sábado, 20 de junho de 2015

PS nervoso com sondagens que dão coligação à frente


PS nervoso com sondagens que dão coligação à frente
19/6/2015, OBSERVADOR

O PS está "impaciente" com as sondagens e com o pouco tempo para convencer os indecisos, mas dizem estar preparados para o combate difícil. Mas não tão difícil como se está a verificar.

A tranquilidade não mora no Largo do Rato. Os socialistas dizem que já esperavam um “combate difícil”, não tanto como se está a verificar e prova disso foi verem pela primeira vez uma sondagem A dar a coligação PSD/CDS na frente da corrida às legislativas. O estudo de opinião para o DN/JN deixou o Largo do Rato mais apreensivo. Mais “impaciente”, como conta um dirigente. Costa desvalorizou, disse que o que conta são as sondagens das urnas, mas o semblante era carregado e os seguristas lembram que, afinal, Costa não está a fazer tão diferente do que pedia a António José Seguro.


António Costa aproveitou para reforçar esta sexta-feira, com as sondagens desfavoráveis ainda frescas na tinta dos jornais, que o que quer não é só ganhar, mas ganhar com maioria absoluta. Olhando para os números, este é um objetivo que por agora é uma miragem, o que leva um dirigente a dizer, em conversa com o Observador, que “para se ter maioria absoluta não basta dizer-se”. É preciso fazer. A questão é como? Costa assentou que o discurso será o de mostrar que as contas do PS são contas certas e repete à exaustão a “credibilidade” e a confiança nas propostas socialistas. Mas foi exatamente depois do período de apresentação do programa do partido – que coincidiu com a apresentação da coligação PSD/CDS – que os dois partidos do Governo subiram nas sondagens.

“Existe alguma impaciência com esta aproximação da coligação”, conta um dirigente ao Observador, que acrescenta que não é “considerado um terramoto, nem obriga a uma alteração de estratégia” da direção socialista, mas que os números são olhados com apreensão até porque faltam poucos meses para convencer os eleitores e a linha nas sondagens do PS não tem subido. “Não há uma condenação a esta distância”, acredita o mesmo dirigente que aponta para “fatores conjunturais” que levaram a que a maioria capitalizasse intenções de voto. A saber: a indecisão na zona euro e a postura de um governo alternativo à austeridade europeia – o grego – que pode criar “incerteza e desconfiança” mesmo para com outras propostas alternativas diferentes da do Syriza, diz a mesma fonte. Ora para os socialistas a questão grega tem sido “explorada pelo Governo e pelo Presidente da República para acicatar esses sentimentos”.

Já o secretário nacional João Galamba tenta desvalorizar os resultados nas sondagens e acredita numa melhoria com o tempo: “Sabia-se quer ia ser uma disputa difícil até ao fim, mas a margem de progressão do PS é maior do que a da coligação PSD/CDS”. E porquê? O deputado lembra a taxa de rejeição e de popularidade de Passos Coelho e de Paulo Portas que podem ditar a cruz no PS na hora do voto. As eleições vão-se “decidir na reta final: na hora do voto as pessoas vão lá pôr a cruzinha”, diz outro socialista.

Nos últimos tempos, na direção do PS tem sido acentuada a ideia de que há que mobilizar os indecisos, que ainda são muitos e que permanecem “desiludidos”. Foi assim que lhe chamou Manuel Alegre quando disse a Costa na Convenção socialista para aprovação do programa eleitoral que as eleições não estão ganhas e que são esses eleitores “que tem de convencer e que tem de despertar”.

Mas a tarefa não é fácil. E há quem relembre um passado bem recente quando o atual líder socialista exigia mais da anterior direção. António Galamba, que fez parte do Secretariado Nacional do partido, ficou “sem palavras”, escreveu no Facebook. Mas não foi o único segurista a ficar a olhar para as sondagens e lembrar-se das palavras do próprio António Costa depois do resultado das eleições europeias, quando disse que a vitória do PS sabia “a poucochinho”. “É um descalabro previsível”, diz ao Observador outro ex-dirigente do partido. Do lado da direção não há dúvidas: “Se fosse com António José Seguro era bem pior, porque não tinha um discurso autónomo, de alternativa”, diz um membro próximo de Costa.

Se agora Costa já tem um discurso (e um programa) na mão – o que resolve o problema do discurso autónomo – na ala segurista há quem lembre que o líder socialista tem duas condicionantes externas que o estão a impedir de descolar mais do que esperava. “A Grécia e Sócrates são as duas condicionantes que vão decidir as eleições”, diz outro dos membros próximos do antigo líder do partido.

Mas se nos bastidores os olhares dos seguristas são desconfiados, estes garantem que não pretendem fazer oposição ao líder socialista até às eleições e preferem mostrar que o partido está unido.

“A chave para se ganhar a confiança dos eleitores é falando a verdade, com razoabilidade nas propostas e nas promessas”, defende o ex-dirigente socialista Álvaro Beleza quando questionado se o discurso de António Costa é um dos motivos para que o PS apareça agora atrás do PSD e do CDS. Beleza foi um dos homens próximos de António José Seguro e chegou a ser apontado como candidato a líder contra António Costa, mas por agora prefere garantir que o partido está unido para enfrentar as legislativas: “O PS tem de estar unido para ganhar as eleições”.

O PS não desce, mas PSD e CDS valem mais juntos

Não desce, mas também não sobe. A análise é do especialista em sondagens Pedro Magalhães que ao analisar a evolução das diferentes sondagens chega à conclusão que os socialistas se mantêm com uma perspetiva de voto estável desde antes das eleições europeias. “Podemos gastar os rios de tinta e os biliões de píxeis que quisermos sobre a ‘descida’ do PS, mas até agora não se infere descida alguma”, escreveu esta sexta-feira no seu blogue.


Por outro lado, o especialista em estudos de opinião diz que “é cedo para dizer se a coligação está a subir” nas sondagens, mas que uma coisa é certa: PSD e CDS valem mais juntos do que em separado. “A nossa última estimativa separada de PSD e CDS, de meados de abril, dava-lhes 27,9% e 6,8%, respetivamente. Somados, 34,7%. Logo, à pergunta. ‘Vale a coligação menos que a soma dos seus membros?’ a resposta parece ser um claro ‘Não'”

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