"O Governo insiste que a crise é gerível, repetindo vezes sem conta o mantra “conseguimos fazer isto”, mas a pressão da opinião pública acumula-se. Uma nova sondagem indica que os democratas-cristãos da chanceler Angela Merkel caíram mais um ponto percentual na última semana, para os 37%. Neste ambiente, as atenções viram-se de novo para o PEGIDA, o movimento islamofóbico que voltou a ganhar fôlego com a crise dos refugiados. Nesta segunda-feira planeia assinalar o seu primeiro aniversário com uma grande concentração em Dresden."
Com
o Inverno à porta, milhares desesperam nas fronteiras dos Balcãs
ANA FONSECA PEREIRA
18/10/2015 - PÚBLICO
Eslovénia
anunciou limites ao número de entradas diárias de refugiados. Na
Alemanha, a falta de alojamentos obriga autoridades a erguer
acampamentos
O Inverno
aproxima-se a passos largos e, das águas agora frias do Egeu às
cidades da Alemanha com que quase todos sonham, torna-se mais difícil
a vida dos refugiados e mais complexa a tarefa de encontrar abrigos
quentes e secos para todos. Nas fronteiras dos Balcãs, milhares
esperam e desesperam por autorização para passar à etapa seguinte
da viagem.
Berkasovo, na
fronteira entre a Sérvia e a Croácia, era na manhã deste domingo a
imagem do congestionamento temido pelas agências humanitárias.
Centenas de pessoas tinham passado a noite dentro de 40 autocarros
estacionados a um quilómetro da vedação, esperando autorização
para entrar em território croata. “Estamos aqui há 20 horas,
precisamos de água, comida. Há aqui mulheres e bebés”,
indignava-se o condutor de um dos autocarros ouvido pela Reuters.
A Hungria fechou as
suas portas aos refugiados, obrigados agora a contornar o país e a
atravessar ainda mais fronteiras para chegar à Alemanha, o destino
ambicionado pela maioria. E, como num dominó, cada limitação ou
obstáculo logístico imposto por um dos países desta rota cria
inevitavelmente dificuldades a montante.
A Eslovénia abriu a
sua fronteira aos refugiados no sábado, mas depois de ter recebido
três mil pessoas em apenas 24 horas anunciou que não está em
condições de receber mais do que 2500 por dia e recusou a entrada
no país de um comboio vindo da Croácia com 1800 pessoas, adianta a
AFP. “Não podemos receber um número ilimitado se sabemos que eles
não podem continuar a viagem”, disse o ministro do Interior
esloveno, Bostjan Sefic, ao explicar que a Áustria comunicou que só
vai receber 1500 pessoas por dia.
O problema é que o
ritmo de chegadas por mar à Grécia não dá sinais de abrandar
apesar das condições meteorológicas cada vez mais difíceis –
ainda neste domingo, dois naufrágios no mar Egeu provocaram a morte
de cinco pessoas, três das quais crianças. E cerca de cinco mil
pessoas continuam a atravessar todos os dias a fronteira para a
Macedónia, um número semelhante às que depois se apresentam depois
nas entradas da Sérvia e da Croácia.
O primeiro-ministro
croata, Zoran Milanovic, garantiu que tem “a situação sob
controlo” e encara o encerramento da sua fronteira com a Sérvia
como “a última das últimas opções”. Mas a imprensa local
noticiou que o ritmo de entradas no país abrandou significativamente
em relação ao dia anterior.
E não é só nos
Balcãs que o Inverno paira como uma ameaça. O jornal alemão Die
Welt noticiou que há 42 mil refugiados que estão a viver em tendas
no país, sendo cada vez maiores as dificuldades das autoridades
locais para encontrar alojamento para todos os recém-chegados.
Pavilhões
desportivos, antigos quartéis e escolas foram transformados em
centros de acolhimento, mas em várias cidades mesmo essa solução
de emergência está esgotada e foi preciso montar acampamentos, como
o de Celle, uma pequena cidade no Norte do país que a Reuters
visitou. A autarquia está a gastar quatro mil euros por dia em
aquecimento, mas as tendas são finas demais para as baixas
temperaturas e os refugiados queixam-se do frio.
O Governo insiste
que a crise é gerível, repetindo vezes sem conta o mantra
“conseguimos fazer isto”, mas a pressão da opinião pública
acumula-se. Uma nova sondagem indica que os democratas-cristãos da
chanceler Angela Merkel caíram mais um ponto percentual na última
semana, para os 37%. Neste ambiente, as atenções viram-se de novo
para o PEGIDA, o movimento islamofóbico que voltou a ganhar fôlego
com a crise dos refugiados. Nesta segunda-feira planeia assinalar o
seu primeiro aniversário com uma grande concentração em Dresden.
Merkel esteve neste
domingo na Turquia e, numa nova tentativa para convencer Ancara a
aceitar o “plano de acção” conjunta para controlar o fluxo
migratório, disse estar disposta a apoiar o início, ainda este ano,
de um novo capítulo das negociações de adesão do país à UE,
actualmente bloqueadas. Propôs também acelerar as discussões para
facilitar a concessão de vistos a cidadãos turcos, na condição de
que Ancara se comprometa a assinar os acordos para o rápido
repatriamento de quem não conseguir asilo na Europa. O
primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, afirmou que foram feitos
progressos em relação à cimeira da semana passada, mas insistiu
que “há ainda questões por resolver
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