sexta-feira, 12 de junho de 2015

Há centenas de migrantes a viver junto às estações de comboios de Itália


Há centenas de migrantes a viver junto às estações de comboios de Itália

Há acampamentos em Roma e Milão, as cidades onde os migrantes fazem uma pausa na viagem para países do Norte da Europa

Maria João Guimarães / 13-6-2015 / PÚBLICO

Duas estações de comboio italianas tornaram-se no centro das atenções depois de centenas de migrantes, a maioria de países em guerra como a Síria ou ditaduras como a Eritreia, se terem concentrado em Roma e Milão na tentativa de chegarem a países do Norte da Europa.
Os centros de acolhimento de refugiados de Itália estão cheios, com 76 mil pessoas, sem condições para receber mais. Assim, de uma semana para a outra surgiram dois acampamentos, um na Estação Tiburtina, em Roma, outro na Estação Central de Milão.
Enquanto em Milão uma equipa de voluntários acolhia os migrantes e lhes dava alguma comida e kits básicos e de higiene, em Roma estavam completamente entregues a si próprios. Depois de terem sido removidos pela polícia na quinta-feira, ontem os migrantes começaram a reaparecer.
“As pessoas dizem que Itália não é boa para os migrantes, por isso queremos ir embora”, dizia à Reuters Abdi Mohammed Adem, um somali de 19 anos cuja família vendeu a casa para pagar sete mil euros para a sua viagem para a Europa. Gastou tudo para os traficantes o porem aqui, e não tem dinheiro para o bilhete de comboio para seguir para a Alemanha ou Grã-Bretanha.
A Itália resgata muitos migrantes do mar, mas não fica com os seus dados nem impressões digitais — segundo as regras europeias, quem quer pedir asilo tem de o fazer ao primeiro país a que chegar. A maioria segue assim para norte e pede depois asilo num país onde tenha familiares ou amigos, como a Alemanha, Grã-Bretanha ou Suécia.
Mas a reintrodução de controlos fronteiriços com a suspensão temporária da livre circulação de Schengen por causa da cimeira do G7 no fimde-semana passado na Alemanha impediu a maioria dos migrantes de seguir o caminho pretendido e deixou a claro uma crise latente.
Com 800 migrantes a chegar a cada dia, os centros de Milão estão esgotados e a estação de comboios tornou-se um ponto central. “Não posso criticar os italianos, porque salvaram as nossas vidas no mar”, disse Million, um eritreu de 28 anos que conseguiu chegar à Suíça mas foi mandado para trás pelas autoridades de Zurique, à agência francesa AFP. “A última refeição decente que comi foi no avião.”
A Câmara de Milão pediu ajuda à União Europeia e está a tentar encontrar lugares na estação para mais pessoas, tentando fazer diminuir o número dos que dormem fora da estação, que era de cerca de 350.
A Grécia também pediu ajuda urgente para lidar com uma enorme subida na chegada de migrantes, a maioria sírios, vindos da Turquia, a ilhas como Kos ou Lesbos.
Se Itália se mantém o país com mais chegadas, a Grécia é aquele em que estas mais aumentaram, superando mesmo já este ano o número total do ano anterior. Este ano chegaram a Itália 54 mil pessoas (em todo o ano de 2014 foram 171 mil) e 48 mil à Grécia (em 2014 foram apenas 34 mil).
A Lesbos chegam cerca de 600 refugiados por dia. “Agimos porque não podemos tolerar que se percam vidas”, desabafou o presidente da Câmara de Lesbos, Spiros Galinos. No entanto, “os eleitos locais e os voluntários tentam resolver um problema que ultrapassa grandemente as nossas capacidades”, desabafa.

Enquanto isto, a Europa discute o seu plano de distribuição de 40 mil refugiados por vários países, numa tentativa de melhor distribuir quem pede asilo. “Precisamos de agir agora e não daqui a quatro meses”, pediu a porta-voz da comissão para as Migrações, Natasha Bertaud.

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