EDITORIAL / PÚBLICO
Grécia:
mundo nervoso, calma em Lisboa
DIRECÇÃO EDITORIAL
18/06/2015 -
Belém
e S. Bento sem preocupações de maior sobre consequências da crise
grega.
O extremar da crise
na Grécia está a deixar a Europa à beira de uma apoplexia. À
medida que avança o tic-tac decrescente para a efectivação de
pagamentos aos credores por parte de Atenas – tem que pagar 1,6 mil
milhões de euros até dia 30 ao FMI -, aumenta o nervosismo.
Governos, mercados, instituições, partidos, analistas vão fazendo
parte desta reacção em cadeia que até tem feito vir à tona
choques de personalidades. Por exemplo, o presidente do Parlamento
Europeu, Parlamento Europeu, Martin Schulz, já fez saber que embirra
com Varoufakis. Também Jean Claude Juncker, o político europeu que
mais gosta de beijocar e de dar palmadinhas nas costas dos seus
pares, se irritou seriamente com Tsipras, a quem praticamente chamou
de mentiroso para contrariar a versão que este deu das propostas da
Comissão nas negociações com Atenas. Tsipras, por sua vez, pouco
faltou para acusar o FMI de ser uma instituição “criminosa” e o
BCE de provocar a “asfixia financeira” do seu país. Entretanto,
um texto datado de 12 do corrente, na Spiegel, intitulado “Brewing
Conflict over Greece: Germany’s Finance Minister Mulls Taking on
Merkel, faz importantes revelações sobre o conflito latente entre a
chanceler e o seu ministro das Finanças sobre o desenlace da crise
grega, enquanto, ontem, o chefe do Governo austríaco, numa curta
visita a Atenas, deu um surpreendente e precioso apoio ao líder
helénico, com direito a críticas aos credores por proporem medidas
que fazem “aumentar o desemprego e a pobreza”. Nas páginas de
importantes jornais como o Guardian e mesmo no circunspecto Financial
Times, analistas digladiam-se em argumentos mais ou menos críticos
relativamente aos dirigentes gregos, mas há um ponto que parece
sobressair cada vez mais das análises: a insensatez de se pensar que
abandonar um país com os pressupostos geopolíticos da Grécia, não
terá consequências desastrosas para a Europa e o mundo. Do outro
lado do Atlântico, a percepção da gravidade do momento é atestada
pelas diligências pessoais que o próprio Presidente Obama tem feito
junto dos dirigentes europeus. Ninguém esquece os Balcãs e a sua
tradição belicosa, nem a proximidade da Turquia e muito menos a
delicada situação em que se encontram as relações da UE com a
Rússia. Tudo junto é um caldeirão a ferver de ameaças que devia
servir para acalmar e reflectir para evitar o desastre. A agitação
que há semanas domina as bolsas também mostra que os mercados não
pouparão nada nem ninguém se a Grécia entrar em incumprimento.
Gente avisada alerta que é impossível prever as consequências da
bancarrota de um país do euro, mas para Passos Coelho e Maria Luís
Albuquerque não há dramas, os cofres estão cheios e ponto final. O
Presidente da República resolveu mandar recados da Bulgária no
sentido de apertar o garrote à Grécia, como se fosse indiferente a
Portugal a solução que sair das negociações. O PS, esse, não se
ouve. Mas talvez seja melhor assim.
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