Sócrates
pondera recusar pulseira electrónica e ficar na cadeia
PEDRO SALES DIAS e
MARGARIDA GOMES 06/06/2015 - PÚBLICO
Lei
faz depender uso da pulseira do consentimento do arguido e o
ex-primeiro-ministro tem dado conta aos que o visitam de que
discorda. Se se opuser no processo terá de o dizer pessoalmente ao
juiz Carlos Alexandre, que terá de decidir até terça-feira.
O Ministério
Público (MP) propôs a alteração da medida de coacção do
ex-primeiro-ministro José Sócrates, da prisão preventiva para a
prisão domiciliária, adiantou na tarde deste sábado, um dos seus
advogados, João Araújo, à saída da cadeia de Évora.
Porém, o
ex-governante pondera manifestar-se contra a saída da cadeia com
pulseira electrónica, apurou o PÚBLICO junto de três fontes
próximas de Sócrates, que sempre estiveram no seu núcleo duro no
PS. O ex-primeiro-ministro tem dado conta da sua discórdia face à
proposta do Ministério Público aos que o visitaram recentemente, o
que surge como uma demonstração de insatisfação e de força no
contexto do processo judicial e da sua imagem pública.
Confrontado com uma
mudança para casa, mas continuando formalmente preso, Sócrates
prefere manter-se na cadeia. É isto que tem expressado a quem o
visita, sublinhando não ter ainda tomado uma decisão.
Aliás, neste sábado
à porta da cadeia de Évora, o advogado João Araújo deu conta de
que discorda desta proposta por considerar que o seu cliente não
deveria estar sujeito a qualquer tipo de medida de coacção. A
defesa de Sócrates deverá agora tomar uma posição sobre a
proposta do Ministério Público.
"A mim
pessoalmente não me agrada. Não me agrada, porque acho que não há
motivos para qualquer medida de coacção, esta ou outra", disse
João Araújo, acrescentando ainda não saber em que sentido o seu
cliente se pronunciará. "O que a lei diz é que o arguido tem
de se pronunciar, portanto o engenheiro Sócrates tem até
terça-feira [quando termina o prazo para a reanálise da medida de
coacção] para se pronunciar", referiu ainda. O PÚBLICO tentou
várias vezes, sem sucesso, contactar João Araújo neste sábado.
A Procuradoria-Geral
da República também não confirmou oficialmente a proposta da
alteração da medida de coacção até ao início da noite deste
sábado.
Se Sócrates decidir
opor-se formalmente à atenuação da medida de coacção, a única
opção que restará ao juiz Carlos Alexandre será manter a prisão
preventiva. Em causa está a lei que regula os meios técnicos de
controlo à distância, neste caso, a vigilância electrónica,
através da respectiva pulseira.
A lei determina que
a aplicação da vigilância electrónica “depende do consentimento
do arguido” que é “prestado pessoalmente perante o juiz, na
presença do defensor, e reduzido a auto”. Não bastará, por isso,
que a posição chegue a Carlos Alexandre através dos advogados,
Sócrates terá de o dizer ao magistrado judicial, que terá de tomar
uma decisão até terça-feira, quando termina o prazo para a revisão
da medida de coacção.
De qualquer forma, a
proposta do procurador titular do processo, Rosário Teixeira, no
sentido de atenuar a medida de coacção, já condiciona a decisão
de Carlos Alexandre. De acordo com o que está previsto no Código de
Processo Penal, o juiz só poderá neste contexto sustentar a
manutenção da prisão preventiva com base no perigo de fuga e no
perigo de continuação da actividade criminosa. O risco de
perturbação do inquérito já não está em causa, uma vez que foi
o próprio Ministério Público, o titular da acção penal que
dirige o inquérito, a considerar que Sócrates pode sair da prisão.
Passos e Costa não
comentam
A revelação da
proposta do Ministério Público ocorreu numa altura em que decorria
a convenção nacional do PS. Questionado, o secretário-geral do PS
escusou-se a comentar. “[Digo] o que sempre disse. Sabem que eu,
decisões judiciárias, não comento”, limitou-se a dizer António
Costa. Também o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, preferiu não
reagir. “Não farei sobre isso nenhum comentário. É uma matéria
que está nesta altura na esfera de competência judicial e não
quero aditar nenhum comentário."
Sócrates foi
interrogado no final semana passada pelo procurador no Departamento
Central de Investigação e Acção Penal, em Lisboa. E logo então,
o advogado João Araújo revelou ter ficado “muito satisfeito”. O
ex-primeiro-ministro deverá entretanto voltar a ser interrogado em
Lisboa.
Na semana passada, a
sua defesa confirmou que o “interrogatório ficou suspenso e
continuará” quando os advogados tiverem “as cópias” de
documentos que requereram ao procurador, nomeadamente relativos a
contas bancárias na Suíça.
Sócrates está
preso preventivamente há quase sete meses. Entrou na cadeia de Évora
a 25 de Novembro de 2014, depois de vários interrogatórios que se
seguiram à sua detenção no Aeroporto de Lisboa, vindo de Paris, no
âmbito da Operação Marquês.
O ex-governante,
indiciado por crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de
capitais e corrupção, é actualmente o único arguido neste
processo que continua na cadeia.
Os restantes seis
arguidos no processo estão com medidas de coacção mais leves do
que a aplicada a Sócrates. O ex-motorista de Sócrates João Perna,
que esteve inicialmente na cadeia, foi libertado em Fevereiro, após
o juiz ter considerado que já não estava em causa os perigos de
fuga e de continuação da actividade criminosa. O empresário e
amigo de Sócrates, Carlos Santos Silva, saiu da cadeia e ficou em
prisão domiciliária no início da semana passada.
Igualmente o
administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca Rodrigues, suspeito de
ser um dos principais corruptores do ex-primeiro-ministro José
Sócrates, deixou no mês passado o Hospital-Prisão de Caxias e
regressou a casa, onde aguardará o desenvolvimento do processo em
prisão domiciliária.
Entre os restantes
arguidos estão o advogado Gonçalo Ferreira, o administrador da
Octapharma Paulo Lalanda Castro e António Morais, ex-professor de
Sócrates.
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