TAP.
Consultor de sindicato com salário igual ao dos advogados mais caros
Declarações
de Cavaco Silva sobre o processo de privatização da TAP geraram
críticas contundentes dos partidos da oposição
MARGARIDA VAQUEIRO
LOPES
16/06/2015 / JORNAL
I online
Lino da Silva cobrou
ao Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil o mesmo que cobram à
hora os advogados mais caros do país. O SPAC defende o comandante.
Depois de vários
anos a receber ao nível dos melhores advogados do país, do lado do
comandante-economista só há silêncio. Paulo Lino da Silva
Rodrigues, o famoso consultor do Sindicato dos Pilotos da Aviação
Civil (SPAC) que é apontado por muitos como o maestro da greve de
dez dias que os pilotos da TAP fizeram em Maio, auferiria 250 euros à
hora pelos serviços no SPAC.
“Não é um valor
assim tão alto. Nós é que estamos habituados a que paguem mal”,
referiu fonte próxima do SPAC em declarações ao i.
O facto é que estes
honorários estão ao nível do que ganham actualmente os advogados
mais caros do país. Fonte do sector revelou ao i que os melhores
ganham “no máximo 350 euros à hora”. “Claro que depende da
complexidade do caso, mas um advogado cobra entre 100 e 350 euros”,
em Portugal. Para cobrar o máximo terá de estar num dos melhores
escritórios do país e ter alguns anos de experiência.
Em Portugal, segundo
dados do Eurostat, o salário médio em 2010 era de 6,5 euros à
hora. Um médico ganha actualmente, no topo de carreira, 29 euros à
hora (brutos).
Milhares de horas A
RTP avançava em Abril que Lino Rodrigues teria ganho, entre 2007 e
2008, 1,17 milhões de euros do SPAC. Isto significa que trabalhou
4800 horas durante esses dois anos. Se considerarmos um dia de
trabalho de 8 horas, isto significa que Lino Rodrigues trabalhou 600
dias para o SPAC em dois anos. No mesmo sentido, a estação
televisiva avançava que durante o período que antecedeu a greve dos
pilotos Lino Rodrigues já teria trabalhado 680 horas – o que lhe
teria rendido 170 mil euros.
Uma das questões
que foram levantadas entretanto é se com este trabalho para o
sindicato, sobretudo durante o período da greve dos pilotos do mês
passado, Lino Rodrigues teria cumprido todas as horas de descanso a
que um piloto está obrigado. É que o consultor terá estado ao
serviço do sindicato durante a última reunião entre administração
e pilotos para tentar travar a paralisação, quando faltavam três
horas para levantar voo – um período que as regras ditam como
sendo de descanso total.
Ontem ao final do
dia o “Público” avançava que a TAP já teria suspendido o
comandante, em consequência do inquérito que foi aberto pela
companhia para apurar se foram violadas regras de ética e de
segurança. A TAP, no entanto, não comenta o assunto. O SPAC remete
todas as declarações para o comunicado de sábado à noite.
No documento, o
sindicato garante que “é falso que a actividade de assessoria
desenvolvida junto da direcção do SPAC tenha posto em causa, em
algum momento, a segurança de voo” e que “a direcção do SPAC
repudia veementemente, porque falsas, as acusações imputadas pela
TAP ao comandante Paulo Lino Rodrigues”.
alívio de cavaco
preocupa A oposição tem reagido às declarações do Presidente da
República, que no domingo se declarou “mais aliviado” com o
processo de privatização da companhia aérea. Depois de, na
quinta-feira passada, o consórcio Gateway, de David Neeleman e
Humberto Pedrosa, ter ganho a corrida à privatização à TAP, os
comentários ao negócio não pararam de aumentar.
A líder do Bloco de
Esquerda, Catarina Martins, afirmou ontem que as declarações de
Cavaco foram “um insulto à inteligência” dos portugueses.
“Dizer que se sente aliviado se a TAP for vendida por 10 milhões
de euros, [no] mesmo país que comprou submarinos por mil milhões de
euros é um insulto à inteligência de toda a gente que vive neste
país”, disse Catarina Martins. A responsável do Bloco
acrescentou que “é muito difícil comentar as declarações do
Presidente da República porque ultimamente o Presidente da República
parece ter-se esquecido do cargo que ocupa e limita-se a fazer
propaganda para a coligação PSD/CDS”.
No mesmo sentido, o
líder da banca parlamentar socialista,#Ferro Rodrigues, enviou uma
nota à agência Lusa em que questiona as afirmações de Cavaco
Silva. “O alívio do Presidente da República sobre o processo de
privatização da TAP assentará em informações que não foram
partilhadas com a Assembleia da República nem com os partidos?”
Ferro Rodrigues vai
mais longe e equipara a privatização da TAP com a resolução do
BES. “Serão agora [essas informações de Cavaco Silva] mais
fiáveis do que as que há um ano o levaram a dizer que o BES estava
sólido?” O PS tem acusado o governo de secretismo e falta de
transparência, tendo o deputado Rui Paulo Figueiredo admitido ontem
que o partido equaciona usar “todos os mecanismos” para aceder à
docu-#mentação do processo. Isto porque, continuou o deputado,
“este assunto é absolutamente essencial e relevante”.
Também o Partido
Comunista Português (PCP), pela voz de Jerónimo de Sousa, se
pronunciou sobre as palavras de Cavaco Silva. Para o secretário-geral
do PCP, “é chocante ouvir um Presidente da República falar assim
de uma empresa estratégica, uma empresa que se liga à comunidade
lusófona, uma empresa que é simplesmente a maior exportadora
nacional”.
Recorde-se que a TAP
foi vendida ao consórcio Gateway num negócio em que o Estado
encaixará 10 milhões de euros.
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