UE
anuncia mais medidas “externas” para travar a crise dos
refugiados
Conselho
Europeu dos próximos dois dias é o segundo em menos de um mês
dedicado à crise dos refugiados. A guerra na Síria também está no
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Europa
propõe cooperação com a Turquia, que poderá receber apoio
financeiro para a instalação de um sistema de triagem de refugiados
Sílvia Amaro,
Bruxelas / 15-10-2015 / PÚBLICO
Os 28 líderes
europeus reúnem-se a partir de hoje em Bruxelas para tentar
enfrentar a crise dos refugiados de forma mais eficaz e a partir de
uma perspectiva de longo prazo. As divisões subsistem e as soluções
ainda são escassas.
Migrantes e
refugiados desembarcam na ilha de Lesbos, na Grécia, depois de
navegarem desde a Turquia
De acordo com a
proposta de Conclusões, redigida pelos presidentes do Conselho
Europeu, Donald Tusk, e da Comissão, Jean-Claude Juncker, os líderes
preparam-se para tomar mais medidas para reforçar a fronteira
externa da União (o seu reforço pode ir até ao ponto de criar uma
força de polícia fronteiriça no âmbito da União), acelerar o
processo de distribuição dos refugiados que estão na Itália e na
Grécia e a cooperação com os países vizinhos, em primeiro lugar a
Turquia, para aceitarem um sistema de triagem in loco, a troco de
apoio financeiro.
Este Conselho
Europeu é o segundo em menos de um mês dedicado à crise dos
refugiados (houve uma cimeira extraordinária a 23 de Setembro por
insistência da chanceler alemã, Angela Merkel). A Alemanha é o
destino escolhido por uma ampla maioria de migrantes que atravessam
os Balcãs em direcção à União Europeia. Merkel quer garantir o
apoio dos parceiros europeus à sua política de abertura, hoje sob
fogo cerrado da CSU da Baviera (o partido irmão da CDU da
chanceler), onde se concentra o maior número de refugiados que já
chegaram à Alemanha. Mas há igualmente muitas críticas nas
fileiras do seu partido, colocando problemas logísticos e
financeiros para receber os 800 mil indivíduos previstos para este
ano. Até agora, a chanceler não cedeu a qualquer pressão, mantendo
a sua visão do problema desde a primeira hora: primeiro, é uma
questão humanitária que a Europa, tal como ela a concebe, não pode
ignorar; segundo, é um problema que fará parte da realidade
europeia no longo prazo e para a qual é precisa também uma resposta
estratégica.
Em Berlim, os
analistas dizem que é a primeira vez que a chanceler vai abertamente
contra o sentimento de uma parte substancial dos alemães, embora
também digam que, por enquanto, o desgaste da sua popularidade ainda
é muito limitado. Merkel quer consolidar a sua “autoridade moral”
para enfrentar um desafio que põe à prova os valores europeus, para
mostrar que pode e sabe liderar a Europa para além da crise do euro.
O problema é que os
países de Leste, a começar pela Hungria, ponto de passagem de
milhares de migrantes para chegar à Áustria e à Alemanha, vindos
dos Balcãs, continuam muito renitentes em aceitar uma política mais
aberta. Há partidos populistas em muitos países da União que podem
tirar proveito desta realidade. A chanceler e outros governos
europeus defendem a criação de hotspots onde os refugiados seriam
obrigados a ficar para ser possível a triagem entre os que precisam
de asilo e os que são imigrantes à procura de melhores condições
de vida. Mas estas “zonas de trânsito” mereceram fortes críticas
do SPD, o parceiro da CDU na grande coligação que governa a
Alemanha, que lhe chama “zonas de detenção”, que fazem lembrar
demais os campos nazis.
O debate será feito
no jantar dos líderes. Há um relatório da Comissão sobre o tema
com o balanço do que já foi feito (ainda pouco) e com novas medidas
a pôr em prática, desde o reforço da Frontex para garantir a maior
impermeabilidade das fronteiras exteriores terrestres da União, até
à eventual revisão de Dublin II, o sistema de asilo europeu já
totalmente ultrapassado pelos acontecimentos. A necessidade de
harmonizar as políticas de asilo entre os Estados-membros é
igualmente urgente: a generosidade de alguns, que aceitam (como a
Alemanha ou a Suécia) mais de 80% dos pedidos, e outros (como a
Grécia) que concedem um número muitíssimo mais limitado.
Uma estratégia
europeia tem de passar também pelo auxílio aos países da região
que rodeia a Síria, a maior fonte deste fluxo de refugiados, de
forma a permitir-lhes garantir condições mínimas de apoio.
A Turquia é uma
pedra fundamental. Recebeu até hoje cerca de 2 milhões de
refugiados sírios, quer o apoio da Europa e é, além disso, um
actor importante no conflito sírio. A chanceler estará em Ancara no
próximo domingo. “A questão da Turquia será uma parte importante
das discussões”, disse ao PÚBLICO uma fonte diplomática de
Bruxelas.
As causas desta vaga
avassaladora de refugiados — as guerras na Síria e no Iraque e a
entrada em cena do Estado Islâmico nestes dois países, ou o caos na
Eritreia ou no Afeganistão — são a outra face do problema que os
líderes terão de enfrentar rapidamente. A Síria vai exigir no
curto prazo um entendimento entre europeus e norte-americanos para
enfrentar o desafio da Rússia. O Presidente Putin utilizou o Estado
Islâmico para forçar uma intervenção militar na Síria
alegadamente para o combater, mas realmente o que quer é salvar o
regime de Bashar AlAssad, o seu aliado no Médio Oriente, e abrir a
porta a uma maior influência regional.
Os líderes
discutirão a melhor maneira de pôr fim ao conflito (se é que é
possível pôr fim ao conflito), trazendo de novo a relação com
Moscovo, degradada pela crise na Ucrânia, para cima da mesa. Mais
uma vez a posição da chanceler será fulcral. “A situação na
região é difícil e politicamente muito complexa,” disse o
presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, na carta dirigida aos
líderes europeus. Na proposta de Conclusões, a UE manifesta a sua
preocupação com os bombardeamentos russos à oposição a Damasco,
que “poderá agravar a situação ainda mais”.
Na última cimeira
foi decidido distribuir numa primeira fase 160 mil refugiados
concentrados na Itália e na Grécia. Mas só esta semana começaram
a ser transportados os primeiros 20 dos 821 que a Suécia vai receber
(é o país que mais refugiados tem aceitado em termos relativos). A
Comissão quer acelerar o processo. “Temos visto resultados
concretos, mas ainda precisamos que os Estados-membros façam mais;
palavras nobres têm de ser seguidas por acções concretas em casa”,
disse Juncker.
Na agenda desta
cimeira está
também a questão
britânica. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, irá
informar os restantes líderes sobre os desenvolvimentos nas
discussões técnicas que têm decorrido entre a Comissão Europeia,
o Conselho Europeu e o seu Governo sobre as mudanças que quer para
que o Reino Unido se mantenha membro da União Europeia. A discussão
“não se espera longa,” disse fonte europeia que está a par das
negociações. A questão “tem de ser preparada muito bem a nível
técnico antes de ser levada para uma fase política”, acrescentou
a mesma fonte.
Londres pretende
mudanças em quatro áreas: soberania (restituir algum poder aos
parlamentos nacionais); governação económica; acesso à Segurança
Social; e ainda tornar a União mais competitiva. Esta poderá ser a
primeira cimeira europeia desde há muito tempo em que a Grécia não
é o tema central.
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