Depois de ampliados
os pavilhões serão ligados um ao outro por cima de espaço não
concessionado
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Câmara
quer aprovar duplicação da área de dois restaurantes à beira-rio
Técnicos
municipais dizem que a ampliação só pode ser aceite se for
declarada de “excepcional importância para a cidade”. Edifícios
serão ligados por cima do espaço público por uma ponte em forma de
golfinho
José António
Cerejo / 17-6-2015/ PÚBLICO
A Câmara de Lisboa
discute hoje duas propostas que, a serem aprovadas, permitirão a
quase duplicação da superfície de pavimento e a ligação entre si
dos restaurantes BBC e Piazza di Mare, na zona ribeirinha de Belém.
Nos termos do artigo 53º do Plano Director Municipal (PDM) não é
permitida naquele local a realização de obras que aumentem a área
de construção preexistente. O plano contempla uma única excepção
que não é invocada na proposta subscrita pelo vereador Manuel
Salgado: a “excepcional importância para a cidade” dos edifícios
a construir.
Os dois
restaurantes, situados junto ao Museu da Electricidade, foram
encerrados há meses e os seus interiores estão já, apesar de os
projectos ainda não estarem aprovados, a ser demolidos. Explorados
anteriormente por uma empresa que foi despejada pela câmara em
Novembro por falta de pagamento de rendas, os edifícios estão agora
na posse de duas sociedades do grupo Azinor, cujos gerentes têm
residência em Luanda. Para lá dos investimentos que tem efectuado
em Angola, o grupo tem em Lisboa uma dezena de unidades hoteleiras,
entre as quais os hotéis Sana (três), Evolution (no Saldanha) e
Myriad (na Torre Vasco da Gama).
Nos pavilhões antes
ocupados pelo BBC e pelo Piazza di Mare, o grupo Azinor pretende
agora instalar restaurantes e espaços de realização de eventos
sociais.
Nos termos das
propostas levadas à reunião de câmara, os actuais edifícios, que
têm um piso e uma superfície de pavimento total de 1904 m2,
passarão a ter dois pisos e uma superfície de 3492 m2 (mais 83%).
Este aumento, explica Salgado na proposta, resulta da “criação de
um piso em mezanino” e da construção de escadas e elevadores nas
extremidades de cada um dos blocos.
Nos terraços serão
ainda erguidos dois “volumes paralelipédicos revestidos a chapa
metálica e vidro”, sendo a restante área destinada a esplanada
coberta por uma “estrutura de ensombramento”. A ligar os dois
pavilhões é proposta uma passagem aérea coberta, consubstanciando
“um elemento escultórico em forma de golfinho”. Esta passagem,
com 20 metros, será construída sobre uma faixa de terreno municipal
na qual existem actualmente quatro árvores de grande porte.
A eventual violação
do PDM por via do aumento da área de construção não é abordada
em nenhuma das informações dos técnicos camarários que acompanham
as propostas. O PÚBLICO questionou a autarquia sobre esta matéria
ao fim da tarde de ontem, mas não obteve resposta. Outras perguntas
feitas anteontem obtiveram resposta já à hora do fecho desta edição
e estão disponíveis na edição online.
A arquitecta que
apreciou os projectos manifestou, no entanto, várias reservas que
não foram tidas em conta nos despachos de dois dos seus superiores
hierárquicos e do vereador Manuel Salgado. Na opinião daquela
técnica, “a construção proposta ultrapassa o limite de 10 metros
de altura de fachada máxima admitida para as novas construções,
sendo que este limite se encontra excepcionado nos casos em que
câmara considere que se reveste de excepcional importância para a
cidade”. Por outro lado, considera que os projectos apresentam um
défice de pelo menos 24 lugares de estacionamento. No seu entender,
e do chefe da Divisão de Projectos Estruturantes, estas questões
terão de ser decididas superiormente, em especial a da aceitação
pela câmara da excepcional importância dos edifícios a construir.
Contrariando esta
posição, o director de departamento e o director municipal de
Gestão Urbanística entenderam que a questão da altura da fachada
não se coloca. No que toca ao estacionamento, o director de
departamento achou que ele devia ser “reforçado”, mas o director
municipal, Catarino Tavares, entendeu que os lugares existentes no
local cumprem o previsto no PDM.
Salgado concordou
com o seu número dois pelo que a proposta que subscreveu propõe a
aprovação dos projectos tal como estão. Quanto ao estacionamento
acrescenta um dado novo: os promotores pediram a isenção da criação
de novos lugares porque já lá estão 95 — os mesmos que Catarino
Tavares diz serem 87 — e porque “a menos de 100 metros” será
construído “um novo parque de estacionamento público”.
Uma
concessão por meio século dada pela ATL e autorizada pela CML
Posição
contratual cedida era de 35 anos mas o novo contrato é de 50
A entrega dos dois
pavilhões ao grupo Azinor foi feita por cinquenta anos e foi
negociada com a Associação de Turismo de Lisboa (ATL), que lhos
atribuiu em Novembro passado. De acordo com a ATL, o negócio assumiu
a forma de cessão da posição dos antigos concessionários — a
empresa Espaço Poente — ao grupo Azinor no contrato inicialmente
celebrado por eles com a Administração do Porto de Lisboa (APL).
Esta cessão de posição, diz a ATL, foi feita “a pedido do antigo
concessionário no decurso da concessão”, pelo que a associação
“não tinha o espaço disponível para o colocar no mercado”. A
intervenção da ATL neste processo deve-se a um protocolo celebrado
com o município em 2012, através do qual a autarquia lhe transmitiu
a gestão de um conjunto de espaços e edifícios ribeirinhos
anteriormente pertencentes à Administração do Porto de Lisboa
(APL) e que o Governo fez passar para a câmara em 2009 mediante o
pagamento à APL de 14,5 milhões de euros. Foi por via deste
protocolo que a ATL, uma associação privada presidida por inerência
pelo presidente da Câmara de Lisboa, assumiu o lugar de
concessionária no contrato com a Espaço Poente que o município
havia herdado da APL. Este contrato era válido por 35 anos, mas a
concessão atribuída ao grupo Azinor tem um prazo de 50 anos, pelo
que não se trata propriamente de uma cessão da anterior posição
contratual da Espaço Poente. Em resposta ao PÚBLICO, a ATL diz que
o prazo negociado foi “autorizado pela câmara dado o volume de
investimento previsto eo business plan apresentado pelos
interessados”. Os novos concessionários pagarão por mês 24 mil
euros (IVA incluído) e assumiram o pagamento das dívidas da Espaço
Poente ao município (cerca de 350 mil euros), à ATL (cerca de 980
mil) e ao Fisco (cerca de 280 mil). Segundo a ATL, a concessão dos
espaços cuja gestão a câmara lhe entregou e que se encontram
livres é feita “com recurso a consultas ao mercado”. O protocolo
celebrado com a câmara em 2012 diz apenas que a ATL pode “ceder”
a terceiros os bens que lhe foram transmitidos pelo município desde
que aqueles “disponham de idoneidade pessoal, técnica e
financeira”. Se fosse a câmara a concessionar teria de o fazer por
hasta pública.
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