Quem
está a ganhar com esta privatização da TAP?
PEDRO SOUSA CARVALHO
05/06/2015 / PÚBLICO
“Não lançaremos
a privatização a poucos meses das eleições legislativas.”
Palavra de Pires de Lima. Uma promessa feita ao jornal Expresso no
dia 19 de Julho de 2014, a propósito da venda da TAP. Estamos a
poucos meses das eleições, até já se conhecem os programas
eleitorais, e o Governo está a privatizar a TAP. Usando uma
expressão do próprio ministro da Economia, o Governo já deu “corda
aos sapatos” e nada parece travar a intenção de vender a TAP,
custe o custar. Mesmo que não custe nada. Mesmo que a companhia de
bandeira nacional seja vendida por um vintém.
A pressão e a
dramatização que colocou na venda da TAP é tal que o Governo
deixou pouca ou nenhuma margem de recuo para abortar a operação,
mesmo que as propostas de Germán Efromovich e de David Neeleman
sejam más e lesivas para o interesse do Estado. Mesmo que a
credibilidade de alguns dos candidatos deixe muito a desejar. Há uma
pressão enorme para vender a empresa antes da viragem do ciclo
político. São escritórios de advogados, são consultores, são
facilitadores de negócios, todos de mão estendida à espera dos
honorários, das comissões, das avenças e dos success fee. O
failure fee, se o negócio for ruinoso para o Estado, ficará para os
contribuintes. Até há comentadores que opinam semanalmente sobre o
negócio na TAP, e os escritórios onde trabalham estão ligados aos
candidatos à compra.
Claro que há
interesses à volta do negócio que só conheceremos daqui a uns
anos; outros de que nem daremos conta. Já agora, o que é feito da
indignação dos socialistas que, em 2012, exigiam que Passos Coelho
esclarecesse todas as ligações de Miguel Relvas à privatização
da TAP? Na altura, Rui Paulo Figueiredo, do PS, constatava: "Hoje
conhecemos as relações de promiscuidade entre o ministro Miguel
Relvas e o potencial adquirente da TAP, Germán Efromovich, e vários
escritórios de advogados e de consultoria brasileiros e
portugueses." Ficou tudo esclarecido, senhor deputado Rui Paulo
Figueiredo?
Passos Coelho diz
que receia que, sem privatização, a TAP se torne "uma
tapezinha". A TAP não precisa de ser uma "tapezona";
precisa de fazer os voos para a Madeira, Açores e para onde haja
comunidades relevantes de emigrantes portugueses. E fazer as rotas
que forem financeiramente rentáveis. A última empresa com tiques de
megalomania foi a Portugal Telecom, que num ápice passou a ser uma
pêtêzinha. Esta semana, a PT SGPS passou a chamar-se PHarol e a PT
Portugal passou a filial de uma empresa de telecomunicações
francesa. Se calhar vai ser retalhada e vendida a granel.
Aliás, a PT e a TAP
têm muito em comum. São marcas acarinhadas pelos portugueses e
sempre estiveram no top 10 das mais valiosas. A primeira foi um case
study a nível mundial em termos de inovação, e a segunda carrega a
bandeira de ser uma das mais seguras do mundo. Em comum também têm
o facto de ambas terem feito investimentos ruinosos que
desequilibraram as contas; Zeinal Bava e Henrique Granadeiro da PT
investiram 900 milhões em papel comercial do Grupo Espírito Santo,
e Fernando Pinto fez um investimento ruinoso ao comprar uma empresa
de manutenção no Brasil que ainda hoje impede a companhia de ter
lucros. Sendo que ambos os negócios estão a ser investigados pela
Procuradoria-Geral da República.
Em ambos os casos,
as companhias foram entregues de bandeja a investidores brasileiros:
a PT foi parar às mãos da Oi, que a despachou na primeira
oportunidade para reduzir a dívida, e a TAP será “oferecida” a
Germán Efromovich ou a David Neeleman, ambos com passaporte
brasileiro. A PT acabou como acabou e a TAP cá estaremos para contar
o resto da história.
Germán Efromovich
há dois anos ganhou a privatização da TAP. Assumiu o compromisso
de pagar 35 milhões de euros ao Estado, injectar 300 milhões na
empresa e assumir dívida de mais de mil milhões de euros. Quando
chegou a altura de passar o cheque ao Estado, disse que não tinha
garantias bancárias. Um mau cartão-de-visita para quem pelos vistos
não tinha um grande cartão de crédito. David Neeleman, que já
tentou por três vezes colocar a sua empresa em bolsa e falhou, tem
passaporte americano e brasileiro e, segundo as leis europeias, não
pode comprar mais de 50% do capital da TAP. Como tal, Humberto
Pedrosa, presidente da Barraqueiro, é quem aparece como líder do
seu consórcio com 50,1% do capital. Esta tentativa pateta e tosca de
contornar as regras europeias vai passar? Um destes dois senhores
será o futuro dono da TAP.
Se calhar a
privatização é a melhor alternativa para a TAP nesta altura, tendo
em conta o buraco onde Fernando Pinto meteu a companhia. Mas não
deverá ser feita a qualquer preço, vendida a qualquer um e muito
menos à pressa só para encher os bolsos dos facilitadores de
negócios e escritórios de advogados. É caso para perguntar: se o
país não está a ganhar dinheiro com a privatização da TAP, quem
estará?
Mesmo que a
privatização falhe, não será o fim do mundo. Não seria a
primeira vez. Seria a terceira. Se Fernando Pinto está a implementar
um plano de reestruturação para recuperar os prejuízos provocados
pela greve dos pilotos, também pode fazer um outro para recuperar os
prejuízos que ele próprio provocou na TAP. E se tiver de despedir
alguém, que ele seja o primeiro da lista.
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