Pelo
menos 20% da antiga Feira Popular terá de ser para habitação
Previsão
do vereador do Urbanismo, segundo o qual já houve “muitas
manifestações de interesse” de investidores de diferentes países,
é que a hasta pública dos terrenos de Entrecampos se realize em
Outubro
Inês Boaventura /
25-6-2015 / PÚBLICO
Por sugestão do
PCP, a Câmara de Lisboa vai alterar a proposta relativa à alienação
em hasta pública dos terrenos da antiga Feira Popular, com o
objectivo de garantir que pelo menos 20% do que for construído no
local se destina a habitação. A oposição saúda a modificação,
mas considera a percentagem fixada insuficiente.
A proposta do
executivo, que fixa em 135,7 milhões de euros o valor base para a
venda dos terrenos em Entrecampos, foi discutida ontem numa reunião
camarária privada, mas não chegou a ser votada. Segundo o vereador
do Urbanismo, isso aconteceu por determinação do presidente do
município, que considerou que, “tendo em conta a importância da
proposta”, era importante sobre ela “reunir o máximo consenso”.
Na sua versão
inicial, o documento determinava que a operação urbanística que
for desenvolvida no local “não deve destinar uma área inferior a
60% da superfície de pavimento para comércio e serviços”. Como
nada era dito em relação ao uso habitacional podia acontecer que,
no limite, nem um só fogo fosse construído.
Por acreditar que
essa hipótese “era muito negativa para a cidade”, o PCP propôs,
como explicou aos jornalistas o vereador Carlos Moura, que se fixasse
uma percentagem mínima para a habitação, sugestão que foi
acolhida pela maioria.
“Gostaríamos que
fosse um pouco mais”, reagiu o vereador António Prôa, do PSD,
para quem deveria ser “uma prioridade oferecer condições para que
mais gente viva na cidade”. “Percebo a intenção mas acho
curto”, disse por sua vez o centrista João Gonçalves Pereira,
confessando que “gostava que fosse exactamente o contrário”: que
pelo menos 60% da superfície de pavimento se destinasse a habitação
e 20% a comércio e serviços.
Questionado sobre o
assunto pelo PÚBLICO, o vereador do Urbanismo lembrou que “Lisboa
recebe diariamente 600 mil pessoas” que aí têm os seus postos de
trabalho, fazendo com que “dois em três carros que circulam na
cidade [venham] de fora”. Face a isso, Manuel Salgado sublinhou a
importância de se criar emprego na cidade e de se garantir que ele
fica “perto de transportes públicos”.
Ora em Entrecampos,
sublinhou o vereador, a situação a esse nível “é absolutamente
privilegiada”, tratando-se de uma área servida por comboios, metro
e autocarros. “É em Lisboa a área com melhor acessibilidade”,
frisou Manuel Salgado, concluindo que como tal “faz sentido ter uma
percentagem mais alta de comércio e serviços, não negligenciando a
questão da habitação”.
A proposta em cima
da mesa, que se prevê que seja votada na próxima semana, estabelece
ainda que “a área mínima de utilização colectiva à superfície
não seja inferior a 50% da área total do terreno” e que “a área
verde permeável em solo vivo vegetal não seja inferior a 30%”.
“Estão reunidas as condições para termos uma proposta que vai
valorizar aquela zona da cidade”, avaliou a esse respeito Manuel
Salgado.
Já Carlos Moura
notou que esses valores vão além do que está previsto no Plano
Director Municipal, o que em seu entender demonstra que esse
instrumento “é permissivo” e “não serve à cidade”. Para
Carlos Moura, subsistem “aspectos muito negativos” na proposta do
executivo, nomeadamente “a possibilidade de crescimento em altura”
e o facto de não estar previsto “qualquer tipo de equipamento”
para o local.
Também António
Prôa admitiu que o PSD mantém algumas “preocupações”. Uma
delas por considerar que “não está suficientemente salvaguardado”
que a receita obtida com a alienação dos terrenos será afecta à
redução da dívida do município. João Gonçalves Pereira, por seu
lado, notou que várias das propostas de alteração que fez ao
executivo foram acolhidas, contribuindo para a sua “melhoria” e
para “a defesa dos interesses do município”. Uma dessas
alterações, apontou, foi a fixação de um prazo máximo de dez
anos para a concretização do projecto.
A previsão de
Manuel Salgado é que esta hasta pública se realize em Outubro.
Segundo o autarca, houve já “muitas manifestações de interesse”
no negócio, “de variadíssimos investidores, de várias partes do
mundo e também de portugueses”. “Principalmente de fundos de
investimento e de pensões”, precisou.
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