sábado, 17 de outubro de 2015

Costa afirma que coligação está a esconder factos de grande gravidade económica / O acordo "não é fácil" mas "está bem encaminhado"


Costa afirma que coligação está a esconder factos de grande gravidade económica

Leonete Botelho 16/10/2015 – PÚBLICO

Em entrevista à TVI, o líder do PS afirmou que um dos motivos pelos quais a conversa com a coligação azedou foi a falta de informação sobre dados essenciais. E deixou claro que está a negociar à esquerda com vista a "um governo de legislatura" e não de gestão.

Foi na segunda parte da entrevista à TVI, quando o programa já só passava no cabo, que António Costa sugeriu que um dos motivos pelos quais a conversa com a coligação azedou foi por causa de "uma má notícia para o país que um dia os portugueses vão saber". Mais: "Foram sempre deixando cair uma nova surpresa desagradável que um dia vão ser tornadas públicas sobre a real situação financeira do país".

Sem querer revelar a que factos se estava a referir, respondeu com um "sim" quando o jornalista Pedro Pinto lhe perguntou se eram factos de "grande gravidade económica". "Infelizmente os portugueses vão ficar a saber", porque "há um limite" para "o que não se diz", reafirmou Costa.

"Muitas coisas foram omitidas durante a campanha eleitoral, mas a campanha acabou, é tempo de trabalho", disse, aproveitando para repetir: "É por isso que temos insistido no pedido de informação e de resposta às nossas perguntas".

À falta de informação, Costa juntou outras críticas à atitude da coligação nestas negociações: "Na primeira reunião, não propuseram nada, na segunda apresentaram um documento insuficiente, que não mudava nada nas suas políticas e tinha omissões imensas".

A sombra estava lançada no ar e ajudava a explicar a primeira parte da entrevista, onde António Costa se tinha demorado a explicar como estavam a correr bem as negociações à esquerda. Mas também para balizar que tipo de horizonte têm: "Um governo que tenha condições na perspectiva da legislatura", ou seja, para quatro anos. Para que não haja dúvidas, afirmou: "Não há cá governos de gestão".


Isto depois de repetir qual é a posição do PS sobre o actual xadrez político: a coligação ganhou as eleições, tem o direito de formar governo, e o PS só não viabiliza o programa de governo se tiver "uma alternativa de governo estável". E quando lhe perguntaram, respondeu sem hesitar: "Neste momento, o PS está, tudo indica, em melhores condições de formar uma maioria governativa do que a coligação PSD/CDS".


O acordo "não é fácil" mas "está bem encaminhado"
PAULO PENA e MARIA JOÃO LOPES 16/10/2015 - PÚBLICO

O PCP reuniu-se com o BE, que ao mesmo tempo falava com o PS. “Há possibilidade de convergência” garante Catarina. "O PCP está genuinamente empenhado", acrescenta Jerónimo.
Houve avanços, mas ainda não há conclusões

Começando pelo fim: o PS irá contactar o PCP e o BE para uma nova reunião "técnica". A aproximação programática entre os três partidos ainda não está concluída, apesar dos "avanços" que fontes dos partidos dizem ter havido na última ronda de contactos (quinta-feira à noite com o PCP e sexta-feira à tarde com o BE). Essa será, ao que tudo indica, a última reunião negocial, antes de um encontro final entre os líderes partidários, António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, que pode firmar o entendimento que todos dizem procurar.

As últimas conversas que o PS manteve com os partidos à sua esquerda foram longas, de quase três horas, e permitiram identificar temas de possível consenso. Mas também áreas onde o acordo ainda não é garantido. “É um processo necessariamente complexo, mas que está bem encaminhado”, explicou a líder do Bloco, Catarina Martins, numa conferência de imprensa após o encontro que teve com uma delegação do PCP, liderada por Jerónimo de Sousa, no Parlamento, à mesma hora a que outra delegação do BE se reunia com o PS.

Foi mais um encontro inédito, numa semana de acontecimentos pouco habituais. Catarina e Jerónimo sentaram-se à mesma mesa, às 16 horas desta sexta-feira, pela primeira vez desde que se iniciou este processo com vista à viabilização de um Governo de esquerda liderado pelo PS.

À saida da reunião, falando aos jornalistas, Jerónimo de Sousa admitiu que o processo “não é fácil”, até porque o programa do PS está longe de “uma efectiva ruptura com a política de direita”.

No entanto, nem o BE, nem o PCP, adiantaram os conteúdos da negociação. Aliás, os três partidos de esquerda têm uma regra: manter secreto o teor das negociações.

“As negociações fazem-se à mesa”, explicou Catarina Martins. Uma das maiores dúvidas que persistem, ao fim de uma semana de contactos entre PS, PCP e BE, é a do alcance deste processo. Do pouco que se sabe - o PCP apresentou questões políticas mais vastas, enquanto o BE apresentou um conjunto de medidas com impacto orçamental - não é possível antever se destas conversas pode resultar apenas uma viabilização do programa de um Governo liderado pelo PS, se a intenção é ir mais longe, em direcção a um acordo de legislatura.

Disso pode depender a crítica "estabilidade" exigida pelo Presidente da República. “A estabilidade passa por um processo de convergência entre forças políticas diferentes, que estão empenhadas, e que tem de ser liderado pelo PS, porque teve mais votos e é o único em condições de formar governo. O BE não deixa de fazer propostas concretas”, respondeu a porta-voz bloquista, referindo-se às “balizas” que vem repetindo desde a campanha eleitoral – Segurança Social, pensões e emprego. Catarina Martins reconheceu que este “é um processo necessariamente complexo, mas que está bem encaminhado” e que “nada dará mais estabilidade ao país” do que a defesa dos salários, das pensões e do emprego. Garantidas estas três questões, o BE não faltará a essa estabilidade, explicou.

Já o secretário-geral do PCP Jerónimo de Sousa voltou a reafirmar que o PCP apresentará uma moção de rejeição a um governo de direita e que está empenhado numa solução à esquerda,

Também Jerónimo de Sousa recusou dizer se o acordo em causa é ou não para quatro anos. Até porque ele ainda não existe: “Como podemos responder a uma coisa que não existe?”, questionou, garantindo que as conversas prosseguem. No meio da confusão das questões dos jornalistas sobre a estabilidade do Governo, Jerónimo de Sousa ainda desabafou antes de sair da sala: os comunistas estão “a pensar mais na estabilidade da vida dos portugueses do que governativa”.

Outra questão crucial é a do envolvimento de PCP e BE na eventual solução governativa. Integrarão o Governo, assumindo pastas, assinarão apenas um acordo de incidência parlamentar?

Jerónimo respondeu que os comunistas não andam “atrás de lugares ou qualquer privilégio” no caso de um eventual governo do PS. “O PCP está genuinamente empenhado no diálogo”, disse o líder comunista.

Catarina Martins reiterou que o seu objectivo é que um eventual executivo à esquerda tenha “políticas de facto diferentes” das que a maioria de direita concretizou nos últimos quatro anos.

Apesar de ainda não haver acordo, Catarina Martins reconhece que “o país tem pressa” e garante que o BE está “empenhado” e a trabalhar “com muita determinação”. Mesmo sem acordo ainda e, por isso, sem possibilidade de se comprometer para os próximos quatro anos, a porta-voz reconhece que “este é também o momento para se começarem a concretizar compromissos”.

E mais uma vez reiterou a “certeza de que Portugal tem condições para ter um governo diferente”.

Sem comentários: