A
Dinamarca virou à direita com subida do partido anti-imigração
Helle
Thorning-Schmidt deixa de ser primeira-ministra. Provável chefe do
governo é o liberal Lars Lokke Rasmussen. Partido anti-imigração é
agora a maior força do bloco de direita
Lars
Lokke Rasmussen parte para a formação do governo numa posição de
fraqueza. Pode ter de fazer mais concessões do que aquilo que
estaria à espera
João Manuel Rocha /
20-6-2015 / PÚBLICO
A Dinamarca virou à
direita nas eleições legislativas de quinta-feira. O provável
futuro primeiro-ministro, Lars Lokke Rasmussen, viu o seu partido ser
ultrapassado pelo Partido Popular Dinamarquês, força populista
hostil à imigração, que conseguiu o apoio de um quinto dos
votantes e se tornou no segundo do país.
Os
sociais-democratas da primeiraministra cessante, Helle
ThorningSchmidt, foram os mais votados, com 26,3%. Mas isso não fez
dela uma vencedora, devido às características do sistema político:
a soma de deputados do “seu” bloco de centroesquerda, o Bloco
Vermelho, foi inferior à do bloco de direita de Rasmussen: 89
mandatos contra 90.
Thorning-Schmidt,
que há quatro anos se tornou a primeira mulher a chefiar um governo
na Dinamarca, apresentou a demissão à rainha Margarida II e
anunciou também a demissão da liderança partidária.
Embora tenha tido
resultados decepcionantes, Rasmussen, líder do liberal Venstre,
tradicional força preponderante do bloco de direita, o chamado
“Bloco Azul”, assumiu a intenção de formar governo e voltar ao
cargo que ocupou entre 2009 e 2011. O seu partido ficou-se pelos
19,5%, atrás não só dos sociais-democratas, como do Partido
Popular Dinamarquês (DF), que teve um resultado histórico de 21,1%.
O DF liderado desde
2012 por Kristian Thulesen Dahl, que sucedeu a Pia Kjaersgaaed,
mantém as posições anti-imigração, mas deu maior expressão no
seu discurso à defesa dos desfavorecidos, o que explicará o salto
dos 12,3% de há quatro anos para o resultado das eleições
antecipadas de quinta-feira, em que superou as sondagens que lhe eram
mais favoráveis e se tornou no partido mais votado do Bloco Azul.
Rasmussen, que há
quatro anos perdeu a chefia do Governo para Helle Thorning-Schmidt,
não tem pela frente uma tarefa fácil, depois de o seu partido ter
perdido um quarto dos assentos parlamentares. “Não tivemos um bom
resultado”, reconheceu. “Os próximos dias vão permitir dizer se
é possível encontrar uma maioria para um programa [de governo] que
ponha a Dinamarca na direcção certa”, disse, citado pela AFP.
O jornal de esquerda
Information considera que os resultados de quinta-feira são “o
pior ponto de partida imaginável” para Rasmussen, que parte para a
tentativa de formar governo numa posição de fraqueza.
Já quando liderou o
executivo, o líder liberal precisou do apoio do DF. Mas desta vez o
cenário é mais complexo. O partido de extrema-direita ainda não
decidiu como actuará. Kristian Dahl fez saber que não reclama a
possibilidade de formar governo, mas disse à agência Ritzau que
“não tem medo” de o integrar.
O partido reclama
para si o papel de defensor da “herança cultural dinamarquesa” e
apoiou governos conservadores na década passada, a troco de
políticas restritivas de imigração. Mas tem-se mantido à margem
da governação, procurando antes influenciá-la.
Marie Serup,
jornalista política, escreveu no seu jornal, o BT, que “os
eleitores de extrema-direita disseram ao Partido Popular Dinamarquês
que deve assumir responsabilidades”. Na sua opinião, reproduzida
pela AFP, o DF “não pode continuar a esquivarse”, porque “isso
significaria trair os seus eleitores”.
Mas o partido
populista tem sérias discordâncias de outras forças de direita em
matérias como questões europeias e protecção social. Para além
dos partidos de Rasmussen e de Dahl, o bloco inclui a Aliança
Liberal, o Partido Conservador do Povo e os democratas-cristãos.
Soren Espersen,
vice-presidente do DF, identificou à Reuters as “linhas vermelhas”
do partido — em matéria europeia são a defesa da realização de
um referendo sobre a permanência na União Europeia, embora só
depois do britânico; e uma reforma do “clube” a que quer
continuar a pertencer.
As outras duas são
de natureza puramente migratória: reintrodução de controlos
fronteiriços abolidos pelo acordo de Schengen; e a adopção de
políticas de imigração mais restritivas, ainda que, neste campo, o
partido se declare favorável a um aumento da despesa pública nesta
área para valores superiores aos defendidos pelos
sociais-democratas.
Fique ou não no
governo, o partido anti-imigração está em posição de força para
influenciar as políticas — elegeu 37 deputados, mais três do que
o Venstre e mais 15 do que há quatro anos. Os sociais-democratas
elegeram 47. Rasmussen pode ter de fazer mais concessões do que
aquilo que estaria à espera para liderar o governo.
Sem comentários:
Enviar um comentário