entre os dois pavilhões, na Avenida de Brasília. O
vereador sublinha que estão em causa “dois imóveis, duas licenças
de utilização e dois pedidos autónomos de licenciamento de obras e
de aumento da volumetria e da superfície pavimentada”, pelo que
não se entende “como é possível que apareça um elemento que faz
a ligação, criando um espaço único de utilização”.
O autarca comunista
também manifesta dúvidas sobre o facto de estar prevista a
introdução de “volumes paralelepipédicos revestidos a chapa
metálica e vidro” nos terraços dos edifícios. “São elementos
que aumentam as cérceas e que prejudicam o sistema de vistas”,
alerta.
Carlos Moura
sublinha ainda que os pavilhões em causa “são propriedade da
Câmara de Lisboa”, pelo que esta “tem uma palavra a dizer” em
todo este processo. Também João Gonçalves Pereira rejeita a
posição, que, segundo diz, foi defendida pela maioria na reunião
camarária privada que se realizou esta quarta-feira, de que “a
câmara não pode, jurídica e politicamente, invalidar uma
determinada operação urbanística com base em critérios de gosto”.
O vereador António
Prôa, do PSD, que o PÚBLICO não conseguiu contactar depois da
reunião camarária, já antes tinha também manifestado grandes
reservas em relação a todo o processo de transferência da
concessão para os novos concessionários e à proposta duplicação
da superfíce de pavimento dos dois restaurantes. Já o arquitecto
Nuno Leónidas, que desenvolveu o projecto para os antigos BBC e
Piazza Di Mare com o arquitecto António Pinto, declinou prestar
informações sobre o mesmo.
Também adiada, a
pedido da oposição, foi a proposta relativa à entrega à ATL do
Pavilhão Carlos Lopes. Carlos Moura adianta que o PCP tem “as
maiores interrogações e preocupações” sobre essa proposta,
manifestando o receio de que a associação possa funcionar como “uma
porta giratória para a privatização”.
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