Santa
Apolónia, que Manuel Salgado quer fechar, é a terceira estação do
país
Vereador
da Câmara de Lisboa Manuel Salgado defende o fecho da estação para
dar lugar a um espaço verde com ligação ao Tejo
Carlos Cipriano /
23-6-2015 / PÚBLICO
Todos os dias chegam
e partem de Santa Apolónia 150 comboios de várias tipologias: de
longo curso, regionais e suburbanos. O número de passageiros que
diariamente chegam e/ ou partem daquela estação ronda os 8200, o
que perfaz três milhões por ano. Estes números fazem de Santa
Apolónia a terceira estação ferroviária portuguesa com mais
movimento, sendo os primeiros lugares ocupados pelo Oriente e
Campanhã.
Mas “numa visão
de futuro”, o vereador Manuel Salgado, responsável pelo Urbanismo
na Câmara de Lisboa, entende que esta é “uma área com enorme
potencial” para acolher um espaço verde num contexto em que as
actividades portuárias de Santa Apolónia e Xabregas seriam
transferidas para o Barreiro.
O vereador fez estas
declarações durante uma convenção autárquica do PS-Lisboa que
juntou no domingo militantes e simpatizantes daquele partido no
Parque das Nações.
Salgado referiu que
o encerramento de Santa Apolónia seria “uma oportunidade única
para fazer a ligação dos vales de Santo António e de Chelas ao
rio” e acrescentou que não faz sentido que a estação esteja no
centro da cidade, já que grande parte dos passageiros que chegam a
Lisboa saem na Gare do Oriente. O autarca disse ainda que Santa
Apolónia é mais usada para “estacionar e lavar os comboios”. A
CP, bem como a Refer (agora fundida com a Estradas de Portugal e
designada Infraestruturas de Portugal), não quis comentar as
declarações do vereador, mas todos os quadros ferroviários
contactadas pelo PÚBLICO são unânimes em considerar estas
declarações de Salgado desprovidas de sentido. O mesmo disseram já
vereadores do PSD, CDS e CDU na Câmara de Lisboa.
Encerrar Santa
Apolónia seria impedir um acesso directo do modo ferroviário de
longo curso ao centro de Lisboa, garantem os técnicos, e
contrariaria as boas práticas utilizadas na maior parte das cidades
europeias, em que se potencia o transporte público em detrimento do
transporte individual. Por outro lado, mais do que uma estação de
passageiros, Santa Apolónia é um terminal ferroviário que, a ser
encerrado, teria de ser deslocado para outra estação. A do Oriente
não tem espaço para mais linhas, o que levantaria problemas de
operação, pois as composições teriam de se deslocar em vazio
durante alguns quilómetros (até ser encontrado um local
suficientemente espaçoso e perto de Lisboa para se construir o
terminal) a fim de estacionarem e serem limpas. Estas viagens iriam,
porém, colidir com o tráfego ferroviário comercial num dos pontos
mais saturados da rede. Isto iria encarecer a operação e tornar o
modo ferroviário um transporte bem mais complicado, notam os
técnicos.
Em declarações ao
DN de ontem, Salgado afirmou também que a principal estação de
Lisboa é a de Entrecampos (na verdade, é a terceira) e que “a
tendência no futuro é reforçar o seu papel como estação
central”.
Na primeira década
deste século chegou a ser apresentado uma projecto imobiliário para
a frente ribeirinha na zona de Santa Apolónia que implicava
desafectar daquele local a operação ferroviária. No entanto, o
conselho de administração da Refer opôs-se e provou que a
penetração do caminho-de-ferro até ao centro da cidade era uma
mais-valia para Lisboa. A urbanização de vastos espaços da área
compreendida entre o Parque das Nações e Marvila, no troço Gare do
Oriente-Santa Apolónia, foi projectada por Manuel Salgado, antes de
se tornar vereador, e pelo atelier que é propriedade da primeira
mulher e dos filhos para fundos imobiliários do Grupo Espírito
Santo.
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