Há
centenas de migrantes a viver junto às estações de comboios de
Itália
Há
acampamentos em Roma e Milão, as cidades onde os migrantes fazem uma
pausa na viagem para países do Norte da Europa
Maria
João Guimarães / 13-6-2015 / PÚBLICO
Duas estações de
comboio italianas tornaram-se no centro das atenções depois de
centenas de migrantes, a maioria de países em guerra como a Síria
ou ditaduras como a Eritreia, se terem concentrado em Roma e Milão
na tentativa de chegarem a países do Norte da Europa.
Os centros de
acolhimento de refugiados de Itália estão cheios, com 76 mil
pessoas, sem condições para receber mais. Assim, de uma semana para
a outra surgiram dois acampamentos, um na Estação Tiburtina, em
Roma, outro na Estação Central de Milão.
Enquanto em Milão
uma equipa de voluntários acolhia os migrantes e lhes dava alguma
comida e kits básicos e de higiene, em Roma estavam completamente
entregues a si próprios. Depois de terem sido removidos pela polícia
na quinta-feira, ontem os migrantes começaram a reaparecer.
“As pessoas dizem
que Itália não é boa para os migrantes, por isso queremos ir
embora”, dizia à Reuters Abdi Mohammed Adem, um somali de 19 anos
cuja família vendeu a casa para pagar sete mil euros para a sua
viagem para a Europa. Gastou tudo para os traficantes o porem aqui, e
não tem dinheiro para o bilhete de comboio para seguir para a
Alemanha ou Grã-Bretanha.
A Itália resgata
muitos migrantes do mar, mas não fica com os seus dados nem
impressões digitais — segundo as regras europeias, quem quer pedir
asilo tem de o fazer ao primeiro país a que chegar. A maioria segue
assim para norte e pede depois asilo num país onde tenha familiares
ou amigos, como a Alemanha, Grã-Bretanha ou Suécia.
Mas a reintrodução
de controlos fronteiriços com a suspensão temporária da livre
circulação de Schengen por causa da cimeira do G7 no fimde-semana
passado na Alemanha impediu a maioria dos migrantes de seguir o
caminho pretendido e deixou a claro uma crise latente.
Com 800 migrantes a
chegar a cada dia, os centros de Milão estão esgotados e a estação
de comboios tornou-se um ponto central. “Não posso criticar os
italianos, porque salvaram as nossas vidas no mar”, disse Million,
um eritreu de 28 anos que conseguiu chegar à Suíça mas foi mandado
para trás pelas autoridades de Zurique, à agência francesa AFP. “A
última refeição decente que comi foi no avião.”
A Câmara de Milão
pediu ajuda à União Europeia e está a tentar encontrar lugares na
estação para mais pessoas, tentando fazer diminuir o número dos
que dormem fora da estação, que era de cerca de 350.
A Grécia também
pediu ajuda urgente para lidar com uma enorme subida na chegada de
migrantes, a maioria sírios, vindos da Turquia, a ilhas como Kos ou
Lesbos.
Se Itália se mantém
o país com mais chegadas, a Grécia é aquele em que estas mais
aumentaram, superando mesmo já este ano o número total do ano
anterior. Este ano chegaram a Itália 54 mil pessoas (em todo o ano
de 2014 foram 171 mil) e 48 mil à Grécia (em 2014 foram apenas 34
mil).
A Lesbos chegam
cerca de 600 refugiados por dia. “Agimos porque não podemos
tolerar que se percam vidas”, desabafou o presidente da Câmara de
Lesbos, Spiros Galinos. No entanto, “os eleitos locais e os
voluntários tentam resolver um problema que ultrapassa grandemente
as nossas capacidades”, desabafa.
Enquanto isto, a
Europa discute o seu plano de distribuição de 40 mil refugiados por
vários países, numa tentativa de melhor distribuir quem pede asilo.
“Precisamos de agir agora e não daqui a quatro meses”, pediu a
porta-voz da comissão para as Migrações, Natasha Bertaud.
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