Nuno da Câmara Pereira teve
equivalências anuladas na Lusófona
MIGUEL SANTOS / 24/6/2015
/ OBSERVADOR
Ministério da Educação anulou as
equivalências atribuídas pela Lusófona ao fadista. Câmara Pereira ainda não
sabe o que vai fazer para regularizar situação. "Mas não foi uma
relvice", garante.
O fadista e
ex-deputado eleito nas listas do PSD, Nuno da Câmara Pereira, corre o risco de
perder a licenciatura em Engenharia do Ambiente. É um dos alunos que beneficiou
de equivalências que foram declaradas nulas pela Inspeção-geral da Educação e
Ciência (IGEC). Tal como Miguel Relvas ou como outros 150 alunos, Câmara
Pereira tirou o curso na Universidade Lusófona, mas a tutela entende que o
processo não foi rigoroso e não cumpriu as todas regras. Isso mesmo pode ler-se
no relatório da IGEC, consultado pelo Observador.
O Ministério da
Educação concluiu que “o registo do percurso escolar do aluno, assim como o
certificado emitido, não se encontram de acordo com nenhum dos planos de curso”
aprovados. Segundo a Inspeção-Geral, a matrícula do aluno no curso de
Engenharia do Ambiente em 2 de fevereiro de 2012 num “plano de estudos que já
não se encontrava em vigor é irregular, na medida em que foi efetuada em data
que já não permitia a obtenção do grau de acordo com o plano de estudos”
aprovado.
Ao Observador,
Câmara Pereira garante que o seu caso “não se trata de nenhuma relvice” e diz
que houve no processo “má-fé”. “O que aconteceu foi uma vergonha e uma
fantochada”, insiste.
Agora de repente,
aparecem uns iluminados que dizem que nós não temos direito à licenciatura. Não
tenho nada a ver com as relvices”, afirma.
Para perceber
todos os contornos da formação académica do fadista é preciso recuar até 1975,
ano em que concluiu o curso de regente agrícola (equiparado a bacharel) em
Évora. Em 2008, um diploma assinado pelo então ministro da Ciência e do Ensino
Superior, Mariano Gago, reconheceu aos equiparados a bacharéis o “direito ao
prosseguimento de estudos e ainda à creditação da sua formação profissional”.
Nesse ano, Nuno
da Câmara Pereira decidiu candidatar-se à licenciatura em Engenharia do
Ambiente e foi-lhe proposto pela instituição que frequentasse um Curso de
Especialização em Ciências do Ambiente para Regentes Agrícolas, criado
precisamente para pessoas com essas habilitações. Ao todo, inscreveram-se 15
alunos, “homens maduros”, conta o fadista.
É aqui que as
coisas se começam a complicar. Depois de terminar a especialização em 2011,
Nuno da Câmara Pereira inscreveu-se na licenciatura de Engenharia do Ambiente
em fevereiro de 2012, curso que terminou em novembro do mesmo ano, ao abrigo
das equivalências que lhe foram atribuídas: 60 créditos pelo Curso de
Especialização, 27 pelo percurso profissional e 103 pelo currículo académico
anterior, totalizando 190 créditos – que correspondiam a todas as “cadeiras” da
licenciatura. Na prática, Nuno da Câmara Pereira não teve de fazer qualquer
avaliação no âmbito da licenciatura em Engenharia do Ambiente.
Ora, o problema é
que por decreto-lei a Universidade Lusófona só estava autorizada a atribuir,
“no limite”, 125 créditos por equivalência (27 pelo percurso profissional e 98
pelo currículo académico) e não 190 como atribuiu a Nuno da Câmara Pereira. Em 2008, a Comissão Científica
do Curso de Engenharia do Ambiente ainda tentou aumentar o limite de créditos
atribuíveis e enviou ao reitor da Universidade uma proposta de alteração nesse
sentido. Proposta, essa, que nunca foi autorizada pelo reitor daquela
instituição, diz o relatório do IGEC.
Também o percurso
profissional do fadista foi tido em conta neste processo. A equivalência à
cadeira de Microbiologia I, por exemplo, foi conseguida devido à experiência
como vice-presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e à direção técnica de obras
de drenagem em instituição não especificada. Já a cadeira de Processos de
Separação foi conseguida, por sua vez, devido a conhecimentos nas culturas de
cana de açúcar na Companhia de Açúcar de Angola.
Tal como Nuno da
Câmara Pereira, outras 13 pessoas do mesmo curso viram as suas equivalências
anuladas – o que, em última instância pode significar a anulação das
licenciaturas. No relatório do Ministério da Educação, a informação que consta
é a de que o ex-deputado já se mostrou disponível para reintegrar o curso, mas
o próprio disse ao Observador que ainda não sabe o que vai fazer. “Depende da
proposta que tenham para me fazer, depende das circunstâncias e do tempo que
vai durar”, explicou, admitindo um eventual regresso.
O fadista já foi
líder do Partido Popular Monárquico e deputado entre 2005 e 2009, quando o PSD
resolveu fazer uma aliança com o PPM e o MPT. Em 2013, foi candidato pelo
Partido da Nova Democracia à Câmara Municipal de Sintra.
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