Troika
insiste que são precisas mais medidas para cumprir meta do défice
Comissão
fala de “enfraquecimento do esforço de consolidação” em
Portugal, enquanto o FMI diz que não é “viável” reverter
medidas da troika sem controlar a massa salarial e a despesa com
pensões
Troika continua a
não confiar nas metas orçamentais de Maria Luís Albuquerque
Sérgio Aníbal /
13-6-2015 / PÚBLICO
As instituições
que visitaram Portugal durante as duas últimas semanas continuam a
duvidar da possibilidade de o país cumprir as metas orçamentais sem
aplicar novas medidas de austeridade, identificando a existência de
“um enfraquecimento do esforço de consolidação”.
No final da segunda
avaliação pós- programa a Portugal, a Comissão Europeia e o BCE,
por um lado, e o Fundo Monetário Internacional, por outro, emitiram
ontem comunicados em que repetem as duas principais preocupações em
relação ao que tem acontecido no país desde a saída da troika: a
aplicação de medidas consideradas insuficientes para cumprir os
objectivos definidos para o défice deste ano e dos próximos e uma
redução do ritmo de promoção das reformas, que pode resultar em
taxas de crescimento mais baixas da economia no médio prazo.
Em relação ao
Orçamento, a Comissão Europeia e o BCE continuam a prever um défice
de 3,1% para este ano, o que significa que duvidam que a meta de 2,7%
apresentada pelo Governo seja cumprida, colocando Portugal fora do
procedimento por défices excessivos. “Embora o objectivo de défice
nominal ao abrigo do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) esteja
mais próximo de ser alcançável, o ajustamento do défice
estrutural subjacente em 2015 (bem como nos exercícios posteriores)
ficará provavelmente aquém das exigências do PEC”, afirma o
comunicado das instituições europeias, que assinala que tal
reflecte “um enfraquecimento do esforço de consolidação” por
parte das autoridades portuguesas.
Do lado do FMI as
preocupações em relação ao Orçamento são as mesmas. A
instituição sediada em Washington diz que “existe um risco
tangível de que a meta de 2,7% para o défice orçamental em 2015
não venha a ser cumprida sem restrições adicionais da despesa.
O Fundo reconhece
que os dados da receita fiscal têm vindo a registar melhorias ao
longo deste ano, mas assinala que “permanece uma incerteza
significativa em relação até que ponto é que isso não é um
reflexo de factores técnicos que podem ser revertidos nos próximos
meses”.
O FMI, que prevê
para já um défice de 3,2% este ano, diz que é preciso esperar por
mais dados do IRS e do IRC para avaliar melhor o progresso registado
nas receitas fiscais.
A preocupação em
relação ao desempenho orçamental não fica, contudo, por 2015. O
Fundo continua insatisfeito com o anúncio feito pelo Governo de
retirada progressiva nos anos seguintes de medidas como o corte
salarial na função pública e a sobretaxa de IRS. E avisa que é
preciso compensá-las de alguma forma. “A reversão proposta de
várias medidas na receita introduzidas durante o programa de
ajustamento não devem ser viáveis sem esforços muito determinados
para conter a massa salarial na função pública e a despesa com
pensões”, diz o comunicado do FMI.
Em relação às
reformas estruturais, a troika voltou a pedir um esforço renovado
por parte das autoridades portuguesas. A Comissão Europeia e o BCE
dizem que “o ritmo de implementação das reformas estruturais
continua moderado”.
Especificamente em
relação ao mercado de trabalho, embora afirmando que o impacto das
reformas “é cada vez mais visível”, as duas instituições
dizem que “continua a ser essencial um controlo mais rigoroso da
eficácia destas medidas e outras mais recentes”.
Mais críticos são
ainda nas reformas estruturais em sectores como a energia. “Os
esforços para reduzir as rendas excessivas nas indústrias em rede
estão a avançar a um ritmo lento. A concorrência nestes sectores
deve, pois, ser ainda mais reforçada”, defendem.
Do lado do FMI é
repetido o aviso de que questões como o elevado endividamento do
Estado e das empresas e o desemprego muito alto podem pesar nas
perspectivas de médio e longo prazo para a economia. O Fundo prevê
que a economia, depois de crescer 1,6% este ano, comece a
desacelerar-se logo a seguir, pedindo, por isso, além de
consolidação orçamental, mais esforços para resolver o problema
do endividamento do sector privado e mais reformas estruturais.
Dombrovskis:
descida da TSU não contraria “pensamento da Comissão”
Para que não se
repitam os erros do passado, Valdis Dombrovskis, vicepresidente da
Comissão Europeia, aconselha Portugal a garantir que o crescimento
dos salários, incluindo o salário mínimo nacional, seja feito em
linha com a evolução da produtividade.
De visita a Portugal
ontem, o vice-presidente da Comissão Europeia encarregado das
questões relacionadas com o euro, esteve na Assembleia da República,
reuniu-se com a ministra das Finanças e o ministro do Trabalho e
encontrou-se com parceiros sociais e economistas (incluindo Mário
Centeno). Numa conversa com um grupo de jornalistas, defendeu que
Portugal “é um exemplo de que as reformas funcionam”,
salientando que “a economia está a crescer e o desemprego a
descer”. No entanto, salientou, “nem tudo está feito”.
Uma das preocupações
de Dombrovskis está no mercado de trabalho. Embora tenha afirmado
que os desenvolvimentos a este nível, incluindo o aumento realizado
no salário mínimo, “estão em linha com o que a Comissão
Europeia recomenda”, o vice-presidente diz que agora “é
importante monitorizar os desenvolvimentos, não permitindo que se
repitam os problemas do passado”. E o que é que isto significa?
Que os aumentos salariais, incluindo nos níveis mais baixos, têm de
ser moderados, ficando em linha com o que forem os acréscimos
registados ao nível da produtividade.
Ao mesmo tempo,
salientou que a Comissão Europeia defende à escala do continente
uma redução da fiscalidade que incide sobre o salário. E, por
isso, diz que uma eventual descida da TSU “não vai contra o
pensamento da Comissão”. Salienta, todavia, que “tem de se ver
como é que isso está em linha com os objectivos de consolidação
orçamental”. No que diz respeito ao Orçamento e ao objectivo de
défice de 2,7% para este ano (a Comissão aponta para 3,1%, se não
forem tomadas mais medidas), Valdis Dombrovskis diz que o Governo
“mantém o compromisso de fazer o que for preciso” para garantir
que o país sai do procedimento por défice excessivo. “A diferença
entre as estimativas do Governo e da Comissão é ultrapassável”,
disse.
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