Os
burocratas
VASCO PULIDO VALENTE
19/06/2015 - PÚBLICO
O
PS um partido moderno? Não, um partido de burocratas sem
responsabilidade e sem brilho.
O PS nunca se
distinguiu pela especial competência da gente que o dirigiu e
governou o país durante mais de 20 anos. Algumas personagens foram
com certeza melhor do que outras, mas nenhuma (tirando Salgado Zenha
e José Manuel Medeiros Ferreira) deixou uma obra durável e uma
memória presente e calorosa.
Mesmo agora, com uma
eleição decisiva à porta, o pequeno grupo que rodeia Costa não se
recomenda pelo que fez, nem muito menos pelo que diz. Na intimidade
presumo que se acha mutuamente uma esperança; em público não passa
da cartilha que já repetia no tempo de Seguro, e volta hoje a
repetir com Sócrates, ornamentada por um vaguíssimo calão
económico e por meia dúzia de promessas, que o cidadão comum não
leva a sério, tanto mais que são aéreas e na sua maior parte
hipotéticas.
O dr. Costa deu
anteontem uma entrevista a este jornal em que, entre chover sobre o
molhado e soltar livremente a sua fantasia, resolveu tratar de um
problema real: a reforma do Estado. Pondo de lado a crítica sem
sentido à coligação, Costa identificou três pontos, dignos do seu
particular zelo: o mar, a modernização administrativa e (calculem!)
o desenvolvimento e ordenamento regional. Mas, para chegar aos seus
fins nestes três pontos cruciais, Costa não inventou melhor do que
fabricar três novos ministérios, que permitam “existir um
ministro (claro) com a função transversal”, que “articule” e
defina as “políticas sectoriais”. Não quero dar um desgosto a
este novo salvador da Pátria, só gostava de o informar que desde
1980 que se fala nessa tremenda habilidade; que Sá Carneiro teve um
ministério da Reforma Administrativa; e Cavaco um ministério do
Mar.
Isto só serviu,
como é natural, para provocar um prodigioso número de querelas de
competências; para aumentar o funcionalismo; e para paralisar o
Estado nas matérias em que precisamente se queria que aumentasse a
sua putativa eficácia. O que na situação em que estamos não
aquece, nem arrefece, mas mostra bem por dentro a cabeça de António
Costa: uma cabeça de alto funcionário, dedicada a fortalecer a
administração central, a diminuir a força e a autoridade dos
privados (que “ganham milhões com o outsourcing”) e, entretanto,
a rabiscar organigramas para deleite dos militantes, que lá se
tencionam pendurar. O PS um partido moderno? Não, um partido de
burocratas sem responsabilidade e sem brilho.
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