Palavras
para quê?
VASCO PULIDO VALENTE
31/10/2015 - PÚBLICO
O
CDS e o PSD devem ouvir e calar; e sair daquela mascarada dignamente.
O CDS e o PSD vão à
Assembleia da República discutir. O quê e com quem? Não há uma
oposição, há três, que aparentemente tencionam apresentar as suas
particularíssimas razões para rejeitar o Governo. Só por milagre a
coisa não dará numa berraria inútil. E que ganhará a coligação
com isso? Nada. Pelo contrário, compromete de certeza a sua razão e
a sua legitimidade. Não se trata gente como se ela fosse igual,
quando ela não o é. O CDS e o PSD devem ouvir e calar; e sair
daquela mascarada dignamente e sem comentário de espécie alguma. A
esquerda que fique por lá num comício íntimo a repetir o que já
disse em toda a parte. O país que os veja bem sem interrupção e
que tire as suas conclusões. Sem ruído, como quem assiste a um
espectáculo para sua edificação.
E depois com quem ia
a coligação falar? Com o PCP, que ainda ontem repetia pela boca de
Jerónimo de Sousa os lugares-comuns da seita, sem faltar uma
vírgula, e que deu a entender que a sua putativa aliança com o dr.
Costa não tinha outra base, excepto a sua conveniência? Quem pode
adivinhar o que é, ou não é, o verdadeiro interesse dos
trabalhadores, segundo Jerónimo? Anteontem, o Avante! declarou que
sem a “renegociação da dívida” (um eufemismo para não a
pagar) e sem nacionalizações (da banca, claro) os trabalhadores
continuarão na mesma. Será que o PC já explicou isto ao dr. Costa?
Talvez por isso ainda não apareceu o misterioso “papel”, que
Jerónimo acha dispensável e o PS o fundamento da sua política.
Ninguém até agora conseguiu apurar. E como tenciona a coligação
discutir o seu programa sem o comparar com o programa da “esquerda”?
E o Bloco? O que
pensa do mundo essa tresloucada agremiação? Deve ser difícil
descobrir. O Bloco tem seis chefes, tem um porta-voz, tem 3000
profetas e tem três medidas para salvar a Pátria. Para lá disto,
não há mais que nevoeiro e uma inextricável trapalhada. Consta que
parte daquela sociedade se confessa trotskista e outra
marxista-leninista. Não acredito, exactamente como não acredito em
fantasmas, nem que a terapêutica médica persista na sua devoção à
sangria. Verdade que a “esquerda” é um museu, mas não anda por
aí a distribuir antiguidades. E se as distribuir ao CDS e ao PSD não
vale a pena perder tempo com lições de história. O Bloco precisa
de uma creche; e o cidadão sério precisa seriamente de perceber a
brincadeira em curso.
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