Mais
um episódio no cansativo e deprimente folhetim da Plutocracia
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Pais
do Amaral ameaça avançar para tribunal contra Humberto Pedrosa
ANA BRITO e RAQUEL
ALMEIDA CORREIA 26/06/2015 - 07:41
Empresário
queixa-se de conduta “desleal” do ex-parceiro de consórcio, que
diz tê-lo impedido de avançar com oferta firme pela TAP.
O empresário Miguel
Pais do Amaral quer avançar para tribunal para exigir ao novo dono
da TAP reparações pelos prejuízos sofridos com o facto de este ter
saído do seu consórcio para comprar a transportadora aérea,
acabando por liderar um consórcio rival, a Atlantic Gateway.
O dono da Leya alega
que o líder da Barraqueiro foi “desleal” e quebrou o contrato de
confidencialidade que o impedia de associar-se um concorrente na
corrida pela TAP. Agora, ameaça recorrer à justiça portuguesa e
norte-americana, soube o PÚBLICO junto de fonte próxima do
processo.
O aviso foi feito
por Miguel Pais do Amaral numa carta que, segundo a mesma fonte, foi
enviada a Humberto Pedrosa na quinta-feira, no mesmo dia em que este
e o seu sócio, David Neeleman, dono da Azul, assinaram o contrato de
compra de 61% da TAP no Ministério das Finanças, em Lisboa. “Ao
criar na Quifel Holdings [QH] a legítima convicção que integraria
o consórcio por ela liderado e ao desligar-se no dia final,
[Humberto Pedrosa] incorreu em clara responsabilidade
pré-contratual", lê-se na carta a que o PÚBLICO teve acesso.
Nela, a Quifel, a
holding pessoal de Pais do Amaral, garante a Pedrosa “que não
deixará de o denunciar e responsabilizar, privada e publicamente,
nas instâncias e pelas formas que julgar conveniente”. Em
declarações ao PÚBLICO, Humberto Pedrosa disse desconhecer a
existência deste documento: “Não sei de nada, não recebi carta
nenhuma e não acredito que isso possa acontecer e que [Miguel Pais
do Amaral] possa ter uma atitude dessas porque além do mais somos
amigos pessoais”.
Mas Pais do Amaral
garante que tem capital de queixa de Pedrosa e assegura que “em
devido tempo e no lugar próprio a QH apresentará a respectiva
contabilização total” dos prejuízos sofridos com “os actos de
concorrência desleal” que imputa ao ex-parceiro de consórcio. O
que inclui o facto de a mudança de barricada de Humberto Pedrosa o
ter alegadamente impedido de avançar com uma proposta vinculativa
pela transportadora aérea depois de ter sido o primeiro a manifestar
interesse na privatização.
Até à data, Miguel
Pais do Amaral tinha-se mantido discreto em relação à ruptura com
o patrão da Barraqueiro, justificando o facto de não ter entregado
uma proposta vinculativa pela TAP com a necessidade de avaliar o
impacto da greve de dez dias dos pilotos, em Maio, nas vésperas de
entrega das propostas. Porém, a carta enviada a Pedrosa é taxativa:
a renúncia deste ao consórcio, “comunicada no dia limite de
apresentação de proposta vinculativa, impediu a QH de procurar uma
alternativa a essa ausência”.
O dono do grupo Leya
vai mais longe e diz que foi a aliança com Pedrosa que garantiu a
Neeleman “condições de admissibilidade [no processo de
privatização], que de outro modo não conseguiria reunir”. Isto
porque as regras comunitárias impedem investidores não europeus de
controlar companhias de aviação do espaço comunitário. A proposta
da Atlantic Gateway (em que os dois sócios foram assessorados pela
sociedade de advogados Cuatrecasas, Gonçalves Pereira) garante ao
Estado um encaixe de dez milhões de euros e à TAP uma injecção de
pelo menos 354 milhões.
