Negócios da Odebrecht em Portugal
sob investigação
Ligações de Lula da Silva a
Ricardo Salgado e José Sócrates voltam à superfície.
MARGARIDA VAQUEIRO
LOPES23/06/2015 / Jornal i online
Remonta a Janeiro
a informação de que o procurador Rosário Teixeira e a equipa da Autoridade
Tributária estão a investigar as relações de José Sócrates com a Odebrecht no
âmbito da Operação Marquês. A notícia, avançada pelo i, explicava o porquê: por
exemplo, os brasileiros da Odebrecht são os donos da Bento Pedroso Construções,
empreiteira que integrou uma série de consórcios vencedores de obras públicas
durante os anos em que José Sócrates foi primeiro-ministro. A Bento Pedroso
Construções – que só em 2013 passou a chamar-se Odebrecht Portugal, mas já era
propriedade dos brasileiros há mais de 20 anos – integrava, por exemplo, o
Consórcio Elos, vencedor da construção do troço de TGV entre Poceirão e Caia. Deste
consórcio também fazia parte o grupo Lena, no qual foi administrador Carlos
Santos Silva – amigo suspeito de ser testa-de-ferro de Sócrates.
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da Silva será o próximo alvo da operação? Ele acha que sim...
Mas a Odebrecht
Portugal integrou também o consórcio que venceu a concessão do Baixo Tejo, da
via rodoviária da Grande Lisboa e ainda a construção da barragem do Baixo
Sabor, avaliada em cerca de 250 milhões de euros. Recorde-se que a empresa
tinha também relações próximas com Lula da Silva – como está descrito no texto
ao lado – que, por sua vez, era próximo de José Sócrates. Aliás, o antigo
presidente do Brasil esteve em Portugal em Outubro de 2013 para apresentar o
livro de Sócrates e não lhe poupou elogios. Quem pagou a viagem do petista? A
Odebrecht. A mesma Odebrecht que Lula da Silva elogiou publicamente em Angola,
em Maio de 2014, quando aplaudiu a parceria entre empresas brasileiras e
angolanas na construção da Companhia de Bioenergia de Angola (Biocom). Da
Biocom fazem parte Sonangol e Damer, empresas angolanas e, claro, a brasileira
Odebrecht.
BES envolvido O
alarme foi dado por Hermes Freitas Magnus, o primeiro delator do Lava Jato, em
entrevista ao “Público”, no início do ano. Parte do dinheiro do esquema Lava
Jato era lavado através do BES. Segundo Freitas Magnus, José Janene – então
líder do Partido Progressista (PP), que foi réu do Mensalão e que entretanto
faleceu em 2010 – tinha contas no banco liderado por Salgado. Antes de
denunciar o caso em que esteve envolvido, em 2008, Freitas Magnus foi
contactado para servir de “mula”, disse à mesma publicação: “Queriam que eu
levasse para o Brasil dinheiro de contas do BES, no Porto. As contas eram dele
[Janene], para lavar dinheiro em Portugal, mas ouvi dizer que estavam
associadas a sociedades offshore”.
No ano passado, o
presidente da Andrade Gutierrez desmentiu também Ricardo Salgado, que falou do
envolvimento do empresário na compra de dívida do GES pela Portugal Telecom. Otávio
Azevedo foi o representante da Oi na PT até Julho do ano passado, mas saiu da
operadora alegando que o investimento de 897 milhões de euros da PT em papel
comercial da Rioforte não tinha sido aprovado pelo conselho de administração. Apenas mais um ponto de ligação a Salgado.
Lula demarca-se de Dilma e pede
uma "revolução" no PT
JOÃO MANUEL ROCHA
23/06/2015 - PÚBLICO
Ex-Presidente critica sucessora e
o Partido dos Trabalhadores: "Temos que decidir se nós queremos salvar a
nossa pele e os nossos cargos, ou queremos salvar nosso projecto”.
O ex-Presidente
do Brasil Lula da Silva tem vindo a demarcar-se de Dilma Rousseff e da actuação
do Partido dos Trabalhadores (PT), a que ambos pertencem. “Hoje a gente só
pensa em cargo”, disse, na mais recente das declarações críticas que estão a
incomodar a sucessora.
