Ministério
ultima protocolo com instituto chinês sob suspeita noutros países
CLARA VIANA
26/06/2015 - PÚBLICO
Responsável
chinesa com quem Nuno Crato está a negociar foi responsável por
acto de censura na Universidade do Minho.
As aulas de mandarim
nas escolas secundárias públicas, que arrancarão no próximo ano
lectivo, serão leccionadas por professores chineses pagos pela
Governo da República Popular da China, confirmou o Ministério da
Educação e Ciência (MEC).
Para o efeito, o MEC
está a ultimar um protocolo com o Instituto Confúcio da República
Popular da China (Hanban), numa altura em que em vários outros
países ocidentais há universidades e autoridades regionais da
educação a cancelar os protocolos com aquele organismo, por
considerarem que a sua presença pode “ameaçar a liberdade
académica e promover a vigilância de estudantes chineses no
estrangeiro”, segundo o resumo feito pela agência Reuters a
propósito das razões desta decisão.
A Universidade de
Estocolmo foi uma das sete que já cancelaram os seus protocolos com
o Hanban. “De uma forma geral, consideramos que ter institutos que
são financiados por outros países no seio da universidade é uma
prática questionável”, justificou uma das responsáveis daquela
instituição. Ao contrário do que acontece com o britânico British
Council ou o alemão Goethe Institut, o Instituto Confúcio não tem
instalações próprias no estrangeiro, funcionando no interior das
universidades com quem estabelece protocolos que envolvem o
financiamento de actividades e a atribuição de bolsas.
A decisão da
Universidade de Estocolmo seguiu-se a várias críticas nos meios de
comunicação social suecos sobre a permanência do Confúcio no seio
da instituição, na sequência de incidentes ocorridos numa
conferência que decorreu em Braga e em Coimbra, promovida pela
Associação Europeia de Estudos Chineses (EACS, na sigla em inglês)
em Julho de 2014 e que ficou marcada por um acto aberto de censura
por parte de responsáveis chineses, segundo a denúncia então feita
pelo presidente da associação, o sueco Roger Greatrex.
A conferência foi
organizada em Portugal pelas Universidades de Coimbra e do Minho,
onde funciona uma das duas delegações do Instituto Confúcio em
Portugal. O Hanban foi um dos financiadores do evento, que contou com
a presença da sua presidente e vice-ministra chinesa, Xu Lin, que
participou nas sessões promovidas em Braga.
O resultado foi
lapidar. Quando se apercebeu, por causa de um anúncio no programa da
conferência, que outras das entidades patrocinadoras era a Fundação
Chiang Ching-kuo, de Taiwan (a ilha onde se refugiou o antigo governo
chinês após a tomada do poder pelo Partido Comunista, em 1949), Xu
Lin mandou primeiro retirar todos os exemplares do documento que
ainda não tinham sido distribuídos. Depois aceitou que fossem de
novo redistribuídos, mas já sem as páginas onde havia referências
a Taiwan.
O incidente está
relatado em pormenor na página electrónica da EACS e foi também
confirmado, na altura, à revista Sábado pelo embaixador João de
Deus Ramos, que abriu a primeira embaixada portuguesa em Pequim, e
que era um dos oradores da conferência. “A delegação chinesa
relatou do local os programas. Levaram os livros todos e estiveram a
rasgar as páginas que não queriam que aparecessem”, resumiu.
Foi durante esta
visita a Portugal que Xu Lin prosseguiu as negociações com o
Ministério da Educação e Ciência com vista à leccionação de
aulas de mandarim nas escolas portuguesas, no âmbito de um
projecto-piloto cujo arranque foi anunciado nesta quinta-feira pelo
MEC. No comunicado enviado pelo ministério recorda-se que a
iniciativa começou a ser preparada durante a visita de Cavaco Silva
a Pequim, em Maio de 2014, através de contactos então estabelecidos
entre o ministro Nuno Crato, que integrava a comitiva, e Xu Lin.
O PÚBLICO
questionou o MEC sobre o estabelecimento deste protocolo, que ainda
está a ser finalizado, depois do que sucedeu em Braga e numa altura
em que as práticas do Hanban no exterior estão a ser questionadas
em vários outros países. O ministério limitou-se a responder que,
“durante o próximo ano lectivo, a implementação do projecto será
acompanhada e monitorizada por um grupo de trabalho que deverá
elaborar um relatório sobre o seu funcionamento” e que os docentes
chineses que irão ensinar mandarim nas escolas portuguesas serão
“acompanhados por um professor em sala de aula para supervisão e
orientação do trabalho”.
As escolas
interessadas nestas aulas deverão candidatar-se até ao final do
mês, mas há já 23 que foram pré-seleccionadas para integrar o
projecto-piloto, que se desenvolverá até ao ano lectivo de
2016/2017, altura em que será feita uma avaliação desta parceria.
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