Portugal
prepara-se para o “contágio político” da Grécia
Governos
europeus preparam planos de contingência e apelam à negociação.
Em Portugal, o Governo diz-se “tranquilo”, o Presidente não
acredita em acordo
Paulo Pena /
30-6-2015 / PÚBLICO
O contraste não
pode ser mais evidente. Numa segunda feira agitada por todas as
chancelarias europeias, com reuniões de emergência de conselhos
restritos (em Madrid, Londres, Paris), parlamentos (Reino Unido,
Alemanha) e muitas chamadas telefónicas entre chefes de Estado,
Lisboa foi um oásis de calma. “Tudo tranquilo”, resume um membro
do Governo a quem o PÚBLICO pediu para resumir os acontecimentos do
dia no executivo — reuniões, contactos, cenários.
No momento em que
Portugal volta a aparecer nos radares dos analistas financeiros como
a “peça seguinte no dominó” e a queda do índice bolsista
português foi a maior em toda a Europa, o Governo tenta
desdramatizar. “Com todo o respeito, não há qualquer comparação
entre a situação de Portugal e da Grécia”, repetiu Paulo Portas,
na manhã de segunda-feira, na sua intervenção na conferência
Caixa 2020 — Serviços, Comércio e Restauração, no Estoril. A
agenda do Governo não foi beliscada pela crise europeia. Pedro
Passos Coelho foi, tal como o previsto — à cerimónia da
“renovação da parceria entre a empresa Bosch e a Universidade do
Minho”, em Braga. E foi aí que comentou, pela primeira vez no dia,
a evolução da crise.
Salvaguardando que
“ninguém pode dizer que está imune” a um problema destes,
Passos garantiu que, “do ponto de vista financeiro, Portugal não é
apanhado desprevenido”. Embora admitindo que a saída da Grécia do
euro é hoje mais provável do que no passado, Passos afirmou que a
prioridade europeia deve ser a de “reforçar a coesão dos países
que compõem hoje a zona euro” e que, ao mesmo tempo, “a Grécia
possa encontrar uma saída para o seu problema”. De seguida, o
primeiro-ministro viajou para Viseu, onde jantou com empresários da
região no Solar do Vinho do Dão.
O Presidente da
República, Cavaco Silva, também manteve a sua agenda — que, neste
caso, se aproximava um pouco mais da questão do momento. O seu
“roteiro para uma economia dinâmica” passou por Paços de
Ferreira, e foi aí que Cavaco falou sobre a crise que abala a
Europa. O Presidente português destoou do tom optimista que os
líderes europeus adoptaram para esta segunda-feira. Desde logo, por
se mostrar razoavelmente descrente num desfecho positivo: “Gostaria
que houvesse entendimento; acreditar é diferente.” Depois, por
considerar que o Governo grego não negociou como devia, disse: “Há
muito que pensava, pela forma como os gregos estavam a negociar, que
as coisas iam acabar mal.” E, por fim, na mais surpreendente das
suas declarações, o Presidente deixou a ideia de que uma eventual
saída da Grécia não significa um desaire da moeda única ou do
projecto europeu: “Penso que o euro não vai fracassar, é uma
ilusão o que se diz. A zona do euro são 19 países, eu espero que a
Grécia não saia, mas se sair ficam 18 países.”
A pouco mais de três
meses das eleições legislativas portuguesas, os principais
dirigentes parecem temer outro contágio da crise do euro: o efeito
político. Esse não é um exclusivo nacional — o que, aliás,
ajuda a explicar muito do ambiente no Eurogrupo. Os argumentos já
estão preparados há muito tempo, mesmo antes de se terem
interrompido as negociações entre Atenas e as instituições
credoras internacionais. E são simples. Se as negociações
satisfizerem algumas pretensões antiausteridade da Grécia, os
partidos do Governo, PSD e CDS, ficam na difícil posição de
explicar por que defendem o caminho dos cortes e do aumento de
impostos. Se o caos se instalar em Atenas, e a Grécia acabar por
sair do euro, sem qualquer tipo de “almofada” e com uma crise
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