segunda-feira, 29 de junho de 2015

Portugal prepara-se para o “contágio político” da Grécia


Portugal prepara-se para o “contágio político” da Grécia

Governos europeus preparam planos de contingência e apelam à negociação. Em Portugal, o Governo diz-se “tranquilo”, o Presidente não acredita em acordo

Paulo Pena / 30-6-2015 / PÚBLICO

O contraste não pode ser mais evidente. Numa segunda feira agitada por todas as chancelarias europeias, com reuniões de emergência de conselhos restritos (em Madrid, Londres, Paris), parlamentos (Reino Unido, Alemanha) e muitas chamadas telefónicas entre chefes de Estado, Lisboa foi um oásis de calma. “Tudo tranquilo”, resume um membro do Governo a quem o PÚBLICO pediu para resumir os acontecimentos do dia no executivo — reuniões, contactos, cenários.
No momento em que Portugal volta a aparecer nos radares dos analistas financeiros como a “peça seguinte no dominó” e a queda do índice bolsista português foi a maior em toda a Europa, o Governo tenta desdramatizar. “Com todo o respeito, não há qualquer comparação entre a situação de Portugal e da Grécia”, repetiu Paulo Portas, na manhã de segunda-feira, na sua intervenção na conferência Caixa 2020 — Serviços, Comércio e Restauração, no Estoril. A agenda do Governo não foi beliscada pela crise europeia. Pedro Passos Coelho foi, tal como o previsto — à cerimónia da “renovação da parceria entre a empresa Bosch e a Universidade do Minho”, em Braga. E foi aí que comentou, pela primeira vez no dia, a evolução da crise.
Salvaguardando que “ninguém pode dizer que está imune” a um problema destes, Passos garantiu que, “do ponto de vista financeiro, Portugal não é apanhado desprevenido”. Embora admitindo que a saída da Grécia do euro é hoje mais provável do que no passado, Passos afirmou que a prioridade europeia deve ser a de “reforçar a coesão dos países que compõem hoje a zona euro” e que, ao mesmo tempo, “a Grécia possa encontrar uma saída para o seu problema”. De seguida, o primeiro-ministro viajou para Viseu, onde jantou com empresários da região no Solar do Vinho do Dão.
O Presidente da República, Cavaco Silva, também manteve a sua agenda — que, neste caso, se aproximava um pouco mais da questão do momento. O seu “roteiro para uma economia dinâmica” passou por Paços de Ferreira, e foi aí que Cavaco falou sobre a crise que abala a Europa. O Presidente português destoou do tom optimista que os líderes europeus adoptaram para esta segunda-feira. Desde logo, por se mostrar razoavelmente descrente num desfecho positivo: “Gostaria que houvesse entendimento; acreditar é diferente.” Depois, por considerar que o Governo grego não negociou como devia, disse: “Há muito que pensava, pela forma como os gregos estavam a negociar, que as coisas iam acabar mal.” E, por fim, na mais surpreendente das suas declarações, o Presidente deixou a ideia de que uma eventual saída da Grécia não significa um desaire da moeda única ou do projecto europeu: “Penso que o euro não vai fracassar, é uma ilusão o que se diz. A zona do euro são 19 países, eu espero que a Grécia não saia, mas se sair ficam 18 países.”

A pouco mais de três meses das eleições legislativas portuguesas, os principais dirigentes parecem temer outro contágio da crise do euro: o efeito político. Esse não é um exclusivo nacional — o que, aliás, ajuda a explicar muito do ambiente no Eurogrupo. Os argumentos já estão preparados há muito tempo, mesmo antes de se terem interrompido as negociações entre Atenas e as instituições credoras internacionais. E são simples. Se as negociações satisfizerem algumas pretensões antiausteridade da Grécia, os partidos do Governo, PSD e CDS, ficam na difícil posição de explicar por que defendem o caminho dos cortes e do aumento de impostos. Se o caos se instalar em Atenas, e a Grécia acabar por sair do euro, sem qualquer tipo de “almofada” e com uma crise

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