O
dia de todas as reuniões para decidir futuro da Grécia e do euro
JOÃO MANUEL ROCHA
21/06/2015 – PÚBLICO
Primeiro-ministro
grego apresentou novas propostas. Falta saber se vão ao encontro do
que é reclamado pelos credores. Verdadeiro teste será o Conselho
Europeu, ao final da tarde.
As horas que
antecederam as decisivas reuniões desta segunda-feira em Bruxelas,
que podem determinar a permanência ou a saída da Grécia da zona
euro, foram intensas para o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras,
que ouviu o seu executivo e se multiplicou em contactos com líderes
europeus, aos quais apresentou novas propostas.
O chefe do Governo
de Atenas presidiu este domingo a um Conselho de Ministros e
telefonou, segundo o seu gabinete, à chanceler alemã Angela Merkel,
ao Presidente francês, François Hollande, e ao presidente da
Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Fontes europeias disseram
que falou também com a directora do Fundo Monetário Internacional
(FMI), Christine Lagarde.
Tsipras tinha
previsto viajar ainda no domingo para Bruxelas, onde esta
segunda-feira decorrem discussões decisivas para a permanência, ou
saída, da Grécia da zona euro. Fonte europeia disse o líder grego
esteve em contacto com Juncker no sábado e deve encontrar-se com ele
ainda antes da reunião dos ministros das Finanças do Eurogrupo, a
meio da manhã, e do momento decisivo que é a cimeira dos chefes de
Governo dos países da moeda única, ao fim da tarde.
O Governo grego
informou que está também previsto um encontro de Tsipras com o
presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk nesta segunda-feira, e a
sua presença numa reunião alargada convocada por este. Nesse
encontro participarão Juncker, Lagarde, o presidente do Banco
Central Europeu (BCE), Mario Draghi, e o chefe do Eurogroupo, Jeroen
Dijsselbloem. O BCE convocou também uma reunião para avaliar a
situação dos empréstimos de emergência à banca grega.
“Não há tempo a
perder” e “cada segundo tem a sua importância”, disse François
Hollande, já depois de terem sido noticiados os contactos feitos por
Tsipras. O Presidente francês falava em Milão, ao lado do
primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, o qual pensa estarem
reunidas as condições para um acordo “vantajoso para todos”.
“Seria um erro não aproveitar esta janela de oportunidade”,
disse o líder italiano, que se mostrou optimista numa “conclusão
positiva”.
A presidente do
principal banco grego também acredita que haverá entendimento.
“Penso que o bom senso vai prevalecer, que haverá um acordo”,
disse Louka Katseli, presidente do Banco Nacional da Grécia,
ex-ministra da Economia pelos socialistas do Pasok, numa entrevista à
BBC.
A falta de um
entendimento que permita a libertação de uma tranche de 7200
milhões de euros de empréstimos anteriormente acordados está
dependente das actuais negociações e um fracasso poderá impedir a
Grécia de pagar os 1600 milhões de euros que deveria reembolsar ao
FMI até ao fim do mês.
O comunicado do
gabinete de Tsipras que informou dos contactos telefónicos com os
dirigentes europeus mantém a linguagem habitualmente usada pelos
negociadores helénicos – diz que as suas propostas visam um
“acordo mutuamente benéfico”. Afirma também que “deve levar a
uma solução definitiva e não provisória” do problema da dívida.
Não é adiantado se
as propostas que Tsipras comunicou os parceiros são novas ou vão ao
encontro do reclamado pela União Europeia, BCE e FMI. Vários
responsáveis europeus têm dito que sem novas propostas de nada
servirão as reuniões desta segunda-feira.
Possíveis cedências
A agência Bloomberg
noticiou, contudo, que entre as medidas discutidas este domingo pelo
Governo grego estão novos impostos, o fim das reformas antecipadas
de trabalhadores, uma taxa sobre as empresas com rendimentos
superiores a 500 mil euros anuais e uma “taxa de solidariedade”
para pessoas que ganhem mais de 30 mil euros.
A televisão privada
grega Mega noticiava que, a nível fiscal, Atenas está disposta a
mexer no IVA sobre alguns alimentos ou a hotelaria para aumentar as
receitas. No caso das pensões, embora sem dados concretos, foi
adiantado que a Grécia estaria receptiva a acabar com as reformas
antecipadas já em 2016 e a reduzir pensões complementares mais
elevadas. Poderia ainda manter um polémico imposto sobre a
propriedade imobiliária que se tinha comprometido a eliminar este
ano. Tsipras continuará, segundo a mesma fonte, a reclamar a
reestruturação da dívida e a não querer acabar com um subsídio
para os reformados nem a aumentar 10 pontos no IVA da electricidade.
No sábado, o
ministro de Estado Alekos Flambouraris, tinha sugerido a
possibilidade de ajustamentos que aproximem posições, desde que
haja entendimento sobre duas condições “indispensáveis”:
aceitação pelos credores de flexibilização orçamental e de uma
reestruturação da dívida – esta última é uma condição a que
Atenas atribui particular importância. Numa entrevista ao jornal
Ethnos, outro ministro de Estado, Nikos Pappas, disse que o Governo
não aceita cortes nas pensões e nos salários e insistiu numa
reestruturação da dívida.
Para a parte grega é
importante o horizonte temporal de um eventual acordo. “Não pode
ser de curta duração nem manter a incerteza”, disse Pappas,
aludindo ao receio de um acordo pontual que só satisfazesse
compromissos imediatos, seguido de novas negociações.
O diário alemão
Frankfurter Allgemeine Zeitung escreveu neste domingo, sem mencionar
fontes, que a última proposta da Comissão Europeia a Atenas prevê
a extensão até Setembro do programa de assistência que termina no
final de Junho, com 6000 milhões de euros - 3700 milhões dos quais
a desbloquear a breve prazo - e uma referência genérica à
reestruturação da dívida desejada por Atenas.
Confirmando-se
"novidade" nas propostas de Atenas, a palavra estará agora
do lado europeu. Num texto que escreveu para o mesmo jornal, o
ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, interpela
directamente Angela Merkel, sobre a qual os olhares recaem, dizendo
que a espera uma “escolha difícil”. Essa escolha é, em sua
opinião, entre “um acordo honroso com um Governo que recusa o
‘programa de resgate’ e aspira a uma solução negociada” ou a
cedência “às sereias do seu Governo, que a encorajam a deitar
fora o único Governo grego que é fiel aos seus princípios e que
pode conduzir o povo grego no caminho das reformas”.
Na bagagem para
Bruxelas, Tsipras levou o conforto de uma sondagem divulgada este
domingo pelo jornal Avgi, afecto ao seu partido, Syriza, segundo o
qual conseguiria 47,5% dos votos em eventuais eleições antecipadas,
contra 36,6 nas legislativas de Janeiro. Uma maioria dos gregos, 57%,
está também de acordo com a atitude que o seu Governo tem tido nas
negociações. Mas esses dados podem pesar pouco ou nada nas
discussões desta segunda-feira.
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