As
lojas tradicionais da Baixa: desafios presentes e futuros
ANTÓNIO SÉRGIO
ROSA DE CARVALHO 25/06/2015 – PÚBLICO /
http://www.publico.pt/local/noticia/as-lojas-tradicionais-da-baixa-desafios-presentes-e-futuros-1699989?frm=pop
Finalmente,
os proprietários das Lojas Tradicionais encontraram-se em Lisboa, e
estabeleceram contacto através de uma plataforma de “cidadania”.
Este é o exacto
título de um artigo da minha autoria, inserido no volume intitulado
“Reabilitação Urbana: bases para uma intervenção de
salvaguarda”
(https://www.academia.edu/3876080/Baixa_Pombalina_bases_para_uma_interven%C3%A7%C3%A3o_de_salvaguarda_Baixa_Pombalina_Bases_for_Intervention_and_Preservation)
, publicado em Junho
de 2005 pela CML, com a coordenaçào editorial de João Mascarenhas
Mateus, exemplo de um completo estudo de conteúdo, no contexto
preparatório da classificação da Baixa a Património Mundial.
Isto é relevante,
agora que a CML anunciou a sua intenção de reactivar a ideia da
Classificação, estendendo-a aos bairros históricos e
simultaneamente voltar a repetir a ideia/intenção, tantas vezes
repetida, de promover o programa “Lojas com História”, onde se
pretende simultaneamente defender as características
culturais/patrimoniais dos estabelecimentos históricos e promover o
comércio tradicional.
Ora, precisamente no
artigo acima referido e também em artigo publicado no PÚBLICO em
16/07/2006 Made in Portugal, eu descrevo as experiências que tive
oportunidade de desenvolver em lojas tradicionais com interiores de
valor histórico, em permanente colaboração com a Unidade de
Projecto Baixa-Chiado e o então IPPAR.
Assim, na antiga
alfaitaria Rosado Pires, na Rua Augusta, conseguiu-se convencer o
novo proprietário a manter todo o interior intacto, utilizando a sua
autenticidade como uma mais valia. Pena que, com o tempo, uma parte
do mobiliário original tenha desaparecido e o interior tenha sido
“funcionalizado”. O mesmo foi conseguido na Perfumaria Pompadour,
com projecto de interiores de Raúl Lino (agora Swarovski /Rua Garret
) assim como na farmácia Normal na Rua da Prata.
Isto serve apenas
para ilustrar que, embora estes processos tenham conhecido avanços e
recuos paradoxais e inexplicáveis, existe uma base de conhecimento
já considerável e aproveitável.
Um bom exemplo
destes paradoxos constitui a recusa de classificação, por parte do
IPPAR neste período, da Ourivesaria Aliança, juntamente com outros
importantes estabelecimentos que constavam nos dossiers completos
desenvolvidos pelo Núcleo dos Estudos do Património da CML.
No entanto,
posteriormente, sobre a pressão da Opinião Pública e Comunicação
Social, Manuel Salgado exigiu e garantiu a preservação deste
notável e insubstituível estabelecimento.
A vigilância e o
contacto entre os interessados é portanto fundamental.
Mas, e aqui chego ao
objectivo deste artigo, há que manter objectividade e pragmatismo
nos objectivos imediatos.
O acontecimento mais
importante no que respeita a salvaguarda concreta perante a ameaça
progressiva que constitui a Lei das Rendas, tomou lugar no Porto no
Hotel Intercontinental, numa conferência intitulada Reabilitar para
Revitalizar (PÚBLICO 20/09/2014) onde Rui Moreira exprimiu as suas
preocupações de forma confrontadora perante uma assembleia de
empreendedores e proprietários, ameaçando chegar ao ponto de
expropriar edifícios, caso os insubstituíveis estabelecimentos
históricos instalados no mesmos fossem ameaçados e consequentemente
extintos, pelo aumentos das rendas.
Ora, finalmente, os
proprietários das Lojas Tradicionais encontraram-se em Lisboa, e
estabeleceram contacto através de uma plataforma de “cidadania”.
Se isto fizer algum
sentido será, não apenas na troca de informações e de postais
“culturais”, ficando “entretidos” num circulo inefectivo,
enquanto a espada ameaçadora da Lei das Rendas continua a descer
sobre as suas cabeças, mas precisamente numa acção coordenada e
sistemática de forma a levarem Medina e Salgado a tomarem uma
posição explícita e pública de compromisso na defesa das Lojas
Tradicionais, perante a ameaça crescente para a sua existência e
sobrevivência, que a Lei das Rendas constitui.
Historiador de
Arquitectura
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