Costa
afirma que coligação está a esconder factos de grande gravidade
económica
Leonete Botelho
16/10/2015 – PÚBLICO
Em
entrevista à TVI, o líder do PS afirmou que um dos motivos pelos
quais a conversa com a coligação azedou foi a falta de informação
sobre dados essenciais. E deixou claro que está a negociar à
esquerda com vista a "um governo de legislatura" e não de
gestão.
Foi na segunda parte
da entrevista à TVI, quando o programa já só passava no cabo, que
António Costa sugeriu que um dos motivos pelos quais a conversa com
a coligação azedou foi por causa de "uma má notícia para o
país que um dia os portugueses vão saber". Mais: "Foram
sempre deixando cair uma nova surpresa desagradável que um dia vão
ser tornadas públicas sobre a real situação financeira do país".
Sem querer revelar a
que factos se estava a referir, respondeu com um "sim"
quando o jornalista Pedro Pinto lhe perguntou se eram factos de
"grande gravidade económica". "Infelizmente os
portugueses vão ficar a saber", porque "há um limite"
para "o que não se diz", reafirmou Costa.
"Muitas coisas
foram omitidas durante a campanha eleitoral, mas a campanha acabou, é
tempo de trabalho", disse, aproveitando para repetir: "É
por isso que temos insistido no pedido de informação e de resposta
às nossas perguntas".
À falta de
informação, Costa juntou outras críticas à atitude da coligação
nestas negociações: "Na primeira reunião, não propuseram
nada, na segunda apresentaram um documento insuficiente, que não
mudava nada nas suas políticas e tinha omissões imensas".
A sombra estava
lançada no ar e ajudava a explicar a primeira parte da entrevista,
onde António Costa se tinha demorado a explicar como estavam a
correr bem as negociações à esquerda. Mas também para balizar que
tipo de horizonte têm: "Um governo que tenha condições na
perspectiva da legislatura", ou seja, para quatro anos. Para que
não haja dúvidas, afirmou: "Não há cá governos de gestão".
Isto depois de
repetir qual é a posição do PS sobre o actual xadrez político: a
coligação ganhou as eleições, tem o direito de formar governo, e
o PS só não viabiliza o programa de governo se tiver "uma
alternativa de governo estável". E quando lhe perguntaram,
respondeu sem hesitar: "Neste momento, o PS está, tudo indica,
em melhores condições de formar uma maioria governativa do que a
coligação PSD/CDS".
O
acordo "não é fácil" mas "está bem encaminhado"
PAULO PENA e MARIA
JOÃO LOPES 16/10/2015 - PÚBLICO
O
PCP reuniu-se com o BE, que ao mesmo tempo falava com o PS. “Há
possibilidade de convergência” garante Catarina. "O PCP está
genuinamente empenhado", acrescenta Jerónimo.
Houve
avanços, mas ainda não há conclusões
Começando pelo fim:
o PS irá contactar o PCP e o BE para uma nova reunião "técnica".
A aproximação programática entre os três partidos ainda não está
concluída, apesar dos "avanços" que fontes dos partidos
dizem ter havido na última ronda de contactos (quinta-feira à noite
com o PCP e sexta-feira à tarde com o BE). Essa será, ao que tudo
indica, a última reunião negocial, antes de um encontro final entre
os líderes partidários, António Costa, Catarina Martins e Jerónimo
de Sousa, que pode firmar o entendimento que todos dizem procurar.
As últimas
conversas que o PS manteve com os partidos à sua esquerda foram
longas, de quase três horas, e permitiram identificar temas de
possível consenso. Mas também áreas onde o acordo ainda não é
garantido. “É um processo necessariamente complexo, mas que está
bem encaminhado”, explicou a líder do Bloco, Catarina Martins,
numa conferência de imprensa após o encontro que teve com uma
delegação do PCP, liderada por Jerónimo de Sousa, no Parlamento, à
mesma hora a que outra delegação do BE se reunia com o PS.
