Diamantes
levam a guerra de indemnizações entre Luanda e Lisboa
A
Endiama quer 6000 milhões de dólares de Portugal, depois de a SPE,
detida pelo Estado, exigir também uma compensação
Em 2011, o Estado
angolano revogou a licença da SML, onde a estatal portuguesa SPE
detinha 49%
O conflito entre
Portugal e Angola no negócio dos diamantes neste país africano dura
há cerca de quatro anos, e ainda não se vislumbra o seu fim. Depois
de a SPE, maioritariamente detida pelo Estado português, avançar
para os tribunais e pedir uma indemnização pelo fim da Sociedade
Mineira do Lucapa (SML), agora é a vez de a empresa estatal angolana
Endiama exigir o pagamento de 6000 milhões de dólares (5310 milhões
de euros) a Portugal.
De acordo com a
Lusa, a Endiama, concessionária da actividade diamantífera em
Angola, formalizou este mês a sua queixa junto do Tribunal
Provincial de Luanda, responsabilizando a Sociedade Portuguesa de
Empreendimentos (SPE) pela falência técnica e financeira da SML.
Contactada pela Lusa, fonte oficial da administração da Endiama
limitou-se a confirmar que “há um pedido indemnização”, sem
avançar com mais pormenores, alegando que o processo está a correr
nos tribunais.
O processo envolve a
Parpública, já que é através desta holding que o Estado português
detém 81% da SPE. Segundo a Lusa, que cita um documento da Endiama,
a empresa angolana alega que não foram mobilizados os investimentos
necessários para o projecto daquela exploração diamantífera,
localizado no Nordeste do país, na zona das lundas, “nem
disponibilizados conhecimentos e tecnologia, a formação de quadros
angolanos no âmbito da parceria ou indemnizados os cerca de 1200
trabalhadores (à data de 2011) da mina”.
Esta tem sido,
aliás, a base das alegações da Endiama desde que o conflito entre
os dois antigos parceiros (a SPE é dona de 49% da SML, cabendo os
outros 51% à Endiama) se agravou em Outubro de 2001, data em que o
Governo de Angola revogou a licença de exploração à SML.
A SPE, que tem
negado estas acusações, veio depois afirmar que a revogação foi
um acto “ilegal e inamistoso”, e começou a tentar recuperar
aquele que é o seu único activo. Sem ter em conta a eventualidade
de uma indemnização, este diferendo, conforme o PÚBLICO já
noticiou, pode vir a custar 21 milhões de euros ao Estado português
(além da perda do capital social).
Desde a revogação
da licença de prospecção de diamantes, a SPE só tem sobrevivido
graças aos apoios financeiros da Parpública. Esta já concedeu 14,4
milhões de euros à empresa, que tem ainda empréstimos bancários
que totalizam sete milhões de euros, garantidos pelo Estado. E,
depois de ter tentado avançar com um processo nos tribunais
ordinários em Angola, a SPE optou por recorrer aos tribunais
arbitrais, visando a Endiama e o Estado angolano.
De acordo com o
relatório e contas (R&C) da SPE referente a 2014, aprovado em
Abril, verifica-se que o processo contra a Endiama, que decorria num
tribunal arbitral, acabou por não chegar ao fim. Isto porque a
empresa angolana recorreu aos tribunais ordinários, impedindo assim,
refere a empresa portuguesa, que o tribunal arbitral desenvolvesse a
sua actividade. Uma estratégia classificada pela SPE como
“ilegítima, ilegal” e inconstitucional.
A SPE tem ainda a
correr queixa, via tribunal arbitral, contra o próprio Estado
angolano, através da qual pretende obter o pagamento de uma
indemnização pela revogação da licença — valor que é
desconhecido. No R&C, a empresa diz que, após um processo
“particularmente moroso”, já foi possível “constituir
definitivamente o Tribunal [arbitral] em 20 de Maio de 2014”. Em
Julho desse ano, a empresa dominada pelo Estado português (com 81%)
avançou com a sua petição inicial, mas não se sabe qual o actual
ponto de situação do processo.
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