“Eu acho que o PT
perdeu um pouco a utopia. Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos,
como a gente chorava quando a gente mesmo falava, tal era a crença. Hoje nós
precisamos construir isso porque hoje a gente só pensa em cargo, a gente só
pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito”, disse, na segunda-feira, em
São Paulo, citado pelo jornal O Globo.
“Fico pensando se
não está na hora de fazer uma revolução neste partido, uma revolução interna,
colocar gente nova, mais ousada, com mais coragem. Temos que decidir se nós
queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos, ou queremos salvar nosso
projecto”, declarou também.
As afirmações
foram feitas numa conferência sobre “Novos desafios da democracia”, que incluiu
um debate com o socialista ex-presidente do Governo de Espanha, Felipe
González, realizado no instituto com o seu nome. Lula disse que tenciona
convidar representantes de partidos que têm surgido na Europa, caso do espanhol
Podemos. “O PT era, em 1980, o que é hoje o Podemos”, afirmou.
Mas foram as
críticas que fez no sábado, num encontro com religiosos católicos, também no
seu instituto, quando se referiu concretamente a Dilma e responsabilizou o seu
Governo, que estão a incomodar a Presidente do Brasil.
“Dilma está no
volume morto, o PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto. Todos
estão numa situação muito ruim. E olha que o PT ainda é o melhor partido. Estamos
perdendo para nós mesmos”, afirmou. A expressão volume morto aplica-se à água
do fundo das barragens, que normalmente não se utiliza e que só pode ser
captada por bombagem.
Lula declarou na
mesma ocasião que o “Governo parece um Governo de mudos” e que é um
“sacrifício” convencer Dilma a viajar pelo país defendendo o projecto do PT.
A declaração
politicamente mais relevante foi a de que a Presidente quebrou promessas
eleitorais. “Tem uma frase da companheira Dilma que é sagrada: ‘Eu não mexo no
direito dos trabalhadores nem que a vaca tussa’. E mexeu”, disse. O
ex-Presidente considera também “marcante” a quebra do compromisso de não fazer
“ajuste”. O “ajuste fiscal” consistiu em cortes nas despesas sociais e em
aumentos de impostos e outras receitas.
As críticas
desagradaram a Dilma, mas, segundo a Folha de São Paulo, a ordem é para não
reagir. O reparo que mais lhe terá desagrado foi a afirmação de que mentiu na
campanha quando disse que não haveria alterações nos direitos laborais nem
“ajuste fiscal”.
O mesmo jornal
escreveu que uma ala do Governo de Dilma interpreta as críticas como um ensaio
de distanciamento que permita ao ex-Presidente sobreviver politicamente até às
próximas eleições em 2018, em que poderá recandidatar-se. O antigo chefe de
Estado estaria, segundo os "dilmistas", a tentar passar a mensagem de
que a responsabilidade pela crise política e económica é apenas da actual chefe
de Estado.
Dilma está a
viver um momento politicamente difícil. A sua popularidade caiu para 10% e a
taxa de rejeição do seu Governo atingiu o seu nível mais alto, com 65%, segundo
o Instituto Datafolha. É um valor próximo dos 68% de Collor de Mello em
Setembro de 1992, pouco antes de ser afastado da Presidência por corrupção. Mas
Lula também tem motivos para preocupações. Ele próprio disse há dias que está
convencido de que será o próximo alvo da operação Lava Jato, uma investigação à
rede de corrupção em torno da Petrobras, a petrolífera nacional, apesar de
negar qualquer actuação ilícita.
Aécio Neves,
presidente do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), derrotado por
Dilma nas presidenciais de 2014, não perdeu tempo e aproveitou a boleia das
críticas de Lula ao partido e à sucessora. “Acho que o Presidente Lula, mais do
que ataques à actual Presidente, sua criatura, tem que reassumir a sua parcela
de responsabilidade pelo que vem acontecendo no Brasil. E não há como descolar
uma coisa da outra: o governo é o PT, o governo é Dilma, o governo é Lula”
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