quarta-feira, 10 de junho de 2015

Diamantes levam a guerra de indemnizações entre Luanda e Lisboa


Diamantes levam a guerra de indemnizações entre Luanda e Lisboa
A Endiama quer 6000 milhões de dólares de Portugal, depois de a SPE, detida pelo Estado, exigir também uma compensação

Em 2011, o Estado angolano revogou a licença da SML, onde a estatal portuguesa SPE detinha 49%

O conflito entre Portugal e Angola no negócio dos diamantes neste país africano dura há cerca de quatro anos, e ainda não se vislumbra o seu fim. Depois de a SPE, maioritariamente detida pelo Estado português, avançar para os tribunais e pedir uma indemnização pelo fim da Sociedade Mineira do Lucapa (SML), agora é a vez de a empresa estatal angolana Endiama exigir o pagamento de 6000 milhões de dólares (5310 milhões de euros) a Portugal.
De acordo com a Lusa, a Endiama, concessionária da actividade diamantífera em Angola, formalizou este mês a sua queixa junto do Tribunal Provincial de Luanda, responsabilizando a Sociedade Portuguesa de Empreendimentos (SPE) pela falência técnica e financeira da SML. Contactada pela Lusa, fonte oficial da administração da Endiama limitou-se a confirmar que “há um pedido indemnização”, sem avançar com mais pormenores, alegando que o processo está a correr nos tribunais.
O processo envolve a Parpública, já que é através desta holding que o Estado português detém 81% da SPE. Segundo a Lusa, que cita um documento da Endiama, a empresa angolana alega que não foram mobilizados os investimentos necessários para o projecto daquela exploração diamantífera, localizado no Nordeste do país, na zona das lundas, “nem disponibilizados conhecimentos e tecnologia, a formação de quadros angolanos no âmbito da parceria ou indemnizados os cerca de 1200 trabalhadores (à data de 2011) da mina”.
Esta tem sido, aliás, a base das alegações da Endiama desde que o conflito entre os dois antigos parceiros (a SPE é dona de 49% da SML, cabendo os outros 51% à Endiama) se agravou em Outubro de 2001, data em que o Governo de Angola revogou a licença de exploração à SML.
A SPE, que tem negado estas acusações, veio depois afirmar que a revogação foi um acto “ilegal e inamistoso”, e começou a tentar recuperar aquele que é o seu único activo. Sem ter em conta a eventualidade de uma indemnização, este diferendo, conforme o PÚBLICO já noticiou, pode vir a custar 21 milhões de euros ao Estado português (além da perda do capital social).
Desde a revogação da licença de prospecção de diamantes, a SPE só tem sobrevivido graças aos apoios financeiros da Parpública. Esta já concedeu 14,4 milhões de euros à empresa, que tem ainda empréstimos bancários que totalizam sete milhões de euros, garantidos pelo Estado. E, depois de ter tentado avançar com um processo nos tribunais ordinários em Angola, a SPE optou por recorrer aos tribunais arbitrais, visando a Endiama e o Estado angolano.
De acordo com o relatório e contas (R&C) da SPE referente a 2014, aprovado em Abril, verifica-se que o processo contra a Endiama, que decorria num tribunal arbitral, acabou por não chegar ao fim. Isto porque a empresa angolana recorreu aos tribunais ordinários, impedindo assim, refere a empresa portuguesa, que o tribunal arbitral desenvolvesse a sua actividade. Uma estratégia classificada pela SPE como “ilegítima, ilegal” e inconstitucional.

A SPE tem ainda a correr queixa, via tribunal arbitral, contra o próprio Estado angolano, através da qual pretende obter o pagamento de uma indemnização pela revogação da licença — valor que é desconhecido. No R&C, a empresa diz que, após um processo “particularmente moroso”, já foi possível “constituir definitivamente o Tribunal [arbitral] em 20 de Maio de 2014”. Em Julho desse ano, a empresa dominada pelo Estado português (com 81%) avançou com a sua petição inicial, mas não se sabe qual o actual ponto de situação do processo.

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