Foi mais um encontro
inédito, numa semana de acontecimentos pouco habituais. Catarina e
Jerónimo sentaram-se à mesma mesa, às 16 horas desta sexta-feira,
pela primeira vez desde que se iniciou este processo com vista à
viabilização de um Governo de esquerda liderado pelo PS.
À saida da reunião,
falando aos jornalistas, Jerónimo de Sousa admitiu que o processo
“não é fácil”, até porque o programa do PS está longe de
“uma efectiva ruptura com a política de direita”.
No entanto, nem o
BE, nem o PCP, adiantaram os conteúdos da negociação. Aliás, os
três partidos de esquerda têm uma regra: manter secreto o teor das
negociações.
“As negociações
fazem-se à mesa”, explicou Catarina Martins. Uma das maiores
dúvidas que persistem, ao fim de uma semana de contactos entre PS,
PCP e BE, é a do alcance deste processo. Do pouco que se sabe - o
PCP apresentou questões políticas mais vastas, enquanto o BE
apresentou um conjunto de medidas com impacto orçamental - não é
possível antever se destas conversas pode resultar apenas uma
viabilização do programa de um Governo liderado pelo PS, se a
intenção é ir mais longe, em direcção a um acordo de
legislatura.
Disso pode depender
a crítica "estabilidade" exigida pelo Presidente da
República. “A estabilidade passa por um processo de convergência
entre forças políticas diferentes, que estão empenhadas, e que tem
de ser liderado pelo PS, porque teve mais votos e é o único em
condições de formar governo. O BE não deixa de fazer propostas
concretas”, respondeu a porta-voz bloquista, referindo-se às
“balizas” que vem repetindo desde a campanha eleitoral –
Segurança Social, pensões e emprego. Catarina Martins reconheceu
que este “é um processo necessariamente complexo, mas que está
bem encaminhado” e que “nada dará mais estabilidade ao país”
do que a defesa dos salários, das pensões e do emprego. Garantidas
estas três questões, o BE não faltará a essa estabilidade,
explicou.
Já o
secretário-geral do PCP Jerónimo de Sousa voltou a reafirmar que o
PCP apresentará uma moção de rejeição a um governo de direita e
que está empenhado numa solução à esquerda,
Também Jerónimo de
Sousa recusou dizer se o acordo em causa é ou não para quatro anos.
Até porque ele ainda não existe: “Como podemos responder a uma
coisa que não existe?”, questionou, garantindo que as conversas
prosseguem. No meio da confusão das questões dos jornalistas sobre
a estabilidade do Governo, Jerónimo de Sousa ainda desabafou antes
de sair da sala: os comunistas estão “a pensar mais na
estabilidade da vida dos portugueses do que governativa”.
Outra questão
crucial é a do envolvimento de PCP e BE na eventual solução
governativa. Integrarão o Governo, assumindo pastas, assinarão
apenas um acordo de incidência parlamentar?
Jerónimo respondeu
que os comunistas não andam “atrás de lugares ou qualquer
privilégio” no caso de um eventual governo do PS. “O PCP está
genuinamente empenhado no diálogo”, disse o líder comunista.
Catarina Martins
reiterou que o seu objectivo é que um eventual executivo à esquerda
tenha “políticas de facto diferentes” das que a maioria de
direita concretizou nos últimos quatro anos.
Apesar de ainda não
haver acordo, Catarina Martins reconhece que “o país tem pressa”
e garante que o BE está “empenhado” e a trabalhar “com muita
determinação”. Mesmo sem acordo ainda e, por isso, sem
possibilidade de se comprometer para os próximos quatro anos, a
porta-voz reconhece que “este é também o momento para se
começarem a concretizar compromissos”.
E mais uma vez
reiterou a “certeza de que Portugal tem condições para ter um
governo diferente”.
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