A proposta liderada
por Miguel Pais do Amaral que foi entregue à Parpública em Maio
“não seria a mesma” se tivesse contado “com a participação
de Humberto Pedrosa”, disse ao PÚBLICO fonte próxima do processo.
Recorde-se que Pais do Amaral (que inicialmente apareceu associado ao
antigo accionista e presidente da Continental Airlines, Frank
Lorenzo) entregou apenas uma proposta não vinculativa, com o apoio
de três fundos internacionais cujos nomes não foram divulgados, em
que pedia quatro a seis semanas para apresentar uma oferta final, o
que levou o Governo a afastá-lo do processo. A proposta pressupunha
325 milhões de euros para capitalizar a TAP, mas não incluía
dinheiro pelas acções da companhia.
Agora, o investidor
vem acusar Pedrosa de o ter forçado a ficar pelo caminho, mas também
de ter copiado para a Atlantic Gateway “diversas soluções
financeiras e operacionais” que a Quifel tinha considerado
apresentar. O investidor acusa ainda Pedrosa de ter quebrado “o
princípio da igualdade das partes” ao aproximar-se de Neeleman com
informação pormenorizada da oferta da Quifel que permitiu colocar a
Atlantic Gateway “numa posição privilegiada em relação aos
restantes concorrentes” e diz que o empresário “actuou
maliciosamente”.
Recorda também que
o Grupo Barraqueiro assinou a 23 de Agosto do ano passado um contrato
de confidencialidade, com a validade de três anos que, além de
“restringir a divulgação de informação” do consórcio,
“proibia a associação, a qualquer título com qualquer outro
concorrente”. Um compromisso que “até hoje nunca foi
denunciado”, garante Pais do Amaral.
Na carta, o fundador
da Quifel fala em “juízos éticos” a retirar da conduta de
Pedrosa, mas também de prejuízos objectivos que o empresário dos
transportes tem “o dever de indemnizar”. Relata ainda que foram
as “divergências com sócios do Grupo Barraqueiro” (os ingleses
da Arriva) o motivo invocado por Humberto Pedrosa para participar no
consórcio com a sua holding pessoal (a HPGB).
Mas se esse pedido,
feito “a poucos dias” da data prevista para a entrega da proposta
vinculativa, foi “aceite sem qualquer reserva” pela Quifel,
porque se entendia que Humberto Pedrosa tinha “o controlo efectivo
das duas estruturas” e que a alteração “não afectava as
obrigações já assumidas”, a “estupefacção” havia de chegar
a 15 de Maio. Só nessa data, o fim o prazo para a entrega das
propostas vinculativas pela TAP, Pais do Amaral diz ter recebido a
informação de que Pedrosa “iria integrar um consórcio
concorrente”, tendo sabido apenas “pela comunicação social”
que o antigo parceiro “integrou esse consórcio concorrente numa
posição de liderança”.
Já depois de
conhecida esta troca de chapéus, Miguel Pais do Amaral garantiu até
ao final do prazo de entrega de propostas que mantinha o interesse na
TAP e que tudo continuava em aberto. Foi só no dia 21 de Maio que o
Governo confirmou que a proposta da Quifel não cumpria os requisitos
do caderno de encargos, pelo que só as ofertas firmes da Atlantic
Gateway (Humberto Pedrosa, com 51% do consórcio, e David Neeleman,
com 49%) e Germán Efromovich, o dono da Avianca, passariam à fase
de negociação.
Derrotado, este
empresário brasileiro avançou com uma queixa junto da Comissão
Europeia por duvidar que o consórcio Pedrosa/Neeleman cumpra as
regras comunitárias. É que o dono da Azul esteve desde cedo sozinho
na corrida pela TAP e foi só a cerca de um mês da entrega de
propostas que se aliou a Pedrosa. Este ficou formalmente ficou com a
maioria do consórcio, permitindo a Neeleman cumprir a legislação
europeia.
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