Votou
PS para isto?
CARTAS À DIRECTORA
/ PÚBLICO / 18-10-2015
Manuel Martins,
Alandroal
Sim, dirijo-me a si,
eleitor votante do PS nas recentes legislativas. Está satisfeito com
as negociações que o PS, de chapéu na mão, está a conduzir com o
PCP e o BE, que na campanha eleitoral elegeram o PS como inimigo
principal? Não tendo sido apresentado nenhum programa de Governo de
esquerda na campanha, acha correcto que António Costa (A.C.) resolva
agora, ao arrepio da sua proposta eleitoral, governar coligado com a
esquerda? Nunca, em 39 anos de democracia em Portugal, o PS se aliou
à esquerda para governar. Acha natural isso acontecer logo agora,
que o país ainda está sob vigilância dos nossos credores
internacionais e da UE? Se isto já aconteceu noutros países com
democracias mais antigas e maduras, não quer dizer que não seja, na
mesma, desonesto politicamente. Eu diria até obsceno, na medida em
que considero ser uma traição aos valores que o PS defendeu
duramente na sua história, desde 1973. Mário Soares, em 1974,
abraçou Cunhal à chegada a Lisboa, estendeu-lhe os braços numa
aliança de esquerda, para defender a democracia, e logo um ano
depois foi expulso do Estádio 1.º de Maio pelos acólitos de
Cunhal. Se A.C. desconhece isso, por andar de fraldas na altura, que
pergunte aos seus camaradas mais velhos.
O PS terá todo o
direito de governar à esquerda um dia (Deus nos guarde). Mas, para
isso, em democracia verdadeira, terá primeiro de ganhar as eleições.
E, antes delas, terá de anunciar previamente que se vai coligar e/ou
aliar à esquerda para formar Governo. Eu não me esqueci ainda que
A.C., perguntado diversas vezes por jornalistas antes das eleições,
se tencionava aliar-se à esquerda para formar Governo, respondeu
sempre (manhosamente, digo agora eu) que só depois de o povo falar
se veria. Eu chamo a isto uma fraude política! Os eleitores foram
enganados, especialmente os do PS. Não é por acaso que, mesmo antes
de tal desgraça acontecer, são várias as vozes de dirigentes e
responsáveis nacionais do PS que já criticaram duramente tal
funesta eventualidade. Espero, pois, que o Senhor Presidente da
República, em cumprimento da tradição democrática dos últimos 39
anos, convide o líder da coligação mais votada para formar
Governo, minoritário que seja. Se a AR decidir, como parece querer
fazer, chumbar esse Governo, que se cumpra a Constituição e se
convoquem novas eleições, logo que os prazos e as regras
constitucionais o permitam